10/08/20
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Por Chico Carlos
A melhor forma de homenagear Renato Barros, cantor, compositor, produtor e guitarrista da banda Renato e Seus Blue Caps (RSBC), que começou fazendo rock e pop e se notabilizou por compor versões de canções internacionais, sobretudo, dos Beatles, seja escutando, curtindo e dançando as músicas que encantou corações e mentes ao longo de décadas.
Com estilo próprio, as canções eram de fácil assimilação, fizeram a “cabeça” daquela geração, colocaram vários hits no topo do sucesso e conquistaram milhares de fãs pelo Brasil afora. Relembrar dos anos 1960, é fazer uma viagem pelo túnel do tempo, por meio de hits consagrados como “Até o fim”, “Menina Linda “, “Não te esquecerei”, “Ana”, “Feche os olhos” “Meu Primeiro Amor” , “ A Primeira Lágrima”, “Tudo que sonhei”, entre outras pérolas. Muitos casais se conheceram nos bailes, encontros e festas, onde a presença de Renato e Seus Blue Caps, era como se fosse uma “figurinha carimbada”, em álbuns de ídolos pop.
Alavancados pela exposição nas rádios e TVs, os shows em clubes, circos, ginásios, associações, foram transformando o grupo formado em 1959 pelos irmãos Renato Barros, Ed Wilson e Paulo César Barros, Euclides de Paula (futuro guitarrista-solo e arranjador do grupo instrumental The Pop’s) e Gelson, jovens moradores do bairro da Piedade, no Rio de Janeiro, com o nome Bacaninhas do Rock da Piedade. É bem verdade que o primeiro nome foi censurado e o grupo mudou de nome, inspirados num conjunto norte-americano de rock and roll e rockabilly, Gene Vincent and His Blue Caps.
No ano de 1960, seguiram na estrada e os shows surgiram Registre-se que, em 1965, Renato e Seus Blue Caps fizeram enorme sucesso com o compacto “Menina Linda”, como também o LP da CBS “Vida a Juventude entrou na cena do rock nacional, sem caras e bocas. É claro que o grupo ganhou mais impulso no programa de Jovem Guarda, apresentado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, em agosto daquele ano. Depois começou de fato a escalada de sucesso de Renato Barros como herói da guitarra (turbinada com os efeitos do pedal fuzz, também chamado de Wah-Wah,) e como ídolo da juventude pop do Brasil dos anos sessenta.
Vale ressaltar que, mesmo fazendo sucesso em cima de versões internacionais, a banda produziu músicas autorais – Se fosse soubesse; Será mentira ou será verdade; Não me diga adeus; Como há dez anos atrás; Obrigado pela atenção; Você não merecia; Tire os grilos da cabeça; Eu não aceito o teu adeus; 365 Dias,etc.
A banda RSBC é a que estava há mais tempo em atividade no Brasil, gravou 21 álbuns e sempre ajudou novos artistas como por exemplo Raul Seixas, Michael Sullivan. E Renato Barros também compôs lindas canções para Roberto Carlos, Jerry Adriani, Wanderléa, Wanderley Cardoso, The Fevers, Erasmo Carlos, Leno e Lilian, entre outros.
Por outro lado, ele tinha uma ligação especial com Pernambuco, principalmente com a torcida do Sport Club do Recife; uma das letras mais cantadas pelos rubro-negros da Ilha do Retiro era o hino à Treme Terra, escrita por ele no final da década de 1979. Além disso, foi grande amigo do radialista Edvaldo Morais (in memoriam) e produziu vinhetas marcantes para a Rádio Clube/ Escrete de Ouro – Bola ao Centro, Alvorada Esportiva, Instantes Finais, Super Rádio Clube, e Programa Caixinha de Pedidos, com o inesquecível Walter Lins.
A notável importância da banda nesta “Era Digital”, foi o lançamento de seus discos e coletâneas em CD, mostrando que a música de Renato e Seus Blue Caps sobreviveu ao tempo, atravessou gerações, e se mantém viva, alegre e espontânea. RB e seus amigos escreveram uma bela história no rock pop da música brasileira. Avaliamos que o grande legado deixado por Renato Barros foi basicamente cantar músicas simples, pontiagudas, aquelas que ficaram nas memórias de milhares de fãs em todo o Brasil. Sem falar na pegada sonora e harmônica dos vocais que, sem dúvida alguma, fizeram a diferença ao longo de gerações.
Chegamos ao momento mais triste desse texto: Renato Barros morreu no último dia 28 de julho, aos 76 anos, e estava na atividade, nos palcos há mais de 60 anos. Esteve internado por 10 dias num hospital de Jacarepaguá, depois de passar por uma cirurgia no coração; teve complicações pulmonares e não resistiu, tornou-se uma estrela na imensidão do céu.. Lágrimas rolaram pelas faces de seus fãs. Dor e tristeza para seus familiares e amigos. Um corte de navalha na pele, que não sangra, mas dói e muito. Um minuto de silêncio.
A escritora e, talvez a maior pesquisadora do artista, Lucinha Zanetti, publicou em seu Facebook, o capítulo final do seu livro Renato Barros: Um Mito, Uma Lenda” (já fizemos a compra de um exemplar). A riqueza e preciosidade dos fatos, em ordem cronológica, com informações das filhas Érica e Renata Barros, mostraram claramente o profundo carinho, amizade e respeito da escritora com o artista. Ainda falando do livro, ele fez um pedido inusitado a escritora: “Esta é a minha história e está sendo contada por mim, então não permita que outros modifiquem a nossa história ao bel prazer. Eu lhe faço este pedido”.
Descanse em paz. Com certeza Lucinha está cuidando muito bem da história desse genial artista que deixou eternas saudades. Os fãs agradecem, com reverência e palmas. Obrigado, Renato Barros!
*Chico Carlos é jornalista e crítico de música