Adeus, Mestre Jaime, amante do Frevo e criador do bloco Bicharada

05/01/21

blogfolhadosertao.com.br

 

Por Machado Freire

 

 

 

A marchinha de Carnaval – “ Eu não vou, vão me levando “   de autoria  do compositor natalense Claudomiro Batista – o Dorsinho —  foi tocada no inicio da tarde  ontem (04), em um carro de som colocado  à frente de carro funerário  formando    um pequeno  cortejo motorizado pelas principais ruas e avenidas centrais  de Salgueiro.   Era o anúncio    de  que a cidade mais importante do Sertão Central não contará  mais com a figura querida e admirada de Jaime Alves Conserva  no comando do Bloco  Bicharada.   Ele partiu sem  “dizer adeus” aos seus bonecos gigantes – ora com cara de gente, ora com cara de bichos e etês, e   sem lamentar também que alguns deles “estavam no relento”.  OH, Mestre Jaime !

  A música carnavalesca  sinalizava, ainda,  que aquela forma de despedida era para atender  o desejo pessoal do carnavalesco mais querido do interior de Pernambuco, que aos 98 anos  perdeu a vida para a Covid-19,   logo ele que   por nenhum problema de saúde  ou outro motivo qualquer (fosse o que fosse) jamais  deixou de brincar o carnaval  de rua da Salgueiro Grande de Veremundo Soares.

No ano passado, por  a exemplo,  ele  precisou de uma estrutura especial para entrar  na “pisada” do “eu não vou, vão me levando”, fazendo cumprir uma rotina de mais de 70 anos de Carnaval  que homenageava  o frevo de raiz de Pernambuco com seu bloco marcando presença nocarnaval de rua muito original.

E lá se foi nosso querido Mestre  que sempre foi diferente dos “normais” em tudo que que fazia. E ele  fazia de tudo um pouco, na sua vida intensa, muito bem aproveitada  24 horas por dia, como “homem dos sete instrumentos”. Sim, tocava violão, clarinete, cantava (adorava uma seresta) e se colocava muito bem como um boêmio de verdade.  Sua coleção de discos  de vinil era algo espetacular, com um acervo simplesmente invejável, de Nelson Gonçalves a Ataulfo Alves.

O guarda-roupas era simplesmente incomparável. Como alfaiate, o Mestre produzia seus próprios uniformes  de cores fortes, na base do tropicalismo, porque ale  fazia parte de  grupo de amigos e parentes  que exercia a profissão  de alfaiate com esmero e muita dedicação, a exemplo do também boêmio, carnavalesco e seresteiro Antonio Olímpio.

O  Mestre Jaime     foi  homenageado  no Carnaval de 2010 pelo Estado como  carnavalesco “Patrimônio histórico de Pernambuco”  porque fez história e manteve uma luta intransigente em defesa da nossa cultura popular, tanto que  ele e o mestre Ariano Suassuna tinham algo em comum: o sertanejo de Pernambuco não “tolerava”  o modismo da Bahia  “contaminado” pelo Axé e  “outros  modismos”,  enquanto o sertanejo com origem na Paraiba,  deplorava o Rock.

Na longeva caminhada –que contrastou enormemente com  sua curta e apressada despedida, Mestre Jaime  soube fazer justiça àquilo que abraçou  de corpo e alma.  Fez  história sem precisar  ir  a canto nenhum para receber aulas e se tornar um artesão seriamente comprometido com o Carnaval de Pernambuco, como criador dos bonecos gigantes com cara de bicho e outros seres indefinidos.   E por algum tempo ele “lecionou”  artes plásticas para meninos de famílias carentes da cidade, dentro de um programa do município.

E foi com essa “teimosia” danada (ele adorava esta palavra forte e fez até uma letra –”que teimosia é esta…” )  que ele levou sua arte aos quatro cantos do Estado, com apresentações  especiais no Recife e Olinda, ao lado dos seus bonecos inseparáveis.

Atendam  o pedido do Mestre: Não deixem  que os  bonecos fiquem “no relento” e que o Bicharanda não morra jamais.

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Mestre Jaime  foi vítima da Covid-19

Familiares do Mestre Jaime informaram que  ele se encontrava doente e precisou ser internado numa unidade de saúde da cidade no  sábado. Ele  não se alimentava bem há dias, e  por último, ao ser  hospitalizado, foi diagnosticado com Covid-19 e teve sua morte confirmada no final da manhã de ontem (04).

Paulo Câmara, Secretaria de Cultura e

 Fundarpe lamentam morte de Mestre Jaime

A  morte de Mestre Jaime,  teve uma repercussão muito rápida em todo estado. O governador Paulo Câmara, a Secretaria Estadual de Cultura e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) divulgaram notas lamentando o falecimento do artista  salgueirense, reconhecido em todo Estado.

“A nossa cultura perdeu hoje o Mestre Jaime Conserva, que há cerca de 70 anos animava as festas carnavalescas em Salgueiro, no Sertão, com a sua tradicional Bicharada, levando alegria às ruas da cidade com seus animais feitos à base de papelão e tinta. Em 2010, quando o bloco completou 60 anos, Mestre Jaime foi o homenageado do Carnaval de Pernambuco. Neste momento de tristeza, quero manifestar minha solidariedade aos seus familiares e amigos, e também ao povo de Salgueiro”, expressou o governador.

“Nascido Jaime Alves Concerva, Mestre Jaime marcou seu nome na história do município com a criação de bonecos gigantes inspirados em animais. Ao longo de 75 anos, ele levou alegria aos foliões com suas obras, representando não só a fauna, mas também pessoas anônimas. Além de artista plástico, Mestre Jaime era músico e alfaiate. Farão muita falta em nosso Estado aquele sorriso de ouro, as roupas luxuosas e coloridas, além da energia e do espírito transgressor que Mestre Jaime sempre carregava. Ele tinha 98 anos e estava internado, após diagnóstico de Covid-19”, destaca a nota da Secretaria de Cultura/Fundarpe.

Prefeito Marcones Sá  decreta luto oficial de 

trêsdias pelo falecimento de Mestre Jaime

O prefeito do município de Salgueiro, Marcones Sá,  decretou luto oficial de 03 dias pela partida de Mestre Jaime, Artista plástico criador do tradicional Bloco da Bicharada, ícone do carnaval do carnaval de Salgueiro. Mestre Jaime faleceu na manhã desta segunda-feira (04), aos 98 anos, vítima da COVID 19.

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