14/08/22
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Por Ítalo Rocha +
O mês de agosto de 2022 marca para os pernambucanos um ano da morte de uma das maiores referências da política contemporânea de Pernambuco: Joaquim Francisco de Freitas Cavalcanti. Ele tinha 73 anos e morreu vítima de câncer no dia 3 de agosto do ano passado.
Joaquim Francisco estreou na política precocemente, aos 19 anos, como oficial de gabinete do governador Nilo Coelho, em 1967. Começava aí um longo caminho na vida pública: secretário de Estado, procurador, prefeito do Recife, ministro e governador de Pernambuco.
Formado pela Faculdade de Direito da UFPE, em 1970, foi procurador da Junta Comercial de Pernambuco e atuou também no Incra, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Em 1975, foi nomeado secretário de Trabalho e Ação Social, no governo de Moura Cavalcanti, que era seu primo e uma espécie de “guru” na carreira política.
Na volta das eleições diretas para governador, em 1982, Joaquim Francisco se destacou ao assumir a coordenação-geral da campanha de Roberto Magalhães, do PDS, que ganhou do senador Marcos Freire, candidato do MDB. Com a vitória de Roberto Magalhães, Joaquim Francisco foi indicado prefeito do Recife porque na época os prefeitos de capitais eram nomeados pelos governadores.
Como prefeito, Joaquim Francisco administrou de olho no futuro político. No plano nacional, apoiou a eleição indireta de Tancredo Neves, do MDB, à Presidência da República, em 1985, tendo José Sarney na vice. Tancredo ganhou, mas, na véspera da posse, adoeceu, morreu pouco mais de um mês depois e Sarney assumiu.
O início da Nova República coincidiu com o último ano de Joaquim Francisco como prefeito do Recife, gestão marcada por obras de calçamento, escolas públicas, postos de saúde, construção do Viaduto Tancredo Neves, que liga Boa Viagem ao bairro da Imbiribeira e o Parque da Jaqueira, na Zona Norte.
Uma das obras que ele mais se orgulhava de ter feito é o Parque da Jaqueira. Joaquim Francisco dizia que essa iniciativa da gestão dele evitou que no lugar do parque fosse construído um condomínio com cinco edifícios e inúmeros apartamentos. Para homenageá-lo, o prefeito João Campos instalou na entrada do Parque um busto do seu idealizador.
Em 1986, Joaquim Francisco foi eleito deputado federal, pelo PFL. Em Brasília, participou da elaboração da Constituição de 1988 e teve um papel de destaque na Comissão Especial que aprovou a Lei de Responsabilidade Fiscal, que impõe um teto de gastos públicos ao presidente da República, aos governadores e aos prefeitos.
No terceiro ano de mandato do presidente Sarney, em 1987, Joaquim Francisco foi nomeado ministro do Interior. Por causa de divergências políticas com o presidente, ficou poucos meses no cargo. No ano seguinte, voltou à Prefeitura do Recife, desta vez pelo voto direto. Pouco mais de um ano à frente da PCR, renunciou para disputar as eleições para governador. No governo, investiu na infraestrutra de Suape para atrair a chegada de novas indústrias, criou um programa de eletrificação de pequenas propriedades rurais e realizou obras nas áreas de educação e saúde.
No setor econômica, se deparou com uma crise financeira no Bandepe, o banco oficial do estado. Sem apoio do governo federal, teve que optar pela privatização da instituição financeira, o que lhe causou desgaste político. Joaquim Francisco também enfrentou um surto de cólera. Por orientação da Secretaria Estadual de Saúde, as praias foram interditadas. Houve uma reação muito forte da população e dos empresários de turismo. O governador desinterditou as praias e, para provar que não havia perigo nenhum, vestiu um calção de banho e mergulhou no mar de Boa Viagem.
Ao deixar o governo, Joaquim Francisco se mudou com a família para Washington, onde assumiu um cargo de consultor no Banco Interamericano de Desenvolvimento, o BID, e em seguida no Banco Mundial. Dois anos depois, voltou para o Recife e foi eleito para mais dois mandatos de deputado federal. Joaquim Francisco era um homem íntegro, honrado e sempre fará falta na política pernambucana.
- Italo Rocha é Jornalista