23/07/25
Quando a água passa ao lado, mas não chega às torneiras do sertão.
Hoje, com poucas palavras, venho refletir sobre uma realidade que me inquieta profundamente: o projeto de transposição das águas do rio São Francisco. Iniciado em 2007 e com os canais principais concluídos em 2022, esta obra monumental deveria ter transformado a vida de milhões de nordestinos. Foram beneficiados, além de Pernambuco, os estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Quinze longos anos se passaram para a conclusão dos canais principais, e já se vão mais três anos desde então. No entanto, o que deveria ser motivo de celebração se tornou uma fonte de frustração e questionamentos. Infelizmente, praticamente toda a população vizinha da água continua passando sede, sem ter, em muitos lugares, sequer água para seus animais quando as chuvas não são suficientes para encher os reservatórios das propriedades.
Aqui no município de Salgueiro, nas localidades de Tamboril, Caxite, Barra do Mulungú, Mandacaru e tantas outras, vivemos um paradoxo cruel. Embora estejamos bem próximos dessa obra fenomenal – o canal – e das barragens da Mangueira e do Negreiro, os proprietários ribeirinhos não têm acesso à água. Alguns chegam ao extremo de se desfazerem de seus animais para que não morram de sede, numa ironia amarga diante de tanta água que passa tão perto.

É preciso, portanto, que nossos governantes sejam mais ágeis na construção das obras hídricas secundárias. Essas estruturas complementares são fundamentais para fomentar a produção de alimentos e, principalmente, para manter as pessoas no campo, evitando o êxodo rural que tanto empobrece nossa região.
A transposição do São Francisco não pode ser apenas um monumento à engenharia. Ela precisa cumprir sua promessa de transformar vidas, de levar esperança onde hoje ainda reina a sede. O tempo urge, e nossa paciência se esgota junto com os açudes vazios.