27/10/24
Estadão Conteúdo
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Nas redes sociais, o deputado destacou o fato de a operação ser aberta dois dias antes do segundo turno das eleições
O parlamento paga R$ 6,5 mil referente ao espaço, que deveria ser um escritório político. Também arca com salários dos secretários que, segundo a PF, acabam prestando serviços para as empresas de Gayer.
Nas redes sociais, o deputado destacou o fato de a operação ser aberta dois dias antes do segundo turno das eleições, “da qual seu candidato participa em Goiânia”.
Segundo o parlamentar, as buscas visam “claramente prejudicar seu candidato”. “Vieram na minha casa, levaram meu celular, meu HD. Essa democracia relativa está custando caro”, bradou, dizendo não saber do que trata a investigação.
Os achados sobre as empresas de Gayer mantidas com dinheiro público constam do inquérito da Operação Discalculia, aberta nesta sexta-feira, 25, no encalço do parlamentar e de seus assessores. O que a Polícia Federal descobriu é que os aliados do deputado sabiam da gravidade dos desvios (detalhes mais abaixo).
Segundo a Polícia Federal, Gayer é o “autor intelectual” de um esquema de desvio de cota parlamentar, inclusive via uma organização social criada com documentos falsificados. O nome da operação faz referência inclusive a essa empresa constituída com suposta fraude.
Discalculia é o nome de um “transtorno de aprendizagem relacionado a números”. A PF escolheu a expressão para batizar a ofensiva porque um erro no registro da organização usada para desvios fazer com que quadro social da empresa fosse formado por crianças de 1 a 9 anos.
No caso das suspeitas envolvendo as empresas mantidas pelo deputado com dinheiro público, os investigadores destacam por exemplo, que a loja Desfazueli – registrada em nome do filho de Gayr – era uma continuação das operações realizadas anteriormente sob o nome de Bolsonarius.
Segundo a Polícia Federal, Gayer tinha “postura de comando frente ao empreendimento”, orientando a equipe e monitorando o desempenho das vendas, “demonstrando um compromisso com o sucesso do negócio”. Em uma conversa com João Paulo, Gayer ordena que este ‘leve as camisetas e adesivos para escola’.
Assessor temia que Gayer vivesse meme do ‘senhora, senhora’
Um assessor do deputado federal Gustavo Gayer, investigado por desviar cota parlamentar para bancar suas empresas, reconheceu a gravidade das irregularidades que aconteciam no escritório político do parlamentar e Goiânia. Ele temia que, se as suspeitas de peculato viessem à tona, Gayer vivesse situação semelhante a uma investigada que, em 2015, fugiu nas ruas de Goiás, criando o meme ‘senhora, senhora’.
A referência ao meme ‘senhora, senhora’ aparece na mensagem trocada entre João Paulo Cavalcante, que atua como assessor do deputado, e Marco Aurelio Nascimento, secretário parlamentar. “A escola está sendo paga com recuso público e tá sendo usada para um fim totalmente que tipo num existe né, num tem como ser assim e aí eles vão levando ou seja ainda não entenderam a gravidade sabe”, diz João.
O diálogo faz referência a uma reportagem de 2015, exibida pela TV Anhanguera, afiliada da TV Globo de Goiás, que viralizou nas redes sociais e é relembrada até hoje. Na época, uma repórter pediu explicações a uma funcionária pública que havia batido ponto e deixado o trabalho, mas a mulher fugiu. A repórter então correu atrás dela dizendo: “Senhora? Senhora?”.
João chega a dizer que Gayer seria um “alvo” fácil e reconhece a ilegalidade. “O Gustavo hoje ele é uma vidraça ele é um alvo e se for pra cima moço infelizmente a gente tá tipo errando né. Nesse sentido a gente tá pregando uma coisa e tá vivendo outra.. infelizmente a gente tem muitas coisas erradas acontecendo aí”
Os diálogos foram encontrados no celular de João, que foi preso sob suspeita de ter financiado, incitado e participado do 8 de janeiro. Segundo a PF, no aparelho do assessor foram colhidos “elementos informativos do desvio de recursos públicos para a prática dos atos antidemocráticos, prática levada a efeito conjuntamente com Gustavo Gayer”.
Segundo a Polícia Federal, João Paulo teria usado uma empresa de marketing, contratada pelo gabinete de Gayer, para “burlar vedação legal à sua contratação como Assessor Parlamentar, uma vez que não preencheria os requisitos exigidos”. João gerenciava a agenda do deputado federal, contrariando os termos das notas fiscais emitidas em nome de sua empresa, segundo a PF.
O inquérito aponta que João Paulo de Sousa Cavalcante recebeu pelos serviços, por intermédio de sua empresa, o valor total de R$24 mil, em 3 parcelas mensais de R$8 mil, nos meses de março, abril e maio.