Sertanejo: Médico Antonio Valadares lança hoje (24) romance na Academia Pernambucana de Letras

24/0/24

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O médico pernambucano natural de São José do Egito, no Sertão do Pajeú, Antônio Valadares, lança, hoje (24) às 18h30, na Academia Pernambucana de Letras, no Recife,  o seu mais novo romance.

Intitulado de “No Sertão e na Selva”, a obra é baseada em suas experiências como proprietário da Fazenda Santa Cruz, no município de Buriticupu, no Maranhão.

 

Pelas quebradas do mundo

Prefácio de Ivanildo Sampaio *

São José do Egito, município as margens do lendário rio pajeú no alto sertão de Pernambuco, ganhou fama e projeção como berço da poesia, como a terra dos cantadores e violeiros mais famosos do país, a começar pelo lendário Antônio Marinho, seguindo-se a ele os admirados irmãos Batista – Lourival Batista, Dimas e Otacílio –
sendo o primeiro deles o celebre ¨Louro do Pajeú¨. Mas, nem só dos irmãos Batista a poesia ali prosperou: são filhos do mesmo chão, Rogaciano Leite, admirado sonetista e jornalista, que se notabilizou em Fortaleza – Ceará, onde dá o nome a uma importante avenida. Dirceu Rabelo; Paulo Cardoso e João Batista de Cerqueira – sonhador e lírico
muito mais conhecido como ¨Poeta cancão¨.

Se estes foram pioneiros e fizeram história, muitos outros das novas gerações seguiram o mesmo caminho, uniram voz e viola, caminham sorrindo e cantando pelo mundo do improviso e da poesia. Antônio Valadares, médico e ¨egipsiense¨ que nunca negou a origem nem abraçou uma viola, escolheu a prosa e a ficção para nelas navegar o seu talento.

Chama-se ¨No sertão e na selva¨ este primeiro romance de Antônio Valadares, construído em muitos cenários, com a presença de personagens emblemáticos e tortuosos – algumas vezes para o bem, outras tantas para o indefinido, numa história de  vários contextos, que simplesmente desfilam pelo caleidoscópio da vida e as fronteiras
sem limites do mundo. Nessa narrativa de Antônio Valadares, o leitor vai caminhar pelo interior desconhecido do Maranhão, onde o verde exuberante da Amazônia abre as portas para receber os que chegam com o suor e o cheiro do sertão Nordestino; vai conviver com personagens marcantes e envolventes – vai acompanhar a rota tortuosa
percorrida por Cláudio, com seus medos e sua insegurança – até porque a vida para ser vivida não é feita só de coragem e autoconfiança.

Em alguns episódios da história, o autor lança mão de um linguajar mais ¨rasteiro¨ e mais coloquial; mas estes personagens são seres humanos que, se falam palavrões, também rezam e pedem proteção a Deus; choram, riem, sofrem, tem dias de alegria e outros de tristeza – são vulneráveis diante das grandezas e das misérias do mundo.
— ¨Ela fazer isso comigo não é normal, não é de sua natureza, é uma atitude de revide pelas mágoas que sofreu, por vingança. Acho que ela ainda me ama, mas agora, com esse casamento, não tenho mais chances; vou perdê-la para sempre¨ …

Quem já não ouviu, de um amigo, um parente, um conhecido, um lamento como esse, de Cláudio, personagem simbólico da história? Antônio Valadares criou personagens fortes, determinados, controversos, que trafegam nas suas idas e vindas ao longo da história com uma permanente indefinição para o dia de amanhã. Porque, como diz um
velho refrão da sabedoria popular, ¨o futuro a Deus pertence¨. No caso de Antônio Valadares, o futuro não fará dele um poeta, como os seus conterrâneos mais notáveis. No entanto, não há dúvidas de que o Sertão do Pajeú tem no seu acervo um novo romancista.

Em Pernambuco, mais um médico-escritor, como foram Waldênio Porto e José Nivaldo; Rostand Paraíso e Geraldo Pereira, Amaury Medeiros e Reynaldo Oliveira, todos eles acadêmicos e grandes profissionais da medicina; que também se notabilizaram pelo talento como mestres da prosa, da escrita, da criação literária. Eis aí uma bela história para ser compartilhada.

* Ivanildo Sampaio é jornalista

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