09/08/23
Por Machado Freire
Blogfolhadosertao.com.br
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A historia consta do primeiro capítulo do ultimo livro do sertanejo nascido em Sertânia
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“A invasão dos holandeses – a Guerra do Paraguai; as andanças dos bandos de Lampião e o périplo dos sertanejos que precisavam migrar de um lugar ao outro, para fugirem da seca causticante em busca de água e terras menos áridas, no final dos anos referentes à quatro décadas de 1870. Todos esses acontecimentos e as famílias que se formaram a partir deles, levaram ao nascimento de um menino mirrado, resiliente, obstinado e, como a mãe dizia, “muito danado”, em 1946.
Esse menino era eu, Luiz Gonzaga Patriota ou Gonzaga Patriota, como sou mais conhecido.
Ainda “mirrado e danado”, com 76 anos, acordo todos os dias às 04 horas da madrugada, para caminhar e, com mensagens enviadas, via WhatsApp, acordo também muita gente. Trabalho no Congresso Nacional, onde exerço o nono mandato de Deputado Federal, antes tendo exercido um mandato de Deputado Estadual, em Pernambuco e, aqui, luto para ajudar o Nordeste e o Brasil, por meio de minhas atuações, nas Comissões Técnicas, nas votações em Plenário e na apresentação de vários Projetos de Lei – muitos deles, já resultaram em legislações importantes para os brasileiros, em especial, para os nordestinos.
Um desses Projetos, de minha autoria, foi o Projeto de Lei nº 1.125/88, que originou a Lei nº 9.060/94, da Ferrovia Transnordestina. Também fico atento para conseguir a aprovação de
emendas oficiais, não secretas, do OGU – Orçamento Geral da União, para os municípios pernambucanos, na Comissão Mista de Orçamento. Mas esses, são apenas alguns exemplos das minhas
atividades na Câmara Federal, em meio às várias outras, ao longo da vida – o que vou contar mais adiante.
Nos últimos anos, tenho sido convidado para participar de palestras em Universidades e nos Legislativos de vários estados, como, Ceará, Paraíba, Bahia, Tocantins, dentre outros. Tenho sido chamado para falar sobre projetos que permitam melhor o uso de água, para o Rio São Francisco e seus afluentes. Foram tantas aventuras e andanças para levar ideias e propostas para perenizar esse rio e buscar melhores soluções hídricas para o Nordeste, que fica até difícil lembrar-me de tudo.
Como em uma vez, em que um documento muito importante, o meu primeiro diploma de Deputado Federal, que eu carregava na moto, foi literalmente “comido por um jegue” em Petrolina, em novembro de 1986. Não é mentira minha. Aconteceu de verdade e o assunto virou notícia nacional.
São essas e outras histórias, que pretendo contar aqui neste livro que, na verdade, só pretendia escrever depois dos 100 anos. Como já escrevi e publiquei mais de 40 livros, amigos e familiares me convenceram a antecipar este, A VIDA BEM VIVIDA DE GONZAGA PATRIOTA. O que faço agora e que tem um caráter diferente dos anteriores, porque nele não abordo apenas os Projetos de Lei, nem discursos ou estudos de minha autoria. Conto as histórias da minha família e bastidores da minha trajetória, até chegar aqui. Com muita dificuldade, perseverança e casos engraçados e inusitados, mas também empenho e luta.
DOIS TEMPOS
Costumo dizer sempre que eu tenho dois tempos. O verdadeiro, do dia em que nasci, em 28 de janeiro e, o oficial, 26 de abril, data em que fui registrado pelo meu querido pai, Sebastião Alves Freire, no Cartório de Registro Civil de Sertânia, terra aonde nasci. É que papai fazia o registro de cinco, seis, meninos de uma vez, e terminava se atrapalhando. Tanto, que poucos dos seus 21 filhos, foram registrados com as datas de nascimento corretas.
A confusão de datas, entrega um pouco do meu jeito inquieto. Ainda menino, com apenas 10 anos de idade, fugi de casa, comecei a trabalhar e teimei muito nessa vida. Teimei para não ser analfabeto; teimei para ajudar minha família a crescer na vida; teimei para me formar em várias profissões (Ciências Contábeis, Direito, Administração de Empresas e Jornalismo), além de concluir Pós-graduações, Mestrados e um Doutorado, que muito me orgulham. Consegui com tudo isso, inclusive, enquanto parlamentar, propiciar muitas mudanças na vida de pessoas, antes sofridas e abandonadas,
como as trabalhadoras e os trabalhadores rurais, os agentes comunitários de saúde e de combate a endemias, guardas rodoviários do DNER, dentre muitas outras.
São histórias de uma vida muito bem vivida, mas que remete a bem antes. Passam por fatos que marcaram o Brasil e Pernambuco. E por acontecimentos que dizem muito sobre as raízes de todo nordestino.
