Pesquisadora e microbiologista disse aos senadores em depoimento à CPI que o comportamento do presidente Jair Bolsonaro “induz as pessoas a comportamentos de risco” durante a pandemia
Em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, nesta sexta-feira (11/6), a pesquisadora e microbiologista Natalia Pasternak afirmou que o negacionismo à ciência observado durante a pandemia no Brasil, a exemplo do incentivo de medicamentos sem eficácia contra a doença, “é uma mentira orquestrada pelo governo federal e pelo Ministério da Saúde”. Natalia, que foi muito atuante durante a crise sanitária, divulgadora de diversas informações científicas pelas redes sociais e veículos de comunicação, foi convidada a falar sobre pesquisas em relação à covid-19 na comissão ao lado do médico Cláudio Maierovitch, ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Isso é negacionismo, senhores. Isso não é falta de informação. Negar a ciência e usar esse negacionismo em políticas públicas não é falta de informação, é uma mentira e, no caso triste do Brasil, é uma mentira orquestrada, orquestrada pelo governo federal e pelo Ministério da Saúde. E essa mentira mata, porque ele leva pessoas a comportamentos irracionais, que não são baseados em ciência”, disse.
A fala da pesquisadora se deu num contexto de explicação sobre a ineficácia da cloroquina em pacientes com covid-19. Ela citou uma série de estudos feitos ao longo da pandemia, mostrando que o medicamento funciona apenas in vitro — ou seja, nos laboratórios. Quando os estudos são feitos em células do trato respiratório de animais e de humanos, já não funciona.
“Ela nunca teve plausibilidade biológica para funcionar. O caminho pelo qual ela bloqueia a entrada do vírus na célula só funciona in vitro, em tubo de ensaio, porque, nas células do trato respiratório, o caminho é outro. Então, ela já nunca poderia ter funcionado”, explicou. E completou: “Não funciona em camundongos, não funciona em macacos, e também já sabemos que não funciona em humanos. Senhores, a cloroquina já foi testada em tudo. A gente testou em animais, a gente testou em humanos. A gente só não testou em emas porque as emas fugiram, mas, no resto, a gente testou em tudo, e não funcionou”.
Pasternak fez referência ao animal em alusão a uma foto do presidente Jair Bolsonaro, no Palácio da Alvorada, “oferecendo” uma caixa de cloroquina a uma ema. Bolsonaro é um grande defensor do uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra covid-19, como cloroquina e ivermectina. O presidente também não segue as medidas sanitárias, como uso de máscara e distanciamento social. Bolsonaro reduziu a gravidade da doença ao longo de toda a pandemia, colocando em xeque a eficácia das vacinas contra a doença.
Negacioismo mata
Natalia frisou que a questão em relação ao negacionismo não é apenas para a cloroquina. “A cloroquina aqui é apenas um exemplo. Isso serve para o uso de máscaras, isso serve para o distanciamento social, isso serve para a compra de vacinas que não foi feita em tempo para proteger a nossa população. Esse negacionismo da ciência perpetuado pelo próprio governo mata”, disse.
A pesquisadora também criticou a postura do presidente, dizendo que ele é a autoridade suprema do país, e que seu comportamento induz as pessoas a comportamentos de risco. “As pessoas acreditam nele. Quando aparece sem máscara, desdenhando a pandemia, mostrando falta de empatia com o luto dos brasileiros, ele ilude as pessoas. Isso faz com que as pessoas assumam comportamento de risco. Comunicação é essencial e negacionsimo mata”, disse.
Confira o depoimento ao vivo: