19/08/22
Por Agência O Globo
blogfolhadosertao.com.br
Decisão que o político e youtuber e terceiro mais votado do Rio em 2020 foi tomada nesta quinta-feira (18). Apenas Monteiro e Chagas Bola (União Brasil) votaram contra a cassação
A fama de Gabriel nas redes sociais o catapultou da Polícia Militar, onde tinha uma ficha marcada pela indisciplina, para a política. Ex-integrante do grupo de direita Movimento Brasil Livre (MBL), com o qual rompeu por causa das ações polêmicas como youtuber, foi o terceiro vereador mais votado do Rio em 2020 pelo PSD, com 60.326 votos, ficando atrás apenas de Carlos Bolsonaro (Republicanos), com 71 mil votos, e Tarcísio Motta (PSOL), com 86.243.
Como estava na PM há menos de dez anos, Gabriel Monteiro teve de pedir demissão da corporação para assumir o cargo. Em menos de quatro anos na corporação, ele cometeu 16 transgressões disciplinares. Por 14 delas, o soldado recebeu, no total, penalidades que somam 33 dias de detenção. Em outros dois casos, foi punido com repreensão. Por causa das transgressões, ele foi classificado como um PM com “mau comportamento”, a pior das cinco classificações do estatuto da corporação. Ele chegou a ser demitido da corporação, mas conseguiu a reintegração na Justiça.
O soldado chegou a ser punido duas vezes por fatos ocorridos no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap), quando ainda era aluno da PM e estava longe de ser famoso na internet. Em sua primeira punição, em agosto de 2016, foi acusado de ter descumprido a ordem de um oficial e cumpriu dois dias de detenção. Ainda segundo sua ficha disciplinar, em outras duas ocasiões — em março de 2018 e em janeiro de 2019 —, quando já era soldado, o youtuber foi flagrado portando a arma da PM sem que estivesse de serviço e sem autorização.
Uma das confusões em que se envolveu ocorreu em 2019, quando ainda era PM. Ele invadiu e foi expulso justamente da Câmara de Vereadores do Rio porque queria protestar contra um evento organizado por Tarcísio Motta (PSOL) em homenagem à China.
Em março de 2020, Monteiro publicou um vídeo em que abordava o coronel Íbis Souza e fazia questionamentos a respeito da participação dele em um evento dentro do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio. Na produção, ele insinuava que o oficial teria envolvimento com traficantes da Maré. Íbis esteve na comunidade para dar uma palestra. Devido ao episódio, o político foi condenado a indenizar o coronel em 40 salários mínimos por danos morais.
Sob o pretexto da prerrogativa de fiscalizar as condições de funcionamento de instalações públicas, Monteiro passou a entrar em hospitais, abrigos entre outros cercado por assessores com celulares, produzindo imagens para seus vídeos monetizados nas redes sociais. Bateu boca com médicos, enfermeiros e outro técnicos. Em um dos casos, foi condenado a indenizar em R$ 20 mil um médico, por acusá-lo, nas redes sociais, de ter deixado o plantão da UPA de Magalhães Bastos para fazer sexo com uma enfermeira nos alojamentos. O médico estava no horário de descanso.
Monteiro também invadiu um abrigo para crianças e adolescentes durante a noite. A vereadora Laura Carneiro, então secretária de Desenvolvimento Social — e que não queria liberar a entrada do youtuber no período noturno — foi seguida quase um mês por um dos assessores do vereador, que queria flagrá-la em alguma situação desconfortável. No Conselho de Ética, um dos ex-integrantes da equipe revelou que Monteiro mantinha uma estrutura apenas para tentar acumular provas contra inimigos políticos. E tinha, entre as ambições, preparar um vídeo no qual algum colega da Câmara fosse flagrado em uma situação que indicasse que estaria recebendo propina.
Por causa de Gabriel Monteiro, o prefeito Eduardo Paes chegou a baixar regras restringindo o acesso de vereadores a repartições. Mas recuou por pressão de outros vereadores, inclusive da base aliada, já que uma das prerrogativas constitucionais do Legislativo é fiscalizar o Executivo. Monteiro monetizava esses videos em órgãos públicos. Ex-assessores estimaram que ele faturaria pelo menos R$ 300 mil por mês com as produções. Ao Conselho de Ética, ele estimou que seria apenas a metade disso.
No início do ano, o vereador se envolveu em mais uma confusão ao acusar um empresário de tentar suborná-lo para não fiscalizar as instalações da empresa que prestava serviços de reboque e de depósito de veículos para a prefeitura. Logo depois, uma reportagem do “Fantástico” exibiu reportagem com depoimentos de ex-funcionários que o acusaram de manipulação de vídeos, inclusive com menores de idade, e de mulheres que acusaram o vereador de estupro e abuso sexual.
Dias depois, começaram a circular vídeos nas redes sociais em que Gabriel aparece fazendo sexo com diversas mulheres. Um deles com uma adolescente de 15 anos que frequentou a casa de Gabriel por dez meses e era recebida ao som da trilha do infantil ”A Galinha Pintadinha”. Gabriel afirma que acreditava que a garota tinha 18 anos, mas o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) define como crime filmar relações sexuais com menores.
Em meio às investigações do Conselho de Ética, a Câmara do Rio aprovou uma resolução que afetou os rendimentos extras de Monteiro. Ele não pode mais monetizar vídeos que estejam relacionados com sua atividade de parlamentar nem usar a estrutura da Câmara do Rio para isso.
As acusações que pesam contra Gabriel Gabriel incluem o fato de expor menores em situações sensíveis e as identificando nas redes sociais. A mesma tese se aplica a um outro vídeo em que Gabriel orienta uma criança de doze anos sobre como proceder para a família receber doações em dinheiro.
Além disso, pesa contra o vereador a denúncia de agressões contra um morador de rua por parte de um segurança durante a produção de um vídeo na Lapa.
Atualmente, Gabriel está no PL. Mesmo após perder o mandato, poderá concorrer a deputado federal por conta das atuais regras da legislação eleitoral. Este ano, ele lançou na política a irmã, Daniela Monteiro, que tentará uma cadeira na Alerj.