FUGA PELA MATA
A minha família, Holanda, Alves, Freire e Patriota, começou a partir de um holandês, José Alves da Holanda, que adorou o Brasil e aqui quis ficar. Como sempre acontecia na época, o “de Holanda” foi acrescido depois ao seu sobrenome, em função do país de onde veio. Em 1646, fazia 16 anos que a Holanda conquistara parte do território brasileiro, na região Nordeste, uma região que ia do estado de Sergipe até o Maranhão. Após anos de desenvolvimento urbano das cidades e da boa relação entre senhores de engenho, com o então administrador da “Nova Holanda”, o conde Maurício de Nassau, os negócios começaram a desandar.
A malsucedida cobrança de altos impostos pela Companhia das Índias Ocidentais, que administrava a colônia, levou ao fim, o governo de Maurício de Nassau, convocado de volta à Holanda, pela empresa. Habituados com Pernambuco, alguns holandeses resolveram ficar. Pegaram um barco e tentaram subir até os estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte. O plano era pegar a cana-de-açúcar, que já tinham acumulado por lá e fugir. Eles passaram a Ilha de Itamaracá e chegaram a Ponta de Pedras, em Goiana, onde desceram, achando que não havia ninguém e migraram pela Cana-de-Açúcar. Quando subiram mais alguns quilômetros, em direção à mata, foram pegos pelas mulheres de Tejucupapo, um distritozinho local, ainda hoje muito politizado.
Essas mulheres valentes, que estavam vigiando o então pequeno distrito, do município de Goiana, enquanto os maridos tinham ido vender seus pescados, puseram os holandeses para correr com paus, panelas, água fervente, pimenta e tudo mais que tinham em mãos e, em casa, usados como armas. O episódio ficou marcado como “O Confronto das Mulheres de Tejucupapo” e aconteceu num período em que começava a tomar corpo a chamada Insurreição
Pernambucana, movimento que culminou com a expulsão total dos holandeses, do território, nove anos mais tarde, na Batalha dos Guararapes. Mas essa é outra história.
Muitos holandeses pegados pelas mulheres de Tejucupapo, preferiram retornar ao Recife e embarcar no navio, rumo à Holanda. Outros entraram na mata e na Cana-de-Açúcar e não mais voltaram. No meio dos que optaram por não voltar, estava José Alves, depois batizado de José Alves de Holanda. O grupo que decidiu ficar, andou até a Paraíba. Já fora da mata, esse grupo cruzou a região do Agreste e adentrou no sertão paraibano.
Esses holandeses que sumiram dentro das Caatingas (dentre os quais estavam também parentes do escritor Ariano Suassuna), se estabeleceram no final da Paraíba. E José Alves, depois, José Alves da Holanda, fixou-se entre a Paraíba e Pernambuco, numa região que antigamente era apenas o município de Monteiro, numa pequena Comunidade chamada de Zabelê. Lá ele formou a sua prole.
Anos depois, a região virou a cidade paraibana de Sumé. A área onde o holandês se estabeleceu ficava localizada em cima de uma serra, na qual, a metade é território de Pernambuco e a outra metade, da Paraíba. Foi onde ele organizou a família e teve filhos, netos e bisnetos. Até que um deles, também José Alves, e registrado como José Alves de Holanda, resolveu morar na cidade de Sertânia, Pernambuco. Era o meu avô.
José Alves de Holanda casou-se com Quitéria Freire, filha de negros residentes na Comunidade de Itacuruba, do então município de Floresta, na divisa entre Pernambuco e Bahia. Viveram seu amor sem ligar para os outros: ele, descendente de holandês, branco de olhos verdes e, ela, branca, mas filha de negros e com os cabelos crespos. Se fosse hoje, haveria cancelamento nas redes sociais, com os comentários de que seus cabelos eras “pixains”. Tiveram muitos filhos e um deles, foi Sebastião Alves Freire – meu pai.
José Alves de Holanda, meu avô, tinha o hábito de colocar num dos filhos que nascia, o sobrenome de Holanda e, no filho seguinte, o sobrenome Freire, que era o sobrenome de minha avó. Assim fez sucessivamente.
Naquela época, era comum as pessoas morrerem cedo. Achava-se, aos 50 anos, que se estava no fim da vida. José Alves de Holanda beirava um pouco mais de 40 anos e como pensava estar próximo do fim, resolveu deixar a zona rural e morar na cidade. Pegou um
dinheiro que tinha juntado, construiu uma casa às margens da Linha do Trem, em Sertânia, para onde se mudou e deixou os quatro filhos na zona rural: Manoel, Antonio, Vitorino e Sebastião Alves Freire, o meu pai.
Manoel Alves de Holanda foi para uma das propriedades do pai. Antonio Alves de Holanda para outra, chamada Soares. Vitorino Alves de Holanda preferiu ser motorista de caminhão e Sebastião Alves Freire, meu pai, migrou para uma terceira terra, chamada Caldeirãozinho – esta, perto de Zabelê, onde viveu o primeiro dos Holandeses, meu bisavô, José Alves da Holanda. E assim, os descendentes daquele holandês lá atrás, foram se perpetuando e aumentando suas famílias”.
