Morre a atriz e diretora Geninha da Rosa Borges, aos 100 anos

23/06/22

Romero Rafael
Artista fez-se dama do teatro pernambucano, com décadas da vida dedicadas à atuação e às coxias dos teatros
DAYVISON NUNES/ACERVO JC IMAGEM
VIVA, GENINHA Atriz, vista em foto de 2015, é o nome máximo vivo do teatro pernambucano – FOTO: DAYVISON NUNES/ACERVO JC IMAGEM

teatro e a cultura de Pernambuco se entristecem, nesta quinta-feira (23), com a morte de Geninha da Rosa Borges. A atriz e diretora faleceu em casa, na Zona Norte do Recife, e deixa quatro filhos mais um legado bastante estimado, e inestimável, para as artes. A artista havia completado 100 anos de vida na última terça-feira (21), quando fez-se um movimento nas redes em homenagem a ela.

De acordo com a família, Geninha da Rosa Borges sentiu falta de ar na quarta-feira (22). Uma médica da família examinou a atriz e apontou tratar-se de um problema nas vias respiratórias.

O corpo de Geninha da Rosa Borges será velado nesta sexta-feira (24), das 9h às 16h, no Teatro de Santa Isabel, onde tantas vezes ela se apresentou, como atriz, nos palcos, e onde trabalhou, como diretora, nas coxias, em quatro diferentes gestões. Em seguida, será cremado, como era desejo dela, em cerimônia restrita aos familiares no Cemitério Morada da Paz.

A trajetória de Geninha da Rosa Borges no teatro

Maria Eugênia Franco de Sá da Rosa Borges, nascida no dia 21 de junho de 1922, se fez a dama do teatro pernambucano Geninha da Rosa Borges. A atriz estreou nos palcos em 1941, com 19 anos, na peça “Primeirose”, de Robert de Flers e Gaston de Caillavet, em montagem do recém-criado Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), por convite de Valdemar de Oliveira. O teatrólogo a viu em cena no Colégio de São José, na Boa Vista, onde desde pequena representava e declamava poemas. Já na estreia, Geninha da Rosa Borges foi abraçada pela crítica teatral da época.

Desde então e até a sua saída da cena, tendo subido ao palco pela última vez em 2012, Geninha da Rosa Borges deu vida a 80 mulheres — a que mais a marcou, Yerma, personagem-título da peça de Federico García Loca, montada pelo TAP sob direção de Valdemar e depois dela mesma, atendendo a pedido dele feito no leito de morte. “Me dediquei, e deu tudo certo”, comentou em entrevista ao Jornal do Commercio quando completou 90 anos.

Se Yerma marcou Geninha da Rosa Borges, o público mais recente gravou a atriz por uma das suas falas na peça “Um Sábado em 30”: “Ô, minha filha, você ainda é moça?”.

Do Teatro de Santa Isabel foi diretora por 18 anos. A vida da atriz se mistura à trajetória daquele lugar, a que ela dedicou o livro: “Teatro de Santa Isabel: Nascedouro & Permanência”, lançado em 2000. “É um dos mais importantes da minha vida. É meu porto seguro. O Santa Isabel e o Teatro de Amadores de Pernambuco são meus portos seguros”, disse na entrevista feita há dez anos.

Em montagens do TAP foi dirigida por grandes nomes, como o polonês Ziembinski e Bibi Ferreira. Entre as suas atuações destacam-se, ainda, em “A Promessa”, de Luiz Marinho, de 1983, e “As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant”, de Rainer Fassbinder, 1987.

Embora tenha se feito dama do teatro, Geninha da Rosa Borges também começou pelo cinema — participou do primeiro filme falado realizado em Pernambuco: “O Coelho Sai” (1942), de Newton Paiva e Firmo Neto. Em 1983, voltou ao set, pela diretora Tizuka Yamazaki, para uma participação no longa-metragem “Parahyba Mulher Macho”. Em 1997, atuou em “Baile Perfumado” (1997), de Paulo Caldas e Lírio Teixeira. Fora os curtas-metragens, como “O Pedido” (1999), de Adelina Pontual.

À TV chegou em 2004, para participar da novela “Da Cor do Pecado” (TV Globo), de João Emanuel Carneiro.

Geninha da Rosa Borges também foi educadora

Formada em letras anglo-germânicas e pedagogia pela Faculdade de Filosofia do Recife, Geninha da Rosa Borges também atuou com o ensino de teatro. Em 1964, foi designada pelo Ministério da Educação e Cultura (o antigo MEC) para coordenar a equipe do Sistema Nacional de TV e Rádio Educação e dar início a um programa pioneiro em Pernambuco de aulas teatralizadas para o rádio.

Entre 1966 e 1967, passou seis meses nos Estados Unidos e dois meses no Japão, realizando cursos de pós-graduação em teleducação.

Na entrevista concedida há uma década, ela disse que o ator estuda técnicas por puro aperfeiçoamento — mas que teatro é dom. Geninha da Rosa Borges foi, portanto, privilegiada no dom — de interpretar e de viver longamente.

Notas de pesar do governador Paulo Câmara:

“Quero expressar minha solidariedade, neste momento de profunda tristeza, aos amigos, parentes e fãs que acompanharam a trajetória de sucesso e a história de mais de 80 anos de carreira de Maria Eugênia Franco de Sá da Rosa Borges. Sua presença estará sempre marcada nos palcos do nosso Estado.”

Do secretário de Cultura do Estado, Oscar Barreto:

“Foi com ela nos palcos que muitos da nossa geração conheceram o que era interpretação teatral. Lamentamos a sua passagem nesse momento, mas sem deixar de celebrar sua história. Uma artista completa.”

Da Secretaria de Cultura e a Fundação de Cultura Cidade do Recife

“A Secretaria de Cultura e a Fundação de Cultura Cidade do Recife lamentam profundamente a morte da atriz Geninha da Rosa Borges, grande dama do teatro pernambucano, que havia acabado de completar 100 anos de uma vida inteira devotada à arte.

Atriz de teatro, rádio, TV e cinema, Geninha viveu muitas vidas em uma, encenando mais de 60 personagens ao longo da longínqua e profícua carreira, que abraçou ainda muito jovem, enfrentando o preconceito da sociedade de então e abrindo alas para tantas gerações de grandes mulheres que o teatro pernambucano produziu e segue produzindo.

Incansável, dedicou-se também, com o mesmo talento e afinco, aos bastidores culturais. Foi gestora, por três vezes, do Teatro de Santa Isabel, casa cuja gloriosa história não pode ser contada sem que seu nome seja citado muitas vezes, sempre com comovida deferência. Geninha foi, é e para sempre será das maiores estrelas que já brilharam no teatro pernambucano.”

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