14/03/24
Ascom Alepe
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Mais de 150 mil clientes ficaram sem energia em Pernambuco como consequência do roubo de cabos e materiais elétricos. Foram mais de 4600 ocorrências nos últimos dois anos, com 210 quilômetros de rede afetados, além de 745 furtos de transformadores. Os dados foram apresentados pela Neoenergia durante audiência realizada pela Comissão de Administração Pública, nesta quarta, para debater o crescimento desse tipo de crime em todas as regiões do estado.
O gerente de Relações Institucionais da empresa, Rafael Motta, alertou sobre os prejuízos causados não apenas pela necessidade de reparos, mas pela interrupção de outros serviços essenciais, como o fornecimento de água e de internet. “Quando você furta o material você deixa a rede numa condição exposta, podendo afetar o risco de acidentes para o transeunte e até mesmo para a pessoa que pratica o crime. O segundo ponto é que as pessoas ficam sem energia por grandes períodos, afeta todo o desenvolvimento da economia de uma maneira geral, e o terceiro ponto é que esse reinvestimento que foi feito é pago pelo pernambucano.”
Ele relatou medidas que vêm sendo adotadas para tentar reduzir as ocorrências, como convênio com as forças de segurança, investimento em tecnologia e em ações educativas. A ação de grupos organizados foi apontada pelo presidente da Compesa, Alex Machado Campos, como responsável pela paralisação do abastecimento em regiões que já enfrentam escassez de água. “Há pelo menos um incidente por semana envolvendo a Compesa em roubos de fios de cobre, transformadores e equipamentos que impactam diretamente o serviço de prestação de água em Pernambuco. Pernambuco já vive o pior rodízio do Brasil. E a gente tá falando, água, como energia, que impacta educação, saúde, hospitais, escolas.”
O presidente da Compesa também relatou atuação de quadrilhas especializadas em roubo de água das adutoras, e lamentou a necessidade de aumentar o investimento em segurança patrimonial, recurso que deixa de ser usado na melhoria e universalização do sistema. Na opinião do gerente regional da Anatel, Alexandre Ataíde Gonçalves, além do prejuízo financeiro, empresas e a própria agência reguladora sofrem danos de imagem com as interrupções longas no fornecimento.
O crescimento de 15% nas ocorrências no Brasil apenas no ano passado foi destacado pela deputada Dani Portela, do PSOL. Mas na avaliação da parlamentar, medidas exclusivamente punitivistas são pouco eficazes e não atingem os receptadores dos materiais, principalmente nas infrações cometidas por pessoas vulneráveis, como aquelas em situação de rua. Eriberto Filho, do PSB, apontou o modelo de urbanismo social adotado pela Colômbia no combate à criminalidade, com melhora dos indicadores a partir do reforço das políticas públicas.
O deputado Luciano Duque, do Solidariedade, que propôs a audiência, defendeu a regulamentação de uma lei aprovada em 2013 que dispõe sobre o cadastro, venda ou troca de cabos de cobre, baterias e transformadores para reciclagem. “Vamos dialogar com o Governo do Estado de Pernambuco e aprovar também novas leis que possam contribuir de fato para que esse mercado que acontece organizado, de comercialização desses produtos, possa ser combatido com mais eficácia olhando a cadeia como um todo.”
Duque protocolou um projeto de lei com penalidades administrativas, como o estabelecimento de multa, para quem se envolver na compra, venda, troca ou armazenamento de cabos e fios roubados.