Indigenista Bruno Pereira fez jornalismo na UFPE e participaria de filme inspirado no seu trabalho e na proteção de indígenas; ‘Ele será uma inspiração’, diz amigo

16/06/22


Bruno Pereira e Leonardo Sette em um voo entre Manaus e Tabatinga, no Amazonas, outubro de 2018 — Foto: Arquivo pessoal
Bruno Pereira e Leonardo Sette em um voo entre Manaus e Tabatinga, no Amazonas, outubro de 2018 — Foto: Arquivo pessoal

 

O paraibano que cresceu no Recife acompanhava o jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian, em viagem pelo Vale do Javari, quando a dupla sumiu, no domingo (5).

Nesta quarta, dois homens confessaram ter matado os dois e a Polícia Federal disse, em coletiva, que corpos foram encontrados em uma área apontada por suspeitos. No entanto, será necessário confirmar tudo por meio de perícias.

Descrito por colegas como um aluno de inteligência “fora da média”, Bruno deixou a UFPE em 2003. Segundo Leonardo, porque não tinha interesse no curso. Era uma das coisas que os dois tinham em comum, assim como o zelo por povos indígenas.

“Ele trabalhou um tempo no INSS [Instituto Nacional do Seguro Social] no Recife, mas já sonhava com a Amazônia e os povos indígenas isolados. Eu comecei a trabalhar na Amazônia primeiro, formando cineastas indígenas e produzindo filmes. Aí ele conseguiu um trabalho no programa ambiental da hidrelétrica de Balbina. Assim, conseguiu ir para a Amazônia”, contou.

O jornalista André Duarte foi colega de escola do indigenista, mas levou um tempo para perceber que o homem que havia desaparecido no Vale do Javari, com o jornalista inglês, era o Bruno que ele conhecida.

É que na lista de chamada de estudantes no antigo Colégio Contato, na área central da capital pernambucana, ele era conhecido como Bruno Cunha. Por lá, também era chamado de “cabeça”, apelido dado por seus colegas.

“Popular, extrovertido e dono de uma risada espalhafatosa, o Bruno daqueles tempos já demonstrava um espírito de liderança e inquietude. Sua coragem, hoje conhecida internacionalmente, já se revelava nas entrelinhas daqueles anos felizes entre 1996 e 1998. Defendia os amigos e assumia a culpa por broncas alheias”, descreveu, em uma publicação sobre o indigenista em uma rede social (leia detalhes mais abaixo).

Longa metragem
Leonardo Sette e Bruno Pereira com Olívia Mindêlo e Beatriz Matos na última vez que os dois se viram pessoalmente, em 2021 — Foto: Arquivo pessoal
Leonardo Sette e Bruno Pereira com Olívia Mindêlo e Beatriz Matos na última vez que os dois se viram pessoalmente, em 2021 — Foto: Arquivo pessoal

Leonardo Sette compartilhou momentos com o amigo e revelou que está produzindo um longa metragem de ficção inspirado no trabalho dele e na proteção dos povos indígenas isolados. Os dois planejavam trabalhar juntos no filme.

Sette contou que a pesquisa para o roteiro começou em 2012, com apoio do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura ( Funcultura).

A atuação do indigenista nas filmagens seria como consultor, na construção dos cenários da forma mais realista como um indigenista que está monitorando em torno de povos isolados e como eles se comportam.

Sette disse que, eventualmente, Bruno poderia ter até um papel. “O roteiro foi se desenvolvendo ao longo dos anos e fomos captando os recursos e me associei a Emilie Lesclaux e Kleber Mendonça Filho, da produtora CinemaScópio, e conseguimos parceiros internacionais”, disse.

Esse, no entanto, não era o único projeto dos dois. “Nos últimos anos, a gente desenvolveu projetos juntos. Estive lá no Vale do Javari, dei oficinas de vídeo pra o povo Matsés”, lembrou.

Trajetória na Amazônia

Depois de alguns anos na Usina Hidrelétrica de Balbina, Bruno Pereira foi aprovado no concurso da Fundação Nacional do Índio (Funai). Quando passou no concurso, escolheu ir pra o Vale do Javari, mesma região onde desapareceu junto com o jornalista inglês Dom Phillips

A terra indígena é o local que tem a maior concentração de indígenas isolados do mundo. No entanto, a área também fica em uma posição geográfica que atrai organizações criminosas, muitas delas atuando em mais de um tipo de crime ao mesmo tempo.

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