Reassentados do Sistema Itaparica pedem o apoio de Lula para acabar com o corte de energia elétrica no polo que abrange Pernambuco e Bahia

02/06/25

Po Machado Freire

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1- Lula recebeu os trabalhadores reassentados  num encontro   coordenado pela Diocese da Igreja Católica de Floresta, através do padre Luciano Aguiar e do Polo Sindical PE/BA

2-“Numa democracia representativa a fé, a justiça e a esperança movem as pessoas e as instituições na luta em defesa da vida. Itaparica pede urgência!!”

 

“Então, presidente Lula, com esses dados de produção e participação social, não justifica as famílias permanecerem como estão hoje, fazendo vigília nas subestações de energia há mais de 100  dias para evitar a suspensão dos serviços de energia elétrica, que é fundamental para o bombeamento de água que serve a produção de alimentos e o consumo humano dessas famílias.”

 

Durante a última visita de  Lula a   Salgueiro, semana passada,   lideranças  dos produtores de frutas  e da própria agricultura de subsistência  praticada  em grande parte dos  municípios do Vale do São Francisco e  do Sertão de Itaparica ( Polo Sindical PE/BA)- fizeram um apelo  direto ao governo federal,  entregando  um documento circunstanciado ao presidente  da República, Luiz Inácio Lula da Silva, onde apresentam um relato sobre  dos graves problemas  que dificultam a produção agrícola regional, com destaque para o corte sistemático de energia elétrica.

O documento (veja abaixo, na íntegra) foi entregue a Lula  num encontro reservado  antes do inicio  da  Cerimônia da assinatura da Ordem de Serviço para a duplicação da capacidade de bombeamento de água do Eixo Norte do PISF,  com a participação  da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra,  do governador do Ceará, Elmano de Freitas; dos  ministros Rui Costa,  da Casa Civil, Valdez Góes, da Integração, Silvio Costa Filho, de Portos e Aeroportos  e Luciana Santos,  da  Ciência  e Tecnologia.

Também participaram da solenidade, o ex-deputado federal Gonzaga Patriota,  a senadora    Teresa Leitão, o prefeito do Recife,  João Campos, o deputado federal Carlos Veras,  o secretário nacional de Segurança Hídrica do Ministério da Integração, Giuseppe Vieira;  Emanuel Caetano,  secretário executivo do Polo Sindical  PE/BA,  o superintendente regional  do Incra no Submédio São Francisco, Rodrigo Bezerra,  Alessandra Rossini, diretora de irrigação da Codevasf e o superintendente da Codevasf em Petrolina, Evilázio Wanderlei.

A diocese  da Igreja Católica, através do padre Luciano Aguiar, de Floresta, conta  que já   participou de diversas reuniões no Polo Sindical  de Itaparica, em busca de uma solução para os problemas que afetam a vida dos agricultores reassentados, inclusive com a participação  de  Giuseppe  Vieira -secretário Nacional de Segurança Hídrica, do Ministério de Integração  e Alessandra Rossini, da Codevasf,  relatando que  “a situação dos agricultores é vergonhosa”,  pois eles estão há mais de 190 dias “vigiando postos”, para  impedir o corte do fornecimento de energia.

Carta entregue pelos agricultores do Polo Pernambuco/Bahia

 

Recife, 28 de maio de 2025

 

Excelentíssimo senhor presidente Luiz Inácio Lula da Silva,

Numa democracia representativa a fé, a justiça e a esperança movem as pessoas e as instituições na luta em defesa da vida. Itaparica pede urgência!!

Levando em conta o ano jubilar, em que a arquidiocese irá trabalhar com toda a sociedade civil organizada a esperança, queremos nós, de mãos dadas, seguir esperançando junto a esse governo popular e democrático. Assim como afirma o papa Francisco, “o jubileu da esperança é para focar e atingir os corações e as relações familiares e sociais em defesa da vida”.

Um pouco antes dos anos oitenta, no auge do tal desenvolvimento industrial do Brasil, um dos grandes investimentos era as grandes obras e em prioridade as grandes hidroelétricas, como Sobradinho e o complexo de Paulo Afonso, na Bahia, e Itaparica em Pernambuco (atualmente usina Luiz Gonzaga).

E todas essas grandes obras mesmo causando impactos incalculáveis ambientais e sociais, o governo priorizava os empreendimentos econômicos na geração de energia, sem levar em consideração as consequências sociais e ambientais. Fazia-se necessário, porém, nosso país era muito deficiente no desenvolvimento e a energia seria a principal matéria prima para consolidar o desenvolvimento econômico.

Com todos esses acontecimentos de grandes empreendimentos no Nordeste, e o fato de o governo na época não respeitar a vida de famílias que viviam nesses espaços, aqui na região do Submédio São Francisco se iniciou por um grupo de lideranças sindicais e atores da igreja católica uma preocupação.

Então, lideranças dos municípios de Petrolândia, Floresta, Itacuruba, Belém do São Francisco, no estado de Pernambuco, e dos municípios de Rodelas, Glória e Paulo Afonso, no estado da Bahia, esses atingidos diretamente pelas águas da hidroelétrica assumiram um posicionamento muito importante de que não aceitavam o estado brasileiro/governo fazer com que o povo desses municípios o mesmo que tinha sido feito em Sobradinho e Glória, no estado da Bahia.

