Petrobras vendeu refinaria na Bahia pela metade do preço, aponta estudo

18/02/21
Por Giulia Fontes/UOL/blogfolhadosertao.com.br

Uma análise realizada pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) apontou que a Petrobras negociou a venda da Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, pela metade do valor que poderia receber.

Segundo os cálculos do Ineep, a Rlam está avaliada entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões. Na semana passada, a Petrobras anunciou que o grupo Mubadala Capital, dos Emirados Árabes, venceu a disputa pela refinaria com uma oferta de US$ 1,65 bilhão. O Ineep é um instituto ligado à Federação Única dos Petroleiros (FUP), que representa os trabalhadores. A Petrobras afirmou, em nota, que a negociação foi realizada a partir de uma faixa de valores, que considera as características técnicas, de produtividade e do potencial da refinaria, assim como cenários corporativos para planejamento.

“Além disso, a Petrobras contrata assessores financeiros independentes (bancos ou instituições financeiras com reconhecida experiência) para avaliar as transações e atestar se o valor de venda é justo do ponto de vista financeiro”, diz a nota (veja a íntegra no fim deste texto).

A empresa ressaltou, ainda, que todo o processo é auditado por órgãos de fiscalização, e que a venda só é concluída “após aprovação das instâncias competentes”.

Como foram feitos os cálculos do Ineep

As estimativas do Ineep se baseiam no fluxo de caixa da refinaria. A partir dos resultados obtidos pela Rlam, os pesquisadores projetaram as receitas e despesas da empresa para os próximos anos.

“Estimar a receita é simples, mas, para a despesa, não há um indicador específico. Ela depende, por exemplo, do regime de contratação de trabalhadores, de medidas de redução de custos etc.”, diz Rodrigo Leão, coordenador técnico do Ineep e pesquisador visitante da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Por conta disso, o Instituto desenhou três cenários para o cálculo do valor de mercado da Rlam, de acordo com o valor das despesas. Segundo os pesquisadores, o preço da refinaria, nas três situações, seria de US$ 3,12 bilhões; US$ 3,52 bilhões ou US$ 3,92 bilhões.

Venda ainda não foi concluída, mas funcionários protestam

Mesmo com a apresentação da oferta pelo Mubadala Capital, a venda da Rlam ainda não foi concluída. Segundo a Petrobras, a operação precisa, agora, ser aprovada no Conselho de Administração da empresa. A negociação deve, ainda, ser submetida ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

A decisão pela venda, porém, já gerou protestos de funcionários. Na quarta-feira (10), trabalhadores fizeram uma manifestação na estrada que dá acesso à refinaria, no município de São Francisco do Conde, na Bahia. Além disso, a FUP marcou greve para esta quinta-feira.

De acordo com a Petrobras, a venda não levará a nenhuma demissão. “A companhia oferece opções aos empregados, como transferência para outros polos”, diz comunicado divulgado pela empresa na semana passada.

Petrobras já recusou ofertas pela Repar, no Paraná

Além da Rlam, está nos planos da Petrobras vender mais sete estruturas ainda em 2021: a Unidade de Industrialização do Xisto (Six), no Paraná; as refinarias Presidente Getúlio Vargas (Repar), também no Paraná; Alberto Pasqualini (Refap), no Rio Grande do Sul; Isaac Sabbá (Reman), no Amazonas; Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco; Gabriel Passos (Regap), em Minas Gerais; e Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (Lubnor), no Ceará.

A refinaria na Bahia foi a primeira que teve uma oferta vencedora. No caso da Repar, a Petrobras decidiu reiniciar o processo de venda, depois de receber propostas menores do que o valor avaliado.

Na opinião de Leão, o momento não é o mais adequado para a venda das estruturas. “Algumas empresas americanas estão preferindo paralisar as refinarias do que vendê-las. O cenário está muito ruim”, diz o coordenador do Ineep.

Segundo ele, o ideal seria que a Petrobras esperasse os desdobramentos da pandemia para, então, decidir o que fazer com as refinarias.

“É preciso ver como vai ficar o mercado para, então, pensar em uma estratégia para o refino. Agora, as propostas que virão para a compra vão ser muito baixas. Além disso, o refino ajuda quando o preço do petróleo cai muito. No ano passado, a Petrobras teve bons resultados exportando combustível”, afirma Leão.

Leia a íntegra da nota encaminhada pela Petrobras ao UOL

Veja a íntegra da resposta da Petrobras sobre o caso:

“Como em todos os processos de venda de ativos da Petrobras, a companhia estabelece uma faixa de valor que norteia a transação. Essa faixa de valor considera as características técnicas, de produtividade e do potencial do ativo, assim como os cenários corporativos para planejamento (por exemplo, preço do petróleo e câmbio).

Além disso, a Petrobras contrata assessores financeiros independentes (bancos ou instituições financeiras com reconhecida experiência) para avaliar as transações e atestar se o valor de venda é justo do ponto de vista financeiro. Essas avaliações são independentes e feitas com a visão da instituição para o ativo.

A venda, portanto, só é aprovada internamente se atender às premissas estipuladas no processo, incluindo a faixa de valor estimada pela Petrobras e a avaliação do assessor financeiro independente. Nos casos em que essas condições não são atendidas pelas ofertas, o processo de desinvestimento não segue para as etapas seguintes, como ocorreu com o processo de venda da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, cujo encerramento também foi comunicado no dia 8/2.

Todo o processo de desinvestimento é auditado por órgãos de fiscalização e a venda só é concluída após aprovação das instâncias competentes. De acordo com a sistemática de desinvestimento da Petrobras, só é possível dizer que a venda foi concluída após o closing/fechamento da operação.”

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