28/01/24
Por 247
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Políticos têm empresas na lista suja do trabalho escravo e foram multados por manter trabalhadores em condições degradantes

Nesta terça-feira (28), Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, veio à tona um dado alarmante: um prefeito e cinco vereadores eleitos em 2024 estão ligados a empresas que aparecem na chamada lista suja do trabalho escravo, segundo levantamento realizado pelo G1. Entre as irregularidades constatadas estão condições insalubres, falta de acesso à água potável e exposição a substâncias tóxicas.
Os dados são fruto do cruzamento entre os 63 mil eleitos para cargos municipais e as 717 pessoas físicas e jurídicas presentes na lista suja, atualizada pelo Ministério do Trabalho em dezembro de 2024. A lista, criada em 2003, é uma ferramenta essencial de transparência e prevenção ao trabalho escravo no Brasil, mas a inclusão nela não impede que os políticos exerçam seus mandatos, já que não houve condenação judicial definitiva, como prevê a Lei da Ficha Limpa.
O que é a lista suja?
A lista suja do trabalho escravo é um cadastro que expõe empresas e indivíduos flagrados submetendo trabalhadores a condições degradantes. Sua atualização ocorre semestralmente e não exige condenação judicial, sendo baseada em fiscalizações realizadas por órgãos como o Ministério do Trabalho, Polícia Federal e Ministério Público Federal.
No último ano, o Brasil registrou um aumento significativo de denúncias de trabalho análogo à escravidão, com 149 trabalhadores resgatados em operações. Eles enfrentavam jornadas exaustivas, trabalho forçado e alojamentos precários.
Multas e consequências
Além de terem seus nomes vinculados à lista suja, os eleitos ou suas empresas foram multados pela exploração de trabalhadores. No entanto, três deles não pagaram as multas e acabaram inscritos na dívida ativa da União.
Essa inadimplência pode gerar restrições, como explica Eduardo Correa da Silva, presidente da Comissão de Direito Tributário da OAB-SP. “O próximo passo [nesses casos] é o ajuizamento de uma ação fiscal contra esse agente, e a partir daí, ele pode ter algumas consequências, que vão desde a impossibilidade de obter financiamentos públicos ou certidões negativas, bloqueio de bens por penhora judicial até ao impedimento de participar de licitações públicas.”
A presença de políticos eleitos vinculados ao trabalho escravo levanta questionamentos sobre a ética na administração pública. Frei Xavier Plassat, coordenador do programa de combate ao trabalho escravo da Comissão Pastoral da Terra (CPT), destaca a incongruência dessa situação: “A gente pensa que uma pessoa que está [concorrendo] para um cargo de vereador ou prefeito está sempre em busca de um bem comum, mas vemos que, na prática, pode não ser bem assim.”
Apesar da gravidade dos casos, a legislação atual permite que esses políticos continuem exercendo suas funções. O fato reacende o debate sobre a necessidade de endurecimento das regras eleitorais para impedir que pessoas envolvidas em graves violações de direitos humanos ocupem cargos de poder.