Invenção brasileira pode salvar os jumentos da extinção

03/11/25

Pesquisadores da UFPR desenvolvem colágeno de jumento em laboratório por fermentação de precisão, alternativa sustentável ao ejiao chinês e esperança para salvar espécie símbolo do Nordeste.

Pesquisa brasileira desenvolve colágeno sintético para substituir o ejiao e evitar o abate de jumentos, símbolo cultural do Nordeste.
Pesquisa brasileira desenvolve colágeno sintético para substituir o ejiao e evitar o abate de jumentos, símbolo cultural do Nordeste. Crédito: Creative Commons

Símbolos culturais e parte da identidade do Nordesteos jumentos — ou jegues, como são popularmente conhecidos — estão em risco de desaparecer no Brasil. Adaptados ao clima semiárido e essenciais na história da região, esses animais vêm sendo vítimas de um comércio cruel impulsionado pela demanda internacional pelo ejiao, produto tradicional da medicina chinesa feito a partir do colágeno extraído da pele de jumentos.

De acordo com a BBC, a alta procura por ejiao já levou os jumentos africanos à beira da extinção. A situação se agravou quando, em 2024, os países da União Africana proibiram o comércio de peles desses animais, levando a China a buscar novos fornecedores — entre eles, o Brasil.

O problema é que a população de jumentos brasileira já havia despencado em 94% nas últimas décadas. A espécie Equus asinus, trazida ao país em 1534 por Martim Afonso de Souza, prosperou no Nordeste por séculos, mas foi substituída por motocicletas nos anos 1990. Desde então, o número de animais caiu drasticamente, agravado pelo abate em massa: entre 2018 e 2024, 248 mil jumentos foram mortos na Bahia, segundo a ONG The Donkey Sanctuary.

Colágeno sintético pode ser solução

Em meio a essa crise, uma equipe da Universidade Federal do Paraná (UFPR) busca uma saída inovadora e ética. Ospesquisadores estão desenvolvendo um colágeno idêntico ao do jumento, mas produzido em laboratório, sem necessidade de abate. O processo utiliza a fermentação de precisão, técnica de biotecnologia que insere o DNA do animal em microrganismos geneticamente modificados para reproduzir a proteína desejada.

“O colágeno é o mesmo, mas obtido sem crueldade”, explica a pesquisadora Carla Molento, do Laboratório de Zootecnia Celular da UFPR. A cientista ressalta que, na prática, o método substituiria a extração do colágeno da pele dos animais pela purificação da proteína produzida em biorreatores.

“Continuaremos tendo um produto para exportação, mas sem dizimar nossos animais e com impacto ambiental muito menor”, afirma Molento.

Caminho longo e necessidade de apoio

Apesar do potencial transformador, o desenvolvimento da tecnologia ainda está em fase inicial. O projeto recebeu R$ 500 mil em investimentos, valor considerado insuficiente para acelerar a pesquisa. Além de ampliar o financiamento, os cientistas defendem medidas complementares, como um censo nacional de jumentos e políticas públicas específicas de proteção.

Enquanto a ciência busca soluções sustentáveis, o tempo corre contra uma das espécies mais emblemáticas do sertão. A inovação brasileira pode representar não apenas um avanço biotecnológico, mas também a última esperança de preservar um símbolo vivo da cultura nordestina.

Referências da notícia

BBC. A corrida contra o tempo para salvar o jumento da extinção. 2025

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