Violência: PM é indiciado por atirar em trabalhador, que ficou cego, no ato contra Bolsonaro no Recife

29/10/21

Por Rafael Guerra

blogfolhadosertao.com.br

Ação violenta de policiais militares contra manifestantes completa cinco meses nesta sexta-feira (29)

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Jonas França, 29 anos, voltava para casa quando passou bem perto do Batalhão de Choque e acabou atingido – Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem

Após cinco meses de investigações, a Delegacia da Boa Vista indiciou o policial militar do Batalhão de Choque suspeito de disparar o tiro de elastômero (bala de borracha) que deixou cego o arrumador de contêineres Jonas Correia de França, de 29 anos. A vítima passava próximo a uma manifestação pacífica contra governo do presidente Jair Bolsonaro, na área central do Recife, quando foi atingida. Reinaldo Belmiro Lins foi indiciado por lesão corporal gravíssima e omissão de socorro. Ele responde em liberdade.

A pena para o primeiro crime, em caso de condenação, pode chegar a oito anos de prisão. Já para o segundo, é de até seis meses de detenção e multa arbitrada pela Justiça. A conclusão do inquérito já foi remetida ao Ministério Público de Pernambuco, segundo a Secretaria de Defesa Social (SDS).

O policial está afastado das atividades cautelarmente, com recolhimento de armamento e carteira funcional, por determinação do secretário de Defesa Social, Humberto Freire. O terceiro sargento também responde a Processo Administrativo Disciplinar (PAD) na Corregedoria, correndo o risco de ser expulso da corporação.

A ação desastrosa da PM contra manifestantes aconteceu em 29 de maio deste ano. Além de Jonas, que perdeu a visão do olho atingido, o adesivador Daniel Campelo, 51, também passava pela manifestação e acabou atingido e ficou cego do olho esquerdo. A SDS informou que este inquérito ainda está em andamento, porque faltam diligências finais. Não foi informado se o policial envolvido na lesão da vítima foi identificado.

Durante a ação, a vereadora Liana Cirne (PT) foi atingida no rosto por spray de pimenta ao tentar negociar com policiais militares do Batalhão de Radiopatrulha, na Ponte Santa Isabel. Esta investigação foi concluída pela Polícia Civil, mas a SDS não revelou o resultado, sob a alegação de que o caso está sob segredo de Justiça.

Por causa da truculência, 16 policiais militares (três oficiais e 13 praças) foram identificados e afastados das atividades nas ruas. Todos continuam respondendo a processos administrativos e podem sofrer penalidades. Com exceção do suspeito de atirar em Jonas, os outros 15 estão prestando serviços administrativos em suas unidades de lotação. Os nomes não foram divulgados pela pasta.

Segundo a SDS, a Corregedoria Geral, por meio da Comissão Processante, finalizou dois dos sete PADs. Os dois relatórios concluídos estão em análise pelo corregedor militar. Dos outros cinco, um está em fase final de elaboração de relatório; um está aguardando parecer da junta médica, a pedido da defesa; um está em fase de alegações finais, com pedido de vistas pela defesa; e dois estão em fase de oitiva das testemunhas.

EXONERAÇÕES

Três dias após a ação da PM, o então comandante geral da corporação, Vanildo Maranhão, foi exonerado. No seu lugar, ficou o coronel José Roberto Santana. A saída de Maranhão se deu em meio aos depoimentos que apontaram ele como o responsável por dar a ordem de ação dos policiais contra os manifestantes, mesmo com o ato ocorrendo de forma pacífica, conforme documento revelado em primeira mão pela coluna Ronda JC. Vanildo nunca veio a público dar sua versão sobre o caso. Ele foi transferido para a reserva remunerada.

Dias depois, o delegado federal Antônio de Pádua, até então secretário estadual de Defesa Social, também foi exonerado do cargo. Humberto Freire, até então secretário adjunto, assumiu a titularidade da pasta.

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