Gonzaga Patriota
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Contador, advogado, deputado, escritor e jornalista
, profissões “abraçadas” por Gonzaga Patriota
Gonzaga Patriota e Lula integraram a bancada de
deputados federais durante a Constituinte de 1988
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A “Vida bem Vivida” do hoje primeiro suplente de deputado federal Gonzaga Patriota – teve origem e se desenvolveu por quase meio século de uma forma bem diferente do seu ilustre conterrâneo Etelvino Lins de Albuquerque (que teria nascido em “berço de ouro) e que recebeu as benesses do poder desde os tempos do Estado Novo e dos períodos em que o Brasil foi comandado por Getúlio Vargas, até a implantação da Ditadura Militar de 1964.
Diferente do Etelvino – que foi governador e exerceu outros cargos -deles sem a necessidade do voto popular, Gonzaga Patriota -filho do agricultor Sebastião Alves Freire e da dona de casa Elisa Patriota, teve que trabalhar antes de atingir a maior idade, ele que pertence a uma família com 21 filhos, com origem em Sertânia, antiga Alagoa de Baixo.
A meta do ex-servidor da Rede Ferroiária Federal, que o acolheu no primeiro emprego com 16 anos de idade- era aproveitar o tempo e “abraçar” o mais possível todas as oportunidades, tendo que se transformar no “homem de sete instrumentos” , tudo numa época em que a aquisição de um telefone convencional era uma grande conquista no Sertão Central, que passou a receber energia da Chesf (Paulo Afonso) na década de 1960.
O ex-ferroviário – que aprendeu a viver em comunidade logo cedo, uniu-se a um grupo de amigos e colegas de escola (do Ginásio Dom Malan a Urca, no Crato ) para implantar escritórios de Contabilidade e bancas de advocacia -a partir de Salgueiro, chegando à Petrolina nos idos de 1982.
já como deputado estadual (1983) e deputado federal -de 1986 até dezembro de 2022, Gonzaga Patriota reuniu quase toda sua produção intelectual e política registrando-a em dezenas de livros (mais de 40), culminando com aquele que contou uma pouco da história de suas raízes, cujos ancestrais tiveram origem nas famílias Holanda, Alves, Freire e Patriota localizadas nas microrregiões do Pajeu, Moxotó, Sertão Central e São Francisco, etc .
RELAÇÃO DOS LIVROS PUBLICADOS.
01 – Ação de Alimentos, 1980.
02 – Epopeia da Seca, 1983.
03 – Alimentação, Educação e Saúde, 1984.
04 – Denúncias, 1985.
05 – O Brasil e Suas Dívidas, 1987.
06 – Reforma Agrária, 1987.
07 – O Nordeste é Viável, 1987.
08 – Ferrovia Transnordestina é Nossa, 1988.
09 – Ferrovia Transnordestina: Uma Realidade, 1988.
10 – O Brasil Precisa Mudar, 1988.
11 – Rodovias Brasileiras em Ruínas, 1989.
12 – Projetos e Ações Municipais, 1989.
13- Chegou a Hora, 1989.
14 – Reforma Agrária: Já, 1990.
15 – Ação na Constituinte, 1990.
16 – Aposentadorias de Homens e Mulheres do Campo, 1990.
17 – Patriota no Parlamento, 1991.
18 – O Rio São Francisco Está Morrendo, 1995.
19 – Novo Código de Trânsito Brasileiro, 1995.
20 – Gonzaga Patriota de Volta ao Parlamento, 1995.
21 – Um Grito de Alerta, 1998.
22 – Brasil: Economia Pelo Avesso, 1998.
23 – Ação Parlamentar, 2000.
24 – FHC Quer Erradicar Órgãos de Desenvolvimento do Nordeste, 2001.
25 – Artigos Parlamentares, 2002.
26 – A Política Brasileira, 2003.
27 – Petrolina: História e Atual Realidade Política, Econômica e Social, 2004.
28 – ÁGUA – Um Bem Finito, 2005.
29 – O PAC e o Desenvolvimento do Nordeste, 2006.
30 – Desempenho Político e Eleitoral do PSB, 2007.
31 – A Crise Mundial e Seus Efeitos no Vale do São Francisco, 2008.
32 – Artigos, Pareceres e Projetos, 2010.
33- O Nordeste, Seus Problemas e as Viabilidades Para Resolvê-los, 2011.
34 – BRASIL – Trânsito Violento, 2011.
35 – Coletânea de Artigos Políticos, 2013.
36 – Nova Concepção Para O DOLO E A IMPRUDÊNCIA, 2013.
37 – A Situação do Idoso no Brasil, 2014.
38 – O Rio Tocantins Vai Desaguar no São Francisco, 2016.
39 – Segurança Pública Faz Parte das Nossas Vidas, 2016.
40 – Reforma Trabalhista, Não, 2018.
41 – Reforma da Previdência Social – Não, 2019.
42 – Ação Parlamentar de Gonzaga Patriota, 2022.
43 – A Vida Bem Vivida de Gonzaga Patriota.