Nélida Piñon, primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras, morre aos 85 anos

18/12/22

Por G1

blogfolhaosertao.com.br

A escritora Nélida Piñon em imagem de maio de 2019 — Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

A escritora Nélida Piñon em imagem de maio de 2019 — Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

A escritora e acadêmica brasileira Nélida Piñon morreu aos 85 anos em Lisboa neste sábado (17). Ocupante da Cadeira 30 da Academia Brasileira de Letras (ABL), para qual foi eleita em 27 de julho de 1989, ela foi a primeira mulher a presidir a entidade em 100 anos.

A causa da morte não foi divulgada. Segundo o atual presidente da ABL, Merval Pereira, ela teve problemas nas vias biliares e passou por uma cirurgia de emergência, mas não resistiu.

“É uma perda para a literatura brasileira. Era, provavelmente, a maior escritora viva do país”, disse Pereira em entrevista à Globonews.

De acordo com a ABL, o sepultamento será no mausoléu da entidade, que fará uma Sessão da Saudade no dia 02 de março de 2023, no Salão Nobre, em homenagem à autora. “Nélida foi uma das maiores representantes da literatura brasileira”, afirmou a organização em nota.

Nélida Piñon nasceu no Rio de Janeiro em 1937 e se formou em Jornalismo, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Segundo o site da ABL, ela foi a primeira mulher no mundo a presidir uma academia de letras.

Com mais de 20 livros publicados, suas obras foram traduzidas em mais de 30 países. Entre eles, romances, contos, ensaios, discursos, crônicas e memórias.

Vencedora de dezenas de prêmios, nacionais e internacionais, colaborou em diversos jornais e revistas literárias e foi correspondente no Brasil da revista “Mundo Nuevo”, de Paris.

Nélida Piñon, escritora integrante da Academia Brasileira de Letras

Seu primeiro romance foi publicado em 1961, “Guia-mapa de Gabriel Arcanjo”. Em 1972, lança “A Casa da Paixão”, considerado um de seus melhores e mais conhecidos romances, vencedor do Prêmio Mário de Andrade.

Entre os prêmios ganhos, estão o Prêmio Internacional Juan Rulfo de Literatura Latino-Americana e do Caribe, em 1995 (primeira vez dado a uma mulher e para um autor de língua portuguesa); o Bienal Nestlé, categoria romance, pelo conjunto da obra, em 1991, e o da APCA e o Prêmio Ficção Pen Clube, ambos em 1985, pelo romance “A República dos Sonhos”.

Nélida foi titular da Cátedra Henry King Stanford em Humanidades, da Universidade de Miami, no período de 1990 a 2003 (ocupada anteriormente por Isaac Baschevis Singer, prêmio Nobel de Literatura de 1978).

Em 1998, foi primeira mulher a receber o Doutor Honoris Causa da Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha, 1998.

Reportagem especial sobre Nélida Piñon, primeira mulher presidente da ABL, quando ela completou 80 anos

Reportagem especial sobre Nélida Piñon, primeira mulher presidente da ABL, quando ela completou 80 anos

Nélida foi a quinta ocupante da cadeira 30 da ABL, que tem como patrono Pardal Mallet. Os outros ocupantes que antecederam a escritora foram Pedro Rabelo (fundador), Heráclito Graça, Antônio Austregésilo e Aurélio Buarque de Holanda.

Em janeiro, recebeu nacionalidade espanhola, país pelo qual sempre teve grande proximidade, por causa dos avós galegos.

“Hoje eu sou a brasileira que sempre fui e adicionei, a essa minha maravilhosa nacionalidade brasileira, a nacionalidade espanhola e passo a pertencer à União Européia. Quando penso em Espanha, penso em seus grandes mortos. Cervantes, por exemplo (…) Penso nos meus mortos, no meu avô Daniel, na minha avó Mada, na minha mãe Carmen, no meu amado pai, Lino”, afirmou a escritora na ocasião.

A escritora Nélida Piñon, ocupante da cadeira 30 da Academia Brasileira de Letras — Foto: Divulgação

A escritora Nélida Piñon, ocupante da cadeira 30 da Academia Brasileira de Letras — Foto: Divulgação

Obras

  • 1961: “Guia-mapa de Gabriel Arcanjo” (romance)
  • 1963: “Madeira Feita Cruz” (romance)
  • 1998: “Tempo das Frutas” (contos)
  • 1969: “Fundador” (romance)
  • 1972: “A Casa da Paixão” (romance)
  • 1973: “Sala de Armas” (contos)
  • 1974 “Tebas do Meu Coração” (romance)
  • 1977: “A Força do Destino” (romance)
  • 1980: “O Calor das Coisas” (contos)
  • 1984: “A República dos Sonhos” (romance)
  • 1987: “A Doce Canção de Caetana” (romance)
  • 1994: “O Pão de Cada Dia” (fragmentos)
  • 1996: “A Roda do Vento” (romance infanto-juvenil)
  • 1999: “Até Amanhã, Outra Vez”
  • 1999: “O Cortejo do Divino e outros Contos Escolhidos”
  • 2002: “O Presumível Coração da América” (discursos)
  • 2004: “Vozes do Deserto” (romance)
  • “O Ritual da Arte”, ensaio sobre a criação literária (inédito)
  • 2006: “La Seducción de La Memória”
  • 2008: “Aprendiz de Homero” (ensaios).
  • 2009: “Coração Andarilho” (memórias)
  • 2012: “Livro das Horas”
  • 2016: “Filhos da América”

