Pastor guru de Michelle Bolsonaro é acusado de abafar golpe contra fieis

02/08/22

Por Fábio Leite

blogfolhadosertao.com.br

As mulheres dizem ter perdido cerca de R$ 1 milhão. Elas relatam que procuraram Josué Valandro Jr. para denunciar o golpe, mas ele nada fez

Reprodução/Instagram

Guru religioso da primeira-dama Michelle Bolsonaro, o pastor Josué Valandro Jr. é acusado de abafar um golpe financeiro aplicado por um ex-líder da congregação evangélica que ele dirige, a Igreja Batista Atitude.

Duas fiéis da igreja evangélica dizem ter sido vítimas do golpe. Os episódios ocorreram em 2017, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, e resultaram em processos contra o suposto golpista, o também pastor Oséias Oliveira de Abreu, e contra a igreja.

As vítimas afirmam ter transferido quase R$ 1 milhão para uma conta nos Estados Unidos em nome de uma empresa do pastor Oséias. Segundo elas, ele havia prometido um retorno financeiro com o investimento no exterior, mas o dinheiro desapareceu.

Oséias era líder de uma célula da igreja que era frequentada pelas duas mulheres no Rio e atuava como supervisor da congregação comandada por Josué Valandro.

O caso virou um problema para o guru de Michelle Bolsonaro porque as vítimas dizem, inclusive nos autos do processo, que o procuraram para denunciar o golpe e pedir ajuda, mas ele nada fez.

À coluna, as duas mulheres relataram que Josué Valandro simplesmente ignorou a queixa e agiu para abafar a história, com o intuito de preservar a imagem da igreja.

A economista Alessandra Costa de Azevedo, que transferiu R$ 200 mil para uma conta do pastor em Miami, afirma que o pastor Josué Valandro retornou as tentativas de contato feitas por ela somente após processar Oséias de Abreu e a igreja.

“Ele me ligou. Achei que ele tinha se arrependido, que iria me ajudar, estender a mão, mas não. Pediu para que não envolvesse o nome dele nem o nome da igreja em processo nenhum”, disse ela.

A outra vítima, a dona de casa Sigrid Engersen de Souza, incluiu o próprio Josué Valandro entre os alvos do processo que moveu para tentar reaver os R$ 726 mil reais que perdeu.

Na ação, ela anexou mensagens trocadas por WhatsApp com o guru de Michelle. “Se arrependa enquanto é tempo! A igreja nada tem a ver com isso e vc sabe! Faz de quem te apoiou a vida inteira teus inimigos? Acha que Deus vai abençoar isso?”, escreveu o pastor Valandro à fiel.

Sigrid afirma ter entendido a mensagem como uma tentativa de provocar “temor” e, assim, impedir que o caso fosse levado adiante. “Quando o pastor Josué descobriu (o processo contra a igreja), além de ter me amaldiçoado, ele começou a denegrir a minha imagem na igreja e excluiu a minha conta na plataforma da igreja”, diz.

Em abril deste ano, o pastor Josué Valandro admitiu à Justiça que Oséias de Abreu era líder e supervisor da igreja e declarou ter tomado conhecimento dos processos a que ele responde, mas ressalvou que a congregação não tem nenhuma relação com o sumiço do dinheiro das fiéis.

Valandro fundou a Igreja Batista Atitude no início dos anos 2000. Hoje, a denominação tem 17 filiais, incluindo uma nos Estados Unidos e outra no Canadá.

A igreja ficou mais conhecida após passar a ser frequentada por Michelle Bolsonaro. A primeira-dama atuava como intérprete de libras nos cultos. Na campanha de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro subiu no palco ao lado do pastor Valandro, que orou para que ele vencesse o pleito.

Após a eleição, o pastor passou a frequentar o Palácio da Alvorada, a residência oficial da Presidência. No fim de 2021, ele foi condecorado por Bolsonaro com a Ordem do Rio Branco, uma das principais honrarias concedidas pelo governo.

Em maio deste ano, o pastor comandou um culto ao lado de Michelle na Câmara dos Deputados. Depois, participou com ela de uma excursão a Jerusalém, em Israel.

À coluna, o pastor Valandro afirmou por meio de seu advogado que “não comenta” processos em andamento e que já se defendeu na ação. O pastor Oséias de Abreu não foi localizado.

Em 2017, logo após receber as transferências de dinheiro das fiéis, o pastor Oséias chegou a ser preso por estelionato, mas em razão de denúncias feitas por outras vítimas. Em sua casa, em um condomínio de mansões na Barra da Tijuca, a polícia encontrou jóias e pedras preciosas.

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