22/07/22
Concessão de parque, modelo do evento e verbas destinadas pela Empetur estão entre os motivos do desentendimento; programação conta com Wesley Safadão, João Gomes e muito mais
TRADIÇÃO Celebração idealizada por João Câncio ocorre desde a década de 1970, em homenagem a Raimundo Jacó, vaqueiro que foi assassinado e era primo de Luiz Gonzaga – FOTO: BETO FIGUEIRÔA/DIVULGAÇÃO
Maior evento religioso e profano do Sertão Nordestino, a Missa do Vaqueiro de Serrita retorna neste final de semana após dois anos sem realização por conta da pandemia. A 52ª edição, no entanto, está cercada de polêmicas.
Existem diversas discordâncias entre a Fundação João Câncio, representada por Helena Câncio, viúva do fundador da missa, e a Prefeitura de Serrita, que realiza o evento presencial pela primeira vez em convênio com a Empetur, do Governo de Pernambuco.
Viúva alega falta de comunicação e pagamento
A Fundação, que organiza a Missa desde 2001, afirma que a Prefeitura decidiu tomar para si, unilateralmente, a realização do evento. Helena Câncio diz que teve de conseguir uma liminar que lhe deu o direito de integrar a sua programação artística (oriunda de emenda parlamentar) à grade da Prefeitura.
A Missa do Vaqueiro já tinha a realização de shows em paralelo ao rito religioso, mas nunca na proporção da edição de 2022. Entre quinta-feira (21) e domingo (24), a programação inclui nomes como Wesley Safadão, João Gomes, Limão com Mel, Tierry, Raí Saia Rodada e Cavaleiros do Forró – num modelo que lembra as grandes festas de São João do interior (programação completa no final da reportagem).
O governo estadual também cedeu o Parque Estadual João Câncio para a Prefeitura de Serrita em uma concessão de 10 anos.
Foto: Filipe Jordão/JC Imagem Data: 5-6-2019 Assunto: Helena Câncio – A Missa do Vaqueiro, conhecida pela tradicional festa que ocorre em Serrita, no Sertão do estado, chega pela primeira vez no Recife. Marcada para o próximo dia 16 de junho, o evento vai contar com procissão de vaqueiros a cavalo, que vão percorrer as pontes da cidade em direção ao Cais do Sertão. A celebração religiosa e cultural faz parte das homenagens prestadas aos 30 anos da morte de Luiz Gonzaga e do padre João Câncio, o projeto intitulado Tengo Lengo Tengo, inclui ainda uma exposição sobre a temática sertaneja. Palavras Chaves: Sertão – Exposição – Arte – Cultura – Missa – Vaqueiro ## – FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
“O Parque é do Estado hoje pois era uma vontade de João Câncio e de Luiz Gonzaga de que esse pedaço de terra fosse desmembrado da fazenda. Fomos pegos de surpresa com um comodato ao município, sem nós termos sido consultados”, diz Helena Câncio.
“Entendo que, pelo trabalho que temos, do legado de João Câncio e de Luiz Gonzaga, era para nós sermos ouvidos. A gente leva esse trabalho há 20 anos, mas eles fizeram absolutamente tudo sem nos consultar”, reclama.
Helena diz que, até a pandemia chegar, a Fundação tinha um convênio de R$ 500 mil com o governo para custear o evento. O valor da edição de 2019, no entanto, ainda não teria sido pago. “Agora foi liberado, segundo eu li, cerca de R$ 2 milhões para arrumar o parque e para contratar a grade artística”.
Para além de questões financeiras e do uso do Parque, existe uma visão antagônica sobre o próprio modelo da festa. Helena acredita que o foco da Missa do Vaqueiro deveria ser o rito religioso, e não atrações nacionais.
ENTUSIASTA Luiz Gonzaga, à esquerda na foto, divulgou a Missa do Vaqueiro e financiou as primeiras edições – ACERVO JC IMAGEM
“Acho que a cultura não é algo do município, nem minha. Não é de ninguém. Ela pertence ao povo, sendo inegociável. Ela não foi junto com esse comodato. Quem fez o primeiro resgate dessa tradicionalidade foi João Câncio, com quem fui casada”.
A Missa do Vaqueiro foi criada na década de 1970, quando João Câncio liderou a realização do rito para homenagear um vaqueiro assassinado misteriosamente cinco anos atrás. O vaqueiro, Raimundo Jacó, coincidentemente era primo de Luiz Gonzaga.
Comovido pela morte do parente, o músico da cidade de Exu financiou as primeiras edições da missa e foi um dos responsáveis pelo seu apelo midiático.
