13/07/21
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Por Ricardo Leitão*
A 15 meses da eleição presidencial de outubro de 2022, Jair Bolsonaro se depara com más notícias: o que resta de apoio ao seu desgoverno está derretendo. Pesquisas do Datafolha, um dos mais acreditados institutos de sondagens de opinião do país, constataram que os índices de aprovação do presidente, e de sua gestão, mergulharam em um buraco fundo.
Segundo o Datafolha, 51% dos entrevistados consideram o desgoverno Bolsonaro ruim ou péssimo. O índice só é melhor do que o de Fernando Collor, que às vésperas do impeachment enfrentava desaprovação de 68%. Segue o desabamento: 52% consideram Sua Excelência desonesto; 55% falso; 58% incompetente; 62% despreparado; 66% autoritário; 57% indeciso; 66% defensor dos ricos e, para 57%, pouco inteligente.
Os números são desastrosos. Com eles, Bolsonaro não se elegeria sentinela de galpão de vacinas na fronteira com a Bolívia. Ou mesmo síndico no condomínio onde mora Henrique Queiroz, mestre em “rachadinhas” e seu dileto amigo. Pior: quem sabe ler pesquisas e observa o horizonte do Brasil tomado por crises aposta que não há mais tempo de superar o caos e recolocar de pé o seu projeto de reeleição.
Agora, não são apenas o crescimento do desemprego e da inflação, o escândalo das queimadas nas florestas e a tragédia humanitária da pandemia. A tudo isso se soma a corrupção na aquisição de vacinas pelo Ministério da Saúde, a cada dia mais comprovada pela CPI da Covid do Senado – que, controlada pela oposição, fere fundo o desgoverno.
O comportamento estúpido do presidente da República acusa a sangria. Se derrete o apoio popular, como vai se sustentar o projeto da reeleição? Sua base no Congresso, o Centrão, é extremamente pragmática e segue o perfume dos que tenham condições de conquistar ou manter o poder. Ao que se sabe, as Forças Armadas e o grande empresariado não teriam motivos de se vincular a um candidato que ameaça com um golpe, caso derrotado. Acuado e sem saídas, Bolsonaro está ficando mais desequilibrado, enquanto a lama da corrupção das vacinas começa a sujar seus coturnos. Negacionista como sempre, acredita que ainda há tempo para se recuperar.
No entanto, há quem acredite que Sua Excelência se tornou um estorvo e, se nada for feito com urgência, a esquerda retomará o poder em 2022. Formam um grupo de centro-direita e de direita não bolsonarista, que tenta viabilizar uma candidatura capaz de quebrar a polarização Lula x Bolsonaro em 2022. Para eles, esse seria o confronto mais fácil para Lula, que poderia vencer o pleito no primeiro turno.
O grupo não tem condições de impedir a candidatura de Lula. Porém, reuniria condições de lançar uma candidatura que nascesse no centro, em condições de atrair eleitores da “direita democrática”. Para tanto, teriam de retirar Bolsonaro da disputa. Como, dentro das regras democráticas?
A ideia do impeachment começa a tomar corações e mentes. Com pressão das ruas e articulação política no Congresso haverá tempo. A ABI e a OAB pediram o impeachment de Fernando Collor em 1º de setembro de 1992 e no dia 30 de dezembro ele foi afastado do cargo pelo Senado. No caso de Dilma Rousseff, em decorrência de recursos ao Supremo Tribunal Federal, o processo foi mais longo: iniciou em 11 de abril de 2016 e terminou em 11 de agosto do mesmo ano. Aberto um processo contra Bolsonaro, ele seria acusado de crime de responsabilidade, fundamentado principalmente nas descobertas da CPI da Covid.
Iria se estabelecer então inusitada e temporária aliança: esquerda, centro e um segmento da direita mobilizados para derrubar o presidente do país do poder, para só depois medirem suas diferenças nas urnas do próximo ano. É uma tentativa arriscada, há muitas circunstâncias envolvidas. Entretanto, valerá. Trata-se de um dever impedir, com a força do voto, a permanência de Bolsonaro, por mais temíveis quatro anos, no Palácio do Planalto.
*Ricardo Leitão é jornalista