27/10/21
Bruno Vinicius/Emannuel Bento
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Embora fizesse parte dos grupos estabelecidos pelo Ministério da Saúde, o artista optou por não tomar as doses da vacina contra a doença
Lailson de Holanda Cavalcanti – Foto – Reprodução/Facebook
Faleceu na madrugada desta terça-feira (26), aos 68 anos, o cartunista, chargista e desenhista Lailson de Holanda Cavalcanti, em decorrência da covid-19. Após apresentar sintomas da doença, o artista deu entrada em um hospital particular do Recife no último dia 17 de outubro. Três dias depois, em uma piora no quadro respiratório, Lailson foi intubado na Unidade de Terapia Semi-intensiva. Embora fizesse parte dos grupos estabelecidos pelo Ministério da Saúde, o artista havia optado por não tomar as doses da vacina contra a doença. A cremação será realizada no Memorial dos Guararapes, em Jaboatão, às 16h, com limitação de até no máximo 15 pessoas. As informações são de familiares.
Lailson começou a sentir sintomas gripais em 15 de outubro. Em seguida, queixou-se de um forte cansaço. Ele chegou a ir na emergência e recebeu um diagnóstico de princípio de pneumonia. O cartunista continuou se tratando em casa, mas teve dificuldade de se alimentar e a internação ocorreu no domingo seguinte. Apesar de não ter tomado a vacina, ele mantinha uma vida social ativa e frequentava, por exemplo, a academia.
Na tarde desta terça, a filha Isabela de Holanda publicou no Facebook do artista: “Queridos amigos e amigas, infelizmente trago notícias tristes. Meu pai partiu nessa madrugada. Vou sempre guardar seu sorriso e bom humor no meu coração. Ele era um homem íntegro, que buscava a justiça, a verdade e a bondade. Lembrarei de cada comentário, de cada sarcasmo e piada “infame”. De cada música e acorde que aprendi. Que Deus guarde meu pai num lugar lindo, cheio de amor e alegria, como ele. Agradeço a todos vocês pelas orações e mensagens de força. Que Deus abençoe a cada um!”.
Sobre o artista
Nascido no Recife, Lailson cresceu no bairro do Espinheiro e começou a publicar suas primeiras charges quando estudou nos Estados Unidos, assinando no jornal escolar do The Pine Cone, no Arkandas. Foi quando ele também recebeu o seu primeiro prêmio: o Award for Best Original Artwork, dado pelo Arkansas High School Press Association.
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De volta ao Brasil, trabalhou como professor de inglês para brasileiros e de português para estudantes de intercâmbio do Antioch College. Antes de dedicar-se totalmente ao desenho, chegou a fundar a banda Phetus, que teve entre seus integrantes o guitarrista Paulo Rafael, falecido em agosto deste ano, e o flautista Zé da Flauta.
Nessa fase, o cartunista também marcou a história da música pernambucana. Em 1973, gravou com Lula Côrtes o disco instrumental “SATWA”, raridade entre colecionadores e considerado o marco inicial da psicodelia pernambucana. Contudo, decidiu seguir o caminho das charges – em vida, ele dizia que viver de música era muito difícil naquela época.
Lailson de Holanda estreou na imprensa pernambucana em 1975, no Jornal da Cidade. No ano seguinte, foi um dos fundadores da página de humor (depois, jornal alternativo) “O PAPA-FIGO”, no Jornal da Semana, ao lado de nomes como Paulo Santos, Ral e Bione, um grupo que início ao movimento de humor nos quadrinhos pernambucanos dos anos 1970.
Desde então, colaborou para veículos do Brasil e do mundo, como Pasquim, MAD (edição brasileira), Revista Visão, Veja 28 Graus, KYX 93, Rei da Notícia, Florida Review, O Europeu, Der Stern, The Guardian, Revista Bundas, Revista Palavra e O Pasquim 21, além de ser editor de arte de agências de publicidade de Pernambuco. Chegou a ser membro fundador da Associação dos Cartunistas do Brasil, sendo ainda primeiro presidente (2001/2004) da Associação dos Cartunistas de Pernambuco – ACAPE.
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Além de sua atividade como chargista, continuou sendo músico e compositor, tendo participado das bandas como Blusbróders, A Garagem e The Lailson Blues Band e Lailson & Friends. Em 2011, lançou o CD da ópera pop “NASSAU”, composta por ele e por Fábio Valois.
Perdas da cultura pernambucana na pandemia
A morte de Lailson de Holanda Cavalcanti entrou para o quadro das perdas da cultura pernambucana durante a pandemia. Clique aqui para relembrar outras perdas do período.
Resgate da obra pela Rozenblit
Desde o ano passado, a Rozenblit – gravadora que impulsionou a psicodelia pernambucana – tem publicado os discos produzidos por ela, dentre eles, alguns com participação de Lailson. Grande parceiro do cartunista, Lula Côrtes terá um novo álbum no streaming a partir desta sexta-feira (29). Já Flaviola, outro integrante do movimento psicodélico pernambucano, teve seu disco divulgado na semana passada. Assim como Lailson, ele também faleceu por covid-19.