07/02/21
Por Folhape/blogfolhadosertao.com.br
Levantamento do Instituto Tim traz dados sobre docentes de todo o país e revelou dificuldades na adaptação ao ensino remoto
Em torno de 70% dos professores ouvidos relataram dificuldades em se adaptar às aulas remotas – Foto: Divulgação/MCTIC
Uma pesquisa promovida pelo Instituto Tim, por meio do projeto “O Círculo da Matemática no Brasil”, buscou identificar como anda a saúde mental dos docentes e quais foram os impactos da Covid-19 no bem-estar desses profissionais. O objetivo do estudo foi avaliar o cenário no momento em que professores e alunos precisavam se reinventar para dar conta das aulas on-line entre os meses de janeiro e novembro de 2020.
“Já estávamos desenvolvendo esse estudo sobre a saúde mental dos professores quando fomos, literalmente, atropelados pela Covid-19. Decidimos, então, avaliar os resultados que havíamos coletado e fazer uma nova rodada de questionários meses depois, para entender os efeitos da crise sanitária no bem-estar dos docentes brasileiros”, disse o economista Flavio Comim, professor da IQS School of Management (Barcelona) e da Universidade de Cambridge, responsável pela pesquisa e um dos idealizadores do projeto “O Círculo da Matemática no Brasil”.
Ouvindo professores do ensino fundamental, tanto da rede pública quanto da privada, em diferentes estados do Brasil, quase 80% trabalham em bairros economicamente mais vulneráveis. Em torno de 70% dos professores ouvidos relataram dificuldades em se adaptar às aulas remotas, porém a pandemia trouxe à tona um sentimento de mais eficiência e otimismo em relação à carreira.
“O ensino remoto trouxe sim dificuldades, mas a principal conclusão do estudo é que os professores do país, em geral, já estavam psicologicamente esgotados muito antes da pandemia. O novo modelo de trabalho, inclusive, reduziu o nível de estresse e cansaço em alguns casos. É um alerta importante para a sociedade, os profissionais da educação precisam ser olhados com atenção, inclusive, com avaliações psicológicas periódicas”, explica Flavio Comim.
Segundo o levantamento realizado, apesar das condições para o trabalho remoto serem adversas, com 66,4% dos entrevistados relatando dificuldades de adaptação, 58% contando que não conseguem ministrar as aulas em casa sem barulho ou interrupções e 78% apresentando problemas de insônia ou excesso de sono, ficou constatado que o ambiente em sala de aula é muito mais prejudicial à saúde mental dos professores.
Conflitos nas turmas e violência nas localidades onde as escolas estão inseridas foram apontados como os principais fatores negativos do trabalho presencial. Na pesquisa, 64% dos docentes responderam que já presenciaram agressão física ou verbal contra professores ou funcionários, feitas por alunos. Outros 72% relataram já ter presenciado brigas entre estudantes. Por isso, mesmo com as dificuldades de adaptação ao novo formato de aulas digitais, uma das conclusões do levantamento é que a pandemia trouxe um respiro ao bem-estar mental de quem leciona.
A avaliação, por outro lado, destacou ainda mais as desigualdades da sociedade brasileira, professores pardos e negros foram mais impactados pela pandemia. Entre as pessoas negras, 76% mencionaram dificuldades de adaptação às aulas on-line, 64% não conseguiram trabalhar bem de casa e 83% tiveram problemas de sono durante a pandemia. O contexto familiar também retrata as diferenças: 79% dos professores negros contaram que suas famílias perderam parte da renda durante a crise sanitária, contra 61% dos profissionais brancos.
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