Prêmios literários

Nacionais:

  • Prêmio Walmap, pelo romance Fundador (1970, Rio de Janeiro);
  • Prêmio Mario de Andrade, da APCA, São Paulo, pelo romance A Casa da Paixão, Melhor Livro do Ano (1973);
  • Prêmio da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), São Paulo, pelo romance A República dos Sonhos, Melhor Livro do Ano (1985);
  • Prêmio Ficção PEN Clube, pelo romance A República dos Sonhos, Melhor Livro do Ano (1985, Rio de Janeiro);
  • Prêmio José Geraldo Vieira (União Brasileira de Escritores de São Paulo), pelo romance A Doce Canção de Caetana, Melhor Romance do Ano (1987);
  • Prêmio Golfinho de Ouro, pelo Conjunto de Obras, oferecido pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro e pelo Conselho Estadual de Cultura (1990);
  • Prêmio Bienal Nestlé, Categoria Romance, pelo Conjunto de Obras (1991, São Paulo);
  • Prêmio Adolpho Bloch, concedido pela Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (19 de nov. 1996);
  • Prêmio de Honra ao Mérito do Rotary Club do Rio de Janeiro (1997).
  • Prêmio Alejandro José Cabassa, da União Brasileira de Escritores, pelo seu livro O Pão de Cada Dia.
  • Prêmio Jabuti – categoria romance – por Vozes do Deserto (2005).
  • Prêmio Jabuti – melhor livro do ano na categoria geral – por Vozes do Deserto (2005)

Internacionais:

  • Uma das dez mulheres homenageadas com o Prêmio Simón Bolívar (Miami, Flórida, maio de 1992);
  • Prêmio Simon Dawidowitz, em Miami, como uma das dez mulheres internacionais do ano (1992);
  • Prêmio Internacional Juan Rulfo de Literatura Latino-Americana e do Caribe (conjunto de obras), Júri integrado por Maria Kodama (Argentina), Raymond L. Williams (Estados Unidos), Abelardo Oquendo (Peru), Jorge Ruffinelli (Uruguai), Julio Ortega (Peru), Amos Segala (Itália), Ciaran Cosgrove (Irlanda), Gérard de Cortanze (França) e Adolfo Castañón (México), determinou, por unanimidade, outorgar pela primeira vez a uma mulher e a um autor de língua portuguesa (México, Guadalajara, Jalisco, 31 de julho 1995);
  • Prêmio Ibero-Americano de Narrativa Jorge Isaacs, de Cali, Colômbia – para conjunto de obra (setembro de 2001). Primeiro autor de língua portuguesa e primeira mulher a receber tal prêmio.
  • Prêmio Rosalía de Castro, para conjunto de obra em língua portuguesa – Galícia, Espanha, concedido pelo PEN Clube da Galícia (maio de 2002);
  • Prêmio Internacional Menéndez Pelayo – entregue em Santander pela Ministra de Educação e Cultura de Espanha (10 de julho de 2003). Primeiro intelectual de língua portuguesa e primeira mulher a receber este prêmio;
  • Prêmio Puterbaugh Fellow, 2004, oferecido pela Universidade de Oklahoma e a revista The World Literature Today (abril de 2004). Primeiro escritor brasileiro a receber esta láurea, concedida anteriormente a Octavio Paz, Carlos Fuentes, Mario Vargas Llosa;
  • Prêmio Príncipe de Astúrias, Letras, indicada por um júri formado por 20 intelectuais espanhóis, presidido pelo Presidente da Real Academia, Don Victor Garcia de La Concha, em Oviedo, Espanha. Entregue pelos Príncipes de Astúrias no dia 21 de outubro de 2005, em Oviedo. A autora chegou às últimas votações do júri ao lado dos escritores norte-americanos Paul Auster e Philip Roth e do israelense Amos Oz. Primeiro escritor de língua portuguesa a receber esta láurea;
  • Prêmio Woman Together, entregue em 3 de abril de 2006 na sede da ONU em Nova York, por sua “implicação na consecução dos Objetivos do Milênio Através do Desenvolvimento da Mulher, a luta contra a pobreza, a educação, a arte e a cultura”;
  • Prêmio Cervantes da Fundação Cervantina de Guanajuato, México (2006);
  • Prêmio Casa de las Americas, Cuba – 2010, pela obra Aprendiz de Homero;
  • VI Prêmio Internacional Terenci Moix de Literatura, Espanha – 2010, na categoria de melhor livro do ano – Corazón Andariego;
  • Prêmio Cátedra Enrique Iglesias, outorgado pelo Banco interamericano de Desenvolvimento – BID, em 2013;
  • Prêmio El Ojo Crítico Iberoamericano, outorgado pela Rádio Nacional de Espanha, em 2015.

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