Sem Carnaval, festas fechadas e vendas de camisas se tornam saída para blocos tradicionais do Recife e Olinda

15/01/22
por Bruno Vinicius
blogfolhadosertao.com.br

Alguns blocos, mesmo com a promessa  do frevo na rua, farão festas em ambientes restritos

 

FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
Sede da Pitombeira dos Quatro Cantos  em Olinda – Foto: Filipe Jordão/JC Imagem

 

Lugares de encontros, as ladeiras de Olinda e as ruas centrais do Recife serão, mais uma vez, palcos vazios no Carnaval. Com isso, as tradições folclóricas e as agremiações tradicionais que preenchem o calendário deixarão, pelo segundo ano consecutivo, de saíram pelas cidades-irmãs. Por enquanto, a possibilidade de realizar as festas em ambientes fechados ainda é incipiente, já que o Governo de Pernambuco ainda não se pronunciou sobre os protocolos sanitários para o período. Apesar disso, há blocos que estão planejando festas em ambientes restritos – com controle de público e vacinação -, antes ou depois do Carnaval.

Vale salientar que a medida até desencontra com o objetivo dos blocos, diferente das festas e camarotes que já existiam nesse período. São agremiações que compreendem que o Carnaval é feito na rua, de maneira popular e aberta ao público. Isso desmotivou outras alas a realizarem festas em ambientes fechados, restringindo apenas à venda de camisas e outros itens como uma forma de sobrevivência para o período.

Por causa dos avanços de casos de covid-19 e gripe, a Pitombeira dos Quatro Cantos foi uma das primeiras organizações a cancelar o carnaval.

Pioneira na apresentação de bailes na Cidade Alta, a agremiação pretende fazer o tradicional Baile Amarelo e Preto na Festa do Momo. O evento, que não é realizado há 35 anos, acabou sendo a forma que a Pitombeira encontrou para ter uma sobrevida no Carnaval. “Vamos para o terceiro ano parado, precisa de manutenção, então por isso a gente abre para vender camisa e abre o bar para movimentar. Estamos fazendo ensaios fechados, mas têm que ter a reserva de mesas e apresentação do comprovante de vacinas. Assim, tem sido melhor para termos um controle das pessoas que entram e saem”, conta o presidente da Pitombeira, Hermes Neto.

O ato retoma uma tradição clássica dentro da troça. O evento foi idealizado pela Ala Jovem da Pitombeira, que fez sua primeira edição no Mercado Eufrásio Barbosa. A história é contada pelo ex-desfilante da troça, Paulo Kruze, em entrevista ao documentário “Memória Amarela e Preta”, no episódio “A Ala Jovem e o Baile Amarelo e Preto”. O vídeo mostra que a iniciativa da Pitombeira na época inspirou outros blocos da cidade a fazerem seus próprios bailes, por causa do sucesso da mesma.

Cariri recebe Macuca neste sábado

Apesar de não ter previsão para o Carnaval, o centenário Cariri Olindense tem realizado algumas prévias no Largo de Guadalupe, em Olinda, local de sua sede. Neste sábado a troça receberá o Boi da Macuca na 5ª edição do “Cariri Convida”, com a participação da Orquestra do Maestro Oséas e DJ 440. O clube também está com camisa à venda no site.

“Não se faz Carnaval sem dinheiro, é preciso ter dinheiro para fazer Carnaval.No caso nosso, como o Cariri é uma agremiação estruturada, a gente não depende só disso. Mas a nossa intenção é sempre fazer a cena cultural do Carnaval ativa”, diz Hilton Santana, representante do Cariri.

Já a Macuca ainda estuda a possibilidade de fazer um festejo fechado com os protocolos que estiverem vigentes durante o período carnavalesco.”Ainda não definimos o que vai ser, mas queremos ocupar o espaço que for possível dentro do Carnaval. Como é um cenário de incerteza, aguardamos o decreto do Governo do Estado para a realização de qualquer evento”, disse Rudá.

Segundo ele, os eventos fechados não mantém, necessariamente, a estrutura da agremiação, porém ajudam a girar a cadeia criativa do Carnaval. “Eventos fechados não são necessariamente pagos. Podem ser fechados, com controle de entrada, mas gratuitos também. Isso vai depender de como a agremiação consegue arrecadar recursos ou se ela tem condições de fazer um evento fechado gratuito, porque ele é muito mais custoso que colocar um cortejo na rua”, conta Rudá Rocha.

Trabalhadores no  Carnaval 

No último Carnaval na Cidade Histórica, foram mais de 100 mil empregos gerados. São postos de empregos gerados, especificamente, na Festa do Momo. Os blocos são os principais responsáveis por manter essa cadeia criativa. “Diretamente, os músicos, os passistas, os porta-estandartes, galera de bar, segurança civil e fora outras pessoas, que nosso horário é bem significativo, a gente leva crer que 4h da manhã está motivada pelo cariri”, conta Hilton, que é responsável por colocar a única troça na rua às 4h da manhã, em olinda.

Segundo Rudá, a Macuca contrata cerca de 500 pessoas no período carnavalesco. “Entre músicos, produtores culturais, equipe de segurança, bombeiro civil…”, diz ele.

OS 60 ANOS DA CEROULA

A Ceroula, que completou 60 anos nesta quarta-feira (5), comemorará seu aniversário em 22 de janeiro. O evento terá Diogo Nogueira, Art Popular e Fundo de Quintal, no Patteo Shopping, em Olinda, em um espaço chamado “Arena Ceroula”. A troça havia traçado dois planos para o Carnaval, caso fosse liberado a festa na rua. No dia do aniversário, houve queima de fogos no Alto da Sé, em Olinda, em comemoração as seis décadas.

Elefante em definição

Apesar da defesa de eventos fechados a partir de alguns blocos, outros preferem aguardar como se dará a pandemia. É o exemplo do Elefante de Olinda, considerado Patrimônio Vivo de Pernambuco, que faz 70 anos em 2022. A diretoria do bloco ainda não tomou uma decisão sobre a realização de festas, tendo em vista a situação sanitária atual. Por enquanto, a agremiação está vendendo camisas comemorativas a R$ 45. Todo o lucro será revertido para a manutenção do clube e o auxílio aos trabalhadores da cultura.

Eu Acho É Pouco

Já o Eu Acho é Pouco, que decidiu não realizar nenhum evento prévio ou durante os quatro dias de festas, também abriu vendas de camisas da agremiação, que podem ser compradas por R$ 50. A blusa tem desenho da artista Clara Moreira e está à venda na loja Me Poupe. “Não vamos sair no #Carnaval, mas carregaremos seu fogo nas nossas memórias”, disse o bloco, que também confirmou cancelamento do desfile antes dos órgãos públicos.

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