26/05/21
Um vídeo com relatos das famílias de Bruna, Valdirene e Marília, pernambucanas com idades entre 17 e 26 anos, mortas logo após dar à luz, deu início à audiência pública da Comissão de Cidadania da Alepe que discutiu, nesta terça, a mortalidade materna durante a pandemia da Covid-19. Os partos relatados aconteceram entre 2016 e 2018, quando o Brasil possuía taxa anual entre 60 e 64 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos, contra 12 mortes em países desenvolvidos.
De acordo com a co-deputada Carol Vergolino, do mandato coletivo Juntas, do PSOL, o coronavírus está tornando o cenário ainda pior. “Nesse período de pandemia, a cada 10 mulheres que morrem de morte materna no mundo, oito são do Brasil. Isso são dados de 2020. Isso quer dizer que morrem mais mulheres grávidas e puérperas no Brasil do que no resto do mundo inteiro junto, isso é um número assustador”.
Segundo ela, o problema atinge especialmente mulheres negras, 80% das mortes maternas no Estado em 2021. No Recife, os registros saltaram de 11 casos em 2019 para 29 em 2020, de acordo com Sandra Valongueiro, do Comitê Estadual de Estudos da Mortalidade Materna. Ela cobrou transparência dos gastos com o enfrentamento à Covid, propagandas específicas e um pacto com toda a sociedade civil para reverter o quadro.
Para a médica Leila Katz, da Rede Feminista de Ginecologia e Obstetrícia, a pandemia já encontrou a saúde em estado precário, com problemas que vão da falta de saneamento básico a dificuldades várias de acesso a atendimento adequado. “Já está demonstrado que a Covid-19 aumenta o risco de morte materna, de complicações, de internamento em UTI independentemente do país, mesmo em países ricos, isso é importante que seja dito também, não é só por causa da desestruturação do nosso sistema de saúde, de pobreza. É um fator de risco para todos, mas para a gente é muito pior”.
A médica alertou sobre as novas variantes e pediu que as grávidas se preservem, evitem saídas desnecessárias e usem boas máscaras, medidas que dependem também de uma renda mínima aceitável para esse público. O fechamento do Imip para atendimentos que não sejam de gestantes com Covid agravou a superlotação das demais unidades de alto risco. O relato foi da obstetra Lucia Rohr, do Hospital Barão de Lucena, no Recife. “A gente tem um pré-parto projetado para seis pacientes, e a gente chega a ter 28, 36 pacientes nesse lugar. Mesmo que as mulheres conseguissem ficar de máscara o tempo todo em trabalho de parto, a chance de contaminação, se uma dessas mulheres estiver contaminada com Covid, é enorme porque as mulheres não são testadas na porta da maternidade”.
Segundo a médica, os profissionais voltaram a se deparar com casos de gestantes desnutridas, uma realidade que prolonga os internamentos e agrava o esgotamento físico e psíquico das equipes de atendimento. Representantes das Secretarias de Saúde do Estado e do município do Recife apresentaram ações de monitoramento e qualificação de unidades e equipes para o atendimento gestacional. Cleonúsia Vasconcelos, gerente estadual de Atenção à Saúde da Mulher, disse que a meta é reduzir o índice de mortalidade materna para 35 a cada 100 mil nascimentos. Já Marcella Abath, secretária executiva de Vigilância em Saúde do Recife, destacou iniciativas como o aplicativo Atende em Casa e pediu apoio para aumentar a adesão das gestantes à vacinação.
Em Pernambuco, todas as grávidas, mesmo aquelas sem comorbidades, podem se vacinar, decisão acertada, na avaliação de especialistas ouvidos durante a audiência. Presidente do Colegiado de Cidadania, a deputada Jô Cavalcanti, do mandato coletivo Juntas, do PSOL, disse que a Comissão vai formalizar as solicitações colhidas durante a audiência, como a garantia de leitos de UTIs, distribuição de máscaras do tipo N95, pagamento de renda mínima e aceleração das investigações dos casos suspeitos. O documento será