Professor da Univasf integra escavações arqueológicas na Romênia em busca de vestígios de neandertais

15/08/25
Ascom Univasf
http://blogfolhdosertao.com.br

Em um dos cenários arqueológicos mais promissores do Leste da Europa, o professor Gustavo Neves de Souza, do Colegiado de Arqueologia e Preservação Patrimonial (Carqueol) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), participa de um projeto internacional que busca compreender como humanos modernos (Homo sapiens) e neandertais interagiram durante a Idade da Pedra. As escavações, iniciadas em 22 de julho, ocorrem em duas cavernas da Garganta do Vârghiş, na Romênia, um cânion que pode ter funcionado como abrigo para populações ancestrais das duas espécies.

O estudo é liderado pelos professores da Universidade de São Paulo (USP) Walter Neves e André Strauss, em cooperação com os pesquisadores Ștefan Vasile, da Universidade de Bucareste, e Marian Cosac e George Muratoreanu, da Universidade Valahia de Târgoviște, que atuam na região desde 2014. Convidado por Walter Neves, o professor Gustavo de Souza integra a equipe responsável pelas escavações e pela curadoria inicial do material coletado, trazendo sua experiência em arqueologia e na análise de material lítico — objetos produzidos em pedra, moldados ou lascados para cortar, raspar ou perfurar — que contribuem para a compreensão do modo de vida das populações antigas.

“O objetivo do projeto é compreender as possíveis interações entre humanos e neandertais no vale do rio Vârghiş. Estamos escavando sítios na região em busca de evidências que nos permitam entender a ocupação da Europa por diferentes espécies humanas”, conta Souza. As escavações já alcançaram camadas datadas de cerca de 42 mil anos, período em que Homo sapiens e neandertais teriam coexistido na Europa, onde foram encontradas diversas ferramentas.


Equipe que encerrou a escavação nesta temporada, composta por brasileiros, um italiano, um húngaro e um alemão.

No início dos trabalhos, em 24 de julho, os pesquisadores encontraram dois fragmentos de ossos de animais: um de cavalo e outro, ainda não identificado, com sinais de modificação por ação humana. Um desses ossos foi descoberto durante uma escavação coordenada pelo professor do Carqueol da Univasf, na Caverna Tatarului. “As amostras e artefatos coletados passarão por análises laboratoriais posteriores. Esses estudos podem nos ajudar a compreender como ocorreu a ocupação dessa área e, assim, refinar a cronologia da presença de diferentes espécies humanas na Europa”, pontua o docente.

O estudo também conta com a participação de pesquisadores de Portugal, dos Estados Unidos e da Argentina. Além de ossos e ferramentas atribuídos aos neandertais, a equipe está examinando sedimentos das cavernas em busca de vestígios genéticos de hominínios que possam ter vivido na região. Segundo Souza, a pesquisa deve se estender por vários meses e poderá incluir novas etapas de campo na Romênia, dependendo dos resultados obtidos. “Os indícios são promissores e é provável que tenhamos mais temporadas de escavação”, afirma.

Sobre sua participação no projeto, Souza destaca que a experiência em um contexto arqueológico tão distinto do brasileiro contribui para ampliar seus conhecimentos e perspectivas de pesquisa. “Apesar de não haver conexão direta com meu trabalho no Brasil, esta experiência amplia minha atuação em contextos arqueológicos. No Brasil, não há sedimentos com presença de outras espécies humanas nem ocupações tão antigas”, afirma Souza.

Além disso, segundo o docente, a participação da Univasf em uma equipe internacional traz benefícios significativos para a Universidade, pois não apenas amplia a visibilidade da instituição, tornando-a conhecida em um grupo que reúne pesquisadores de diversas nacionalidades, como também possibilita a incorporação, no ambiente acadêmico, de todo o conhecimento adquirido em um grande projeto. “Esse é o único projeto de escavação arqueológica brasileiro na Europa, e posicionar a Univasf nesse cenário é essencial para fortalecer parcerias científicas e acessar conhecimentos de ponta, proporcionando aprendizado em primeira mão sobre os contextos que trabalhamos em sala de aula. É realmente extraordinário poder discutir com os discentes situações com as quais tive contato direto, tão importantes para compreender os processos de ocupação humana antiga na Europa”, finaliza Souza.

Deixe um comentário