Crise por cima de crise com a “defenestração” de mais um ministro de Bolsonaro

16/05/20

Por Sala de Democracia Digital da FGV/blogfolhadosertao.com
Saída de Teich reacende debate nas redes sobre crise política em meio ao agravamento da crise de Covid-19
Foto: Marcello Casal Jr/Agência BrasilFoto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Com 1,27 milhão de menções no Twitter em apenas quatro horas, debate sobre o governo supera a discussão a respeito da pandemia (605 mil menções);

O episódio voltou a potencializar o campo de oposição ao governo na rede, que chegou a 65% do debate, isolando ainda mais o campo de apoio, que recuou para 12%;

Nos grupos públicos de WhatsApp observados, o pedido de demissão do Ministro da Saúde foi tema de quatro dentre os cinco links mais compartilhados.

A saída de Nelson Teich do comando do Ministério da Saúde, em menos de um mês no cargo, aumentou, mais uma vez, a distância entre pautas políticas e preocupações sanitárias no Twitter.

Das 12h de sexta (15) – quando do anúncio da demissão – até as 16h, foram registradas mais de 1,27 milhão de menções ao governo contra quase 605,1 mil referências à pandemia do novo coronavírus, segundo um levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP).

A discussão sobre questões políticas e o debate sobre a crise na saúde tinham retomado relativa paridade desde 6 de maio, doze dias após a crise gerada pela demissão do agora ex-ministro Sergio Moro (Justiça).

Porém, o anúncio da demissão de Teich voltou a chamar a atenção sobre o governo, gerando um pico de 409,7 mil menções às 12h de sexta.

Assim como nas demissões de Moro e do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, o episódio envolvendo Teich inflou a base partidária de oposição ao governo na sexta (15) – que registrou um aumento de quase 160% de participação no debate geral no Twitter, em relação ao dia anterior.

Os ataques miram diretamente o presidente Jair Bolsonaro, acusado de forçar a demissão de Teich em função da sua resistência ao uso da hidroxicloroquina, cuja prescrição tem sido fortemente defendida pelo presidente como principal medida de combate ao novo coronavírus.

Estão no centro desse debate – em que se destacam os influenciadores @felipeneto, @mariaboop e @rolandinho, a comentarista @gabrielaprioli e o ex-ministro da Saúde @lhmandetta – o fato de Bolsonaro não possuir formação na área da saúde e a sua insistência em priorizar o medicamento sobre o isolamento social, recomendado por autoridades sanitárias no mundo.

Encabeçada pelo presidente @jairbolsonaro, pelos deputados federais @carlazambelli38 e @bolsonarosp, pelo presidente do PTB, @blogdojefferson, e pelo influenciador @leandroruschel, a base de apoio ao governo no Twitter, por outro lado, se concentra em reiterar a urgência da aprovação da hidroxicloroquina para o tratamento da COVID-19 e em reivindicar o fim do isolamento social.

Saúde foi principal tema entre as mídias e links mais compartilhados no WhatsApp

Em levantamento em 216 grupo públicos de WhatsApp, identificou-se que, entre 12h e 15h, o pedido de demissão de Nelson Teich foi tema de quatro entre os cinco link mais compartilhados no aplicativo.

O quarto link mais compartilhado também se relaciona com o tema de saúde, sendo um artigo científico, ainda sem revisão por pares, que não encontra evidências entre a adoção de lockdown e a diminuição de casos de COVID-19.

Já entre as mídias compartilhadas quatro fazem referência à temática da saúde. A imagem mais compartilhada traz uma afirmação publicada pelo jornal alemão “Bild”, de que o lockdown teria sido um erro.

Outros dois conteúdos de destaque são uma imagem de uma receita médica para o uso de hidroxicloroquina e azitromicina, acompanhada de um áudio em que um homem afirma que as substâncias haviam sido receitadas para seu sobrinho e que a própria equipe médica que o atendeu recomendou que ele procurasse o Ministério Público para obter acesso aos medicamentos. Por fim, circula um vídeo com imagens de um suposto hospital de campanha desativado no Ceará.

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