15/09/24
Por Rodrigo Fernandes
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Filho de Gilson Machado aparece como principal nome do PL na disputa pela vereança no Recife, deixando vereadores em mantado desprestigiados
A preferência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por candidatos novatos à vereança do Recife está gerando mal estar nos corredores da Câmara Municipal. Vereadores do partido que ainda cumprem mandato estão se sentindo desprestigiados pelo fato do ex-mandatário e da legenda apontarem o filho de Gilson Machado como principal nome nessas eleições.
O desgaste teve início quando o ex-ministro do Turismo Gilson Machado resolveu lançar seu rebento, Gilson Machado Guimarães, o “Gilsinho”, a vereador da cidade. Fontes com trânsito no Legislativo municipal afirmam que lançar o filho do candidato à prefeitura vai direcionar votos importantes da sigla para ele.
A situação piorou quando Bolsonaro lançou um site que lista os candidatos apoiados por ele em todo o país. No Recife, Gilsinho aparece no topo da lista, com direito a foto.
Além dele, aparecem com foto o filho do deputado federal Pastor Eurico, Netinho Eurico, a pastora Flávia Santos, que recebeu Bolsonaro para um culto numa igreja em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, em julho, e Josué Augusto.
Dois atuais vereadores do PL no Recife, Alcides Cardoso e Paulo Muniz, aparecem somente na parte inferior dessa lista, sem direito a foto. Fred Ferreira, nem isso — o nome dele não está na lista de apoiados por Bolsonaro.
Discussões em grupo
A reportagem apurou que o grupo do WhatsApp dos candidatos do partido a vereador do Recife acumula troca de agressões diárias. O Partido Liberal tem 38 candidatos à vereança na capital.
“Não sou prepotente para achar que sei mais de política do que Bolsonaro, que chegou à presidência, mas se ele tem 38 candidatos e ele coloca os preferidos com foto, no topo da lista… Ele não devia se meter nisso, devia botar apenas os candidatos a prefeito das cidades”, disse uma fonte que integra o grupo.
A insatisfação aumentou após Gilsinho e Flávia Santos irem até estúdios montados pelo PL em São Paulo para gravar propagandas ao lado de Bolsonaro e Michele. Nas gravações, publicadas nas redes sociais, o ex-presidente e a ex-primeira-dama afirmam que os dois são seus candidatos oficiais no Recife.
“O filho dele [Gilsinho] fez faculdade fora, mora fora, chegou aqui de paraquedas. Como é que Gilson pega e coloca ele como candidato a vereador? Claro que vai beneficiar. O candidato a prefeito tem que prestigiar a chapa toda, colocar o filho para ser deputado na próxima eleição”, apontou outro nome ligado ao PL.
Presidência do partido
O que se comenta é que o presidente estadual do partido, Anderson Ferreira, tenta apaziguar a situação, tentando ajudar quem está ligado a Gilson e tentando salvar os vereadores em mandato.
Contudo, a forma como o partido tem investido na campanha de Gilson também vem sendo criticada internamente devido ao quociente eleitoral, que define a quantidade de cadeiras que o partido terá na Câmara na próxima legislatura.
Vários aliados do PL na Câmara afirmam que as agendas de rua de Gilson e a quantidade de materiais gráficos deveriam ser intensificadas para garantir mais posições do partido na Casa no próximo ano.
“Não tem campanha de Gilson. Não entendo onde ele quer chegar. Se me botasse com o tempo do PL e eu fosse atacar as coisas com mais seriedade, sem a caricatura que é Gilson, eu teria mais votos [que ele]”, disparou um postulante.
“Os bolsonaristas mais radicais vão votar em Gilson e, consequentemente, em Gilsinho. Os vereadores que estão em mandato estão insatisfeitos, mas ainda têm alguma estrutura. Os menores estão desesperados”, acrescentou outro nome do PL do Recife.
Recursos para campanha
O Partido Liberal destinou R$ 500 mil para campanha do novato Netinho Eurico, filho do federal Pastor Eurico, ao cargo de vereador do Recife.
O atual vereador Fred Ferreira recebeu R$ 1,1 milhão do fundo partidário para tentar a reeleição. Alcides Cardoso recebeu R$ 400 mil e Paulo Muniz, por sua vez, R$ 100 mil.
O filho de Gilson Machado não recebeu recursos do PL, segundo dados fornecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).