12/02/21
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Mal tomou posse, o presidente da Câmara, Artur Lira PP-AL( foto), apelou para uma medida extrema, deu um golpe na Imprensa: sem ouvir nenhuma redação dos mais diversos veículos credenciados na Casa decidiu despejar os jornalistas do Comitê de Imprensa, invadindo a área de trabalho da categoria para nela erguer o seu gabinete.
Uma medida esdrúxula e antidemocrática. O Comitê de Imprensa, que tive a honra de presidir na gestão Michel Temer, presidente da Casa por dois mandatos, funciona numa área ao lado do plenário, concebida para facilitar o trabalho da Imprensa, a vista da Nação. “Por ela, a Nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que ameaça”, deixou nos anais da história o mestre Rui Barbosa.
O espaço do Comitê é patrimônio da Imprensa. Foi inaugurado no início da década de 70, quando a Casa foi presidida por Marco Maciel. Diferente de Lira, quando presidiu a Câmara o também alagoano, mas paulista por adoção na carreira política, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) ampliou o espaço do Comitê, retirando de uma parte do salão os servidores do cerimonial. “Não só não aceitei retirar o Comitê, como ampliei o seu espaço”, atesta Aldo.
A ideia de evitar lidar com os jornalistas em livre trânsito na Casa, abolindo o Comitê de Imprensa, não é nova. Como presidente do Comitê reagi a uma tentativa nesse sentido com a imensa colaboração e participação da categoria, que demoveu Temer de cometer tal aberração. Arlindo Chinaglia também tentou, mas não conseguiu. Agora, com a transferência do Comitê para uma área distante do plenário, o novo presidente quer se livrar do assédio popular e dos jornalistas que o interpelam no Salão Verde quando chega ao Congresso.
Parece que Lira sofre do mesmo mal de Chinaglia: dificuldade para lidar com as cobranças da imprensa e com o trabalho de cobertura dos jornalistas na Casa. Desengavetou um projeto que nasceu com o ex-presidente João Paulo Cunha (PT-SP). Considerado um espaço privilegiado pela amplitude, proximidade e acesso direto ao plenário, o Comitê dará lugar ao gabinete do próprio Lira.
Com a mudança, já de martelo batido em reunião da Mesa, os centenas de profissionais de rádio, jornais, TVs e veículos de comunicação de todo o País que cobrem diariamente as atividades da Câmara serão acomodados em um espaço menor, um pouco mais distante e sem acesso direto ao plenário.
O projeto, sabe bem Lira e todos os deputados integrantes da Mesa, altera a obra original de Oscar Niemeyer. Na época que o PT presidiu a Casa, a sua bancada chegou a lançar uma cartilha para os novos deputados, com dicas de como evitar conversas longas com jornalistas.
Segundo Lira, pelo projeto original de Niemeyer a presidência da Câmara funcionaria onde hoje está o Comitê. Não é verdade. Vivo, quando ouvido sobre a polêmica, o arquiteto negou. Disse que o prédio é tombado e que toda reforma tem de ser feita de forma que não desfigure seu projeto: “Não fui consultado sobre nada disso. Estou sendo ouvido e informado dessas mudanças pela primeira vez”, reagiu na época quando Chinaglia queria fazer a mudança.
Mudar o Comitê, para Lira, parece tentar esconder uma visão política de que jornalista incomoda, pergunta o que não deve, publica o que não pode. Fui nos arquivos da Câmara e lá encontrei a justificativa do então presidente da Casa, Marco Maciel, sobre sua decisão de instalar o Comitê ao lado do plenário.
Merece aplausos: “O objetivo foi facilitar o trabalho da imprensa, criando um símbolo de liberdade e transparência, dando condições de melhor divulgação dos trabalhos do plenário. O comitê é histórico. Saíamos do plenário para conversar direto com os jornalistas, sem nenhuma barreira”.