Artigo: “O que Medellín tem a ensinar ao Rio”

01/04/24

PACTO PELO RIO

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Por Murilo Cavalcanti  *

 

 

Há saída para a crise de (in) segurança no Rio de Janeiro – ela está no aeroporto do Galeão. A cidade do Recife entendeu, desde 2013, que se inspirar em iniciativas exitosas de prevenção e combate à criminalidade é um caminho muito mais efetivo do que simplesmente apostar na repressão policial violenta. Viajamos o mundo.

Aterrisamos em Medellín, na Colômbia. Fomos aprender com quem tem feito bem feito. Para quem não sabe, Medellín já foi a cidade mais violenta do mundo. Nos anos 1980 e 1990, estava entregue às gangues urbanas, aos narcotraficantes, a grupos armados e milicianos, algo parecido com o que vive o Rio atualmente em suas áreas pobres e periféricas.

A partir da filosofia do jornalista Armando Nogueira, que dizia que “copiar o bom é melhor que inventar o ruim”, os governos estadual e municipal do Rio de janeiro deveriam alugar uma aeronave grande, adesivá-la com letras garrafais: “Pacto pelo Rio: voo da união, da cidadania e da esperança” e partir para uma viagem de trabalho em Medellín, que deixou de ser a mais violenta para se transformar na cidade mais inovadora do mundo.

Nesta viagem, as equipes do governo estadual e da prefeitura da capital carioca poderão aprender como estruturar uma nova polícia, que respeita os direitos da população. Que tanto a vida do policial como a do morador da favela são preciosas. Que o urbanismo social é um instrumento poderoso para reduzir as distâncias físicas, éticas e morais entre a cidade formal (com direito a tudo) e a cidade periférica (sem direito a nada). Medellín vai ensinar a esta delegação que territórios vulneráveis precisam mesmo é de arte-educadores, escolas públicas de primeiro mundo e equipamentos de convivência como a Rede Compaz do Recife, capazes de formar cidadãos para o mundo.

Esta delegação voltará ao Brasil movida por outros valores, entre eles: 1) a vida é o valor máximo e não há uma só ideia ou propósito que justifique o uso da violência; 2) o contrário de insegurança não é polícia – é conveniência; 3) toda obra física precisa de conteúdo e resultado social; 4) é preciso acabar definitivamente com a lógica perversa de fazer obra pobre para quem é pobre. Ética e estética precisam caminhar juntas nos territórios vulneráveis; 5) não podemos transformar em justiça penal as injustiças sociais; 6) para entrar com projetos em comunidades pobres, o primeiro passo é ouvi-las; 7) o papel do governante não é tornar todos iguais nas cidades, mas gerar oportunidades iguais para todos; 8) o dinheiro público é sagrado, e o cidadão trata o estado como o estado o trata; 9) para se intervir em um território vulnerável é necessário conhecer sua geografia física, humana e social; 10) segurança pública não é de esquerda, de centro ou direita. É um direito do cidadão.

Nem só polícia, nem apenas projetos educativos. Medellín nos ensinou que a solução para a violência está na implantação de iniciativas que entregam educação, lazer, cultura, esportes e serviços à população. Mas a lição mais importante a ser aprendida com a cidade colombiana chama-se DECISÃO POLÍTICA. É preciso decidir pela paz, não importa se a popularidade do governante está em jogo. A vida agradece.

*Murilo Cavalcanti é Secretário de Segurança Cidadã do Recife, diretor da Rede Compaz e autor do livro Conexão Recife, Medellin, Compaz.

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