Todavia, essas lideranças começaram a buscar forças aliadas junto as dioceses, a Contag, a Fetape, a CUT e outros militantes de outras categorias. A fins de conscientizar a população da região a se organizarem na luta para o enfrentamento ao estado brasileiro/governo.

Além de organizar para enfrentar a luta, era a abertura do diálogo com o governo, que não foi muito fácil. Porque os prefeitos da época, os grandes proprietários não aderiram a luta, afirmando o projeto de ditadura militar no país. Incentivando aos agricultores, que trabalhavam como meeiros ou arrendatários, a não seguirem as orientações do movimento sindical social e da igreja.

A decisão importante tomada por esses líderes foi a recomposição das representações das organizações de categorias, à exemplo dos sindicatos. Com essa estratégia ficaram mais fortalecidos, passando a ter uma estrutura de representação e de lutas contra esse modelo de desenvolvimento econômico da época.

Então, por não ter esse espaço de diálogo e estando prevista o fechamento da barragem (atualmente usina Luiz Gonzaga) e a expulsão dos povos dos seus territórios sem direitos, em uma região de potencialidades para a produção de alimentos para Pernambuco, Bahia, e por que não afirmar para o Nordeste.

Por essas razões, as instituições resolveram ocupar o canteiro de obras da barragem de Itaparica no dia 1º de dezembro de 1986, resistindo e obrigando o ministro de Minas e Energia na época, Aureliano Chaves, a vir até as instalações da obra dialogar com as lideranças sindicais e institucionais. Após diálogos foi assinado no dia 6 de dezembro, pelo governo e as instituições, o chamado Acordo de 1986. É onde está assegurado obrigações do estado brasileiro, como a responsabilidade com a população e um diálogo permanente entre o estado/Chesf e as lideranças sindical, a diocese e de outros segmentos da sociedade. Devido ao governo na época não ser acessível às discussões e as pautas sociais e ambientais desse território.

Por tudo isso, lideranças e dirigentes não tiveram escolhas. Fomos procurar terras em outros municípios, fazendo com que o governo federal/Chesf adquirisse essas terras e implantasse os projetos de irrigação conhecido como o reassentamento de Itaparica, em vários municípios do estado de Pernambuco, como: Santa Maria da Boa Vista, Orocó, Belém do São Francisco, Petrolândia, e Glória, Chorrochó, Curaçá, Rodelas, no estado da Bahia.

Sabemos que muito do acordo foi cumprido, porém tem outros que nunca foram resolvidos como lotes descartáveis pelo próprio governo por meio da Codevasf e projetos, como Jusante, na Bahia, que nunca foi concluído!!

Quase 40 anos de luta e resistência, e por falta de uma decisão política, orçamentária dos governantes de estado, o sistema Itaparica vive situações de incertezas e inseguranças constantes. A falta de revitalização das estruturas de irrigação, e de recursos para operação e manutenção do sistema e de justiça social. É que vem constantemente acontecendo mobilizações e manifestações dos agricultores e das agricultoras na região. No governo Dilma conseguimos organizar e estruturar uma mesa de diálogo, a qual vinha tratando dentro do governo e as organizações de Itaparica caminhos para de fato resolver as questões que foram citadas. Porém com o golpe político, a situação do sistema Itaparica se agravou. Principalmente com a privatização da Chesf.

Agora, presidente Lula, mesmo o sistema Itaparica estando vivendo essas incertezas, a população, as entidades representativas reascendemuma esperança com a sua retomada à presidência da república, a democracia brasileira e a soberania popular dos menos favorecidos desse país. Por isso, em nome dos agricultores e das agricultoras, do movimento sindical e social, da Contag, Fetape, dos sindicatos, do polo instituição PE/BA, e das dioceses de Floresta, Petrolina, Juazeiro.

O estado brasileiro reconheceu, em 2024, o sistema da fruticultura irrigada, no qual Itaparica pertence, como um grande produtor de alimentos e que trouxe o crescimento para a economia do estado de Pernambuco, para o nordeste e o brasil.

Então, presidente Lula, com esses dados de produção e participação social, não justifica as famílias permanecerem como estão hoje. Fazendo vigília nas subestações de energia há mais de 100  dias para evitar a suspensão dos serviços de energia elétrica, que é fundamental para o bombeamento de água que serve a produção de alimentos e o consumo humano dessas famílias.

Acreditamos que vossa excelência não tem o verdadeiro conhecimento do que vem ocorrendo em Itaparica. Assim, presidente Lula, por meio desta síntese solicitamos em caráter de urgência uma reunião com a participação das dioceses, a Contag, a Fetape, a Fetag Bahia e o polo sindical dos trabalhadores rurais PE/BA, como assinantes do acordo de 1986, e vossa excelência.

Segue assinada

Atenciosamente,

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Cicera Nunes da Cruz
Diretora presidenta da Fetape

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Natanael Caetano da Silva

Coordenador do polo sindical PE/BA

E lideranças sindicais e políticos dos Sertões de Pernambuco e da Bahia.

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