O que diz a Empetur sobre o convênio com a Prefeitura de Serrita
PERNAMBUCO Empetur quer a B3 para consultoria no processo licitatório – FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Relatório apresenta irregularidades da empresa que administra o estacionamento – ACERVO JC IMAGEM
Ex-dirigentes terão que devolver mais de R$ 1 milhão aos cofres públicos – JC Imagem
Procurada pela reportagem, a Empetur esclareceu que “aguarda a conclusão da prestação de contas pela associação responsável pela realização da Missa do Vaqueiro em 2019 para que seja efetuado o pagamento do convênio”.
“O atraso na entrega de documentos e notas fiscais da época da realização do evento é o principal entrave para que seja efetuado o pagamento e também para que seja firmado novo convênio para a edição de 2022”, diz a nota.
Helena Câncio diz que a prestação de contas não foi feita pela falta de pagamento. “Eles me pediram uma prestação de contas de 2019 no final de 2021. Mas como eu vou fazê-la se não recebi? Eles querem que eu emita notas de 2019, mas isso é impossível. Em primeiro lugar, eu não sabia que essa prestação antecipada constava do convênio. Nunca houve isso”, diz.
A lista de pedidos da Empetur à associação, compartilhada pela própria Helena, pede “notas fiscais ou faturas, com os devidos recibos, sendo pagos ou não, nas suas vias originais”.
Apesar de não ter as notas fiscais, ela afirma que entregou todas as outras solicitações da prestação, como fotografias, vídeos e matérias veiculadas na imprensa.
Prefeitura de Serrita nega falta de diálogo sobre a Missa
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Serrita afirmou que o diálogo com a Fundação João Câncio “aconteceu, acontece e sempre vai acontecer”. “Pode ser que a comunicação desafine em alguns momentos, porque o parque passa a ser municipal, então fizemos mudanças estruturais”, diz Francisco Marcelo Lopes, da secretário de comunicação social do município.
“No entanto, existe uma falha de compreensão do fato de que o município não é somente responsável por organizar a estrutura física, mas também a parte cultural, como um pacote completo. Isso está nos próprios objetos do termo de cessão e uso do parque”, continua.
“A Fundação talvez tenha uma dissonância de compreender que o evento do dia de domingo é da parte deles. O evento litúrgico e sacramental é um ato que está a cargo da Fundação João Câncio. Já o evento como um todo compete ao município. O que vai ocorrer no domingo, como o show do João Gomes e tudo mais, não tem nada a ver com o Fundação.”
O objetivo de “engrandecer” o evento Missa do Vaqueiro já era uma promessa da atual gestão desde o período de campanha, diz o secretário.
“O termo de cessão e uso do parque tem 10 anos e também podemos gastar recursos municipais na manutenção, para que o espaço tenha condições de receber turistas e os próprios vaqueiros. Também mantivemos atrações culturais de ‘raiz’ no palco principal e um alternativo, que fica na área do camping”, informa Francisco.
Polêmicas acerca o ‘camping’ do evento
Outra questão que chegou a causar polêmica nas redes foi a decisão da Prefeitura de cobrar diárias que chegam a R$ 200 (por automóvel) no camping do evento. Antes, os valores cobrados eram simbólicos.
– Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem
– Foto:Alexandre Severo/AcervoJC Imagem
O secretário argumenta que antes as taxas cobradas eram mais baratas (R$ 50 para carros e R$ 100 para ônibus), mas existiam taxas extras de banheiro e banho. “Esse ano adotamos um sistema liberal. Com uma pulseira você consegue ter acesso ao banheiro e ao banho”, diz.
“Fizemos cercamento novos, reformamos banheiros, estamos colocando um novo sistema hidráulico novo no parque, além de uma cisterna de 16 mil litros com bombeamento automático”, diz. As taxas, segundo ele, seriam usadas para custear essas reformas. “E talvez nem custeie tudo”.
Helena Câncio ainda não havia visitado o Parque quando falou com a reportagem. “Soube que está muito bonito. Afinal, com dinheiro se consegue fazer tudo, ou quase tudo”, finaliza a viúva.
Programação da 52ª Missa do Vaqueiro
Quinta-feira (21), das 13h às 4h
João Cláudio Sá
Caio Sidrim
Fábio Carneirinho
Memel Carvalho
Wesley Safadão
César Menotti e Fabiano
Joãozinh do Exu
Sexta-feira (22), das 19h às 4h
Erika Diniz
Ranieri
Limão com Mel
Tierry
Toca do Vale
Paulo Sampaio
Sábado (13), das 19h às 4h
Francisco Dantas
Edgar do Cedro
Targino Gondim
Cavaleiros do Forró
Flávio Leandro
Raí Saia Rodada
Fulô de Mandacaru
Domingo (24), a partir das 13h30
Gival Silva
Xote Federal
Forró Kapricho
Luan Cardoso
Douglas Parente
John John
Lukas Bass
João Gomes (de 21h)
Excelentes matérias, me mantém informada todas as manhãs. Muito meu amigo Machado Freire, por sempre lembrar de me enviar as matérias do dia. Um trabalho maravilhoso e de confiança para a população.