Os chineses começam, de fato, a fabricar carros no Brasil e isso pode mudar o perfil da mais importante indústria que o país abriga

17/08/25
Por Fernando Castilho
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GWM comprou duas linhas de montagem no Japão, testou na matriz e mandou para o Brasil iniciando a montagem de carros de alto luxo que já vende aqui.

Ricardo Stuckert / PR

Lula da Silva, durante visita à linha de produção e cerimônia de inauguração da Fábrica da GWM Brasil. Fábrica da GWM BrasilIracemápolis (SP). – Ricardo Stuckert / PR

O presidente Lula da Silva foi a Iracemápolis (SP), nesta sexta-feira (15) inaugurar a fábrica da Great Wall Motor (GWM) Brasil, a primeira unidade da uma montadora chinesa no Brasil e nas Américas, a iniciar a produção de veículos híbridos e elétricos no país.

Lula incentivou a GWM a usar o Brasil como ponto estratégico para expansão na América Latina transformando o país numa plataforma, para venderem o produto na América Latina.

Fábrica reciclada

O sítio da GWM abrigou uma planta da Mercedes Benz até 2021 e para produzir logo no Brasil a empresas compraram os robôs no Japão os levou para duas linhas produção foram importadas da China onde foram testados e depois enviados ao Brasil.

A GWM foca no segmento de SUVs, recheados de tecnologia, com preços a partir de R$199 mil, mas que podem chegar a R$325 mil na versão GT.

Não é a BYD

O movimento da empresa é completamente diferente da também chinesa BYD (Build Your Dreams) que também inaugurou no mês passado seu complexo industrial de Camaçari (BA), onde no passado funcionou uma unidade da Ford e onde promete produzir o SUV Song Plus, um híbrido plug in, e o elétrico Dolphin Mini.

A GWM está montando seus carros em São Paulo, já faz as primeiras unidades e só agora o seu presidente da GWM internacional, Parker Shi, admitiu aproveitar a isenção dada pelo Brasil para montagem de carros a partir de CKD (carros prontos desmontados).

 

Mais que o CKD

Shi disse que está trazendo as peças da China para a fabricação dos veículos porque quer ter uma linha de sistemistas. Até porque como deseja Lula seu foco é exportar para os países do Mercosul, onde o índice mínimo de nacionalização dos veículos precisa ser de 35%.

O movimento da GWM é importante não só para o mercado onde a empresa vendeu 29 mil unidades em 2024 e 16 mil no primeiro semestre deste ano, mas para todo o setor automobilístico instalado no Brasil que é certamente o de maior acesso ao governo.

Mais chineses

Porque ela é a que mais se aproxima do modelo de negócios que o setor instalou no Brasil. Até porque, além dela JAC e Cherry já se instalaram com e agora estão chegando marcas como a Neta, Omoda & Jeecoo, Gac e Zeekr.

E porque outras quatro Changan, FAW, DongFeng e BIAC (caminhões Foton) devem chegar, o que significa dizer que o mercado brasileiro deve ter ao menos 16 marcas.

Ricardo Stuckert / PR

Lula da Silva, durante cerimônia de inauguração da Fábrica da GWM Brasil. Fábrica da GWM Brasil Iracemápolis (SP). – Ricardo Stuckert / PR

Susto nas locais

Esse movimento assusta as empresas instaladas no país e que simplesmente não acreditaram que o Brasil não compraria carro elétrico de luxo porque eles são caros e não montaram planos para chegar antes dos chineses.

E como sempre acontece, já pensam em nova ajuda do governo uma vez que o Programa MOVER que oferece R$19,4 bilhões em créditos tributários para montadoras e fabricantes de autopeças que investem em pesquisa, desenvolvimento, eficiência energética e conteúdo local não dará conta.

Novo amor

No mesmo dia em que Lula estava em Iracemápolis (SP) as montadoras de veículos com operações no Brasil trabalham, por meio da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) num pacote de medidas de reindustrialização que será apresentado ao governo com o velho discurso de que mais incentivo ainda é necessário como reduzir a carga de impostos.

O fato novo é que a chegada dos chineses assusta as empresas com operações no Brasil. Mesmo a Stellantis que tem fábrica em Pernambuco preferiu manter seus planos de fabricar apenas carros a combustão mesmo com os movimentos da BYD.

Divulgação

Carros chineses chegam no Brasil. – Divulgação

Modelos