Opa, tás bem? Dançasse muito forró por aí? Se tu não ficou com o cabelo fedendo a fumaça de fogueira, se não tem bandeirinhas coloridas penduradas em casa, não viveu a melhor época do ano, não sabe de veras o que é o São João. Festa levada a sério no Nordeste igual o Carnaval, decorada quem nem o Natal. Este texto da nossa parceira Beatriz Jucá explica bem isso.
E a gente volta na edição de hoje com a entrevista completa que fizemos com o ator e youtuber Max Petterson. Demos só o gostinho desse papo na edição passada, porque sabíamos que o milho tava pegando fogo nos estados nordestinos e não podíamos desperdiçar as falas de um artista cearense da lapa de Max, que chega batendo a real pra quem desvaloriza o cinema e artistas nordestinos.
Max Petterson Monteiro tem 29 anos e nasceu em Farias Brito, Ceará. É ator, youtuber, empresário e comediante. Ficou conhecido na internet quando se mudou para a França em 2014 e documentava a vida em Paris no seu canal do YouTube, que tem mais de 500 mil inscritos e milhões de visualizações. No ano passado gravou dois filmes: Bem-vinda a Quixeramobim e O Cangaceiro do Futuro. Está rodando o Brasil com seu espetáculo “Bôcu Bonjour”, e estreou recentemente o podcast Escutou porque quis com parceiras cearenses.
Mas se tu és cajuzin oficial, já deve ter ouvido o Cajuzap com trechos dessa entrevista, escutado no replay, saboreando a voz de Max. Caso não, te orienta e adiciona logo o (11) 98242-8751 na tua agenda e manda um ‘oi’ pra receber diretinho no teu zap. E se ainda não fez aquele pix elegante junino pra gente, tá em tempo: cajueira.ne@gmail.com . Ou vai em https://apoia.se/cajueira ajudar com nosso Plantio.
Castanhas
Ainda em clima de São João, o Portal Assobiar lançou seu primeiro podcast narrativo. O especial ‘Anarriê: nos bastidores do tablado’ conta sobre os bastidores das quadrilhas juninas estilizadas do Maranhão. Os episódios registram as histórias dos brincantes, quadrilheiros e quadrilheiras que alegram os arraias, em especial na região sul e sudoeste do Maranhão. Dá pra perder não, né?
E não custa reforçar que de estereótipos estamos fartos, por isso te recomendamos ainda a leitura desta crônica da jornalista Carla Serqueira no Olhos Jornalismo: Falta de acesso à saúde bucal não pode ser mais fantasia de São João!
Pois agora sirva-se com Max entregando tudo!
Um cheiro 😉
Entrevista de Nayara Felizardo com Max Petterson:
No seu podcast Escutou Porque Quis, você citou situações que passou por ser um artista nordestino, como o caso do agente que te sugeriu mudar o sotaque, e jornalistas que não conheciam a tua história e te fizeram perguntas equivocadas. Como você conduz a sua carreira para enfrentar e resistir a esses estereótipos?
Uma coisa que eu entendi é que você não vai conseguir agradar a tudo e a todos, então, faça o que você acredita que é verdadeiro na sua vida, na sua carreira, e o resto vem. E eu acredito muito na força do Nordeste, na força do povo nordestino, nos nossos arquétipos, na nossa cultura, na nossa identidade, nas nossas raízes. Parece clichê, mas assim, é para ser clichê mesmo. A partir do momento que você defende algo que você acredita, o resto flui. Eu faço o meu trabalho pro povo nordestino e pro povo do Brasil que tem curiosidade de conhecer a minha cultura nordestina. Eu não tô fazendo algo para agradar os outros, eu estou fazendo aquilo porque eu gosto de fazer, porque me dá prazer de fazer. E quem se identificar comigo, com o que eu prego, também vai sentir o mesmo prazer e vai se reconhecer dentro daquele projeto.
Como você avalia o fato de que o filme Bem-vinda A Quixeramobim, que tem sua participação, mesmo sendo sucesso de público, ficou restrito a poucas salas de cinema?
Para mim ainda é muito surreal você imaginar que, em pleno 2023, as coisas ainda andam nesse caminho, sabe? Eu acho que a gente tá vivendo um período em que o Nordeste está em alta, mais do que nunca esteve. A Hollywood nordestina é real e está acontecendo, a todo tempo a gente tem produções nordestinas. O Nordeste está cada vez mais em evidência dentro do audiovisual, dentro das mídias, dentro da internet. Os responsáveis por essa sabotagem do filme se arrependeram, ou, se não se arrependeram, em algum momento vão se arrepender. Mas eu fico muito orgulhoso de saber que o Bem-vinda, apesar do que aconteceu, apesar da falta de divulgação, apesar da não exibição do filme em 90% do país, mesmo assim foi um sucesso. Então, eu fico muito feliz em saber que o povo nordestino, acima de tudo, é um povo unido, que independente do que acontecer, a gente vai sobreviver.
O que você acha que precisa mudar para que situações como essas no cinema, ou mesmo as que você passa individualmente como nordestino, não aconteçam mais?
Eu acho que a gente precisa cada vez mais descentralizar São Paulo e Rio de Janeiro, e quando eu falo isso não tô falando que eu não quero produções nesses lugares, pelo contrário. Eu quero, mas eu também quero no Rio Grande do Sul, no Mato Grosso do Sul, no Rio Grande do Norte, no Ceará, porque o Brasil é um país muito grande, para você resumir em duas cidades. Por que que todo o filme que é feito no São Paulo e no Rio é filme nacional, e, quando é feito em qualquer outra região do Brasil, é um filme regional? A gente precisa de atores que sejam a cara do local na qual o filme está sendo gravado. Se o filme tá sendo gravado no Ceará, a gente precisa de um elenco nordestino, a gente tem capacidade, a gente tem pessoas extremamente talentosas e capazes de fazer acontecer. – Ah, mas é porque fulana lá de São Paulo é muito famosa! Mas fulana só é famosa porque vocês deixaram ela existir, e a gente precisa que vocês nos deixem existir, pra que a gente também fique famoso e consiga fazer trabalhos tão grandes, quanto os trabalhos que são feitos no eixo Rio/São Paulo.
Você tem feito turnês por várias cidades com lotação completa e abrindo sessão extra em alguns lugares. Em que momento você percebeu que tinha esse potencial para shows?
É uma coisa que eu fico muito feliz em saber, mas eu não me deslumbro com nada, eu faço aquele trabalho porque eu gosto. Quando eu fiz um trabalho para Netflix, eu só me toquei, só parei para pensar realmente que era para Netflix, quando eu já tinha feito. A minha turnê tem 800 pessoas, mas eu não fico pensando nisso, eu fico pensando que é o meu show, e que aquelas pessoas estão ali para compartilhar um momento de alegria comigo. Eu não faço por nenhum status. Tanto faz ter 100 pessoas, como ser mil, eu tô ali porque eu tô me dando aquele momento de prazer como artista. Então, eu percebo que eu tenho esse potencial, eu sei, que eu não sou doido, mas eu acho que eu vou levando de uma forma tão leve, que quando eu vejo já aconteceu.
Qual foi o caminho das pedras para você chegar onde está? E o que mais pretende alcançar?
O tempo todo o ser humano, não só o artista, tem que estar se desafiando, eu acho que a partir do momento em que você para de se desafiar e que você acha que já conquistou tudo, é o momento que você perde tudo, você deixa de ser, porque a gente só é aquilo que deseja. É uma ambição saudável, que a gente tem que ter, que é almejar algo na sua carreira e viver em busca por algo mais. Agora não confunda isso com ganância, que é muito diferente. Ambição é você querer construir, e você se sente bem porque construiu, já a ganância é você não reconhecer o que você construiu, e você tá o tempo todo querendo mais. Então, se houver um equilíbrio vai ser massa!
Já que você falou no filme “As aparências enganam”, que está gravando, pode dar spoilers pra gente?
Por enquanto, mulher, eu não posso dar spoiler do filme. O que eu posso falar é que é um filme muito massa, que está sendo gravado no Ceará, em um resort, e que eu sou um dos protagonistas do filme. Por enquanto é tudo que eu posso falar.
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Eita danosse, a gente vai amar ver Max protagonizando um filme nas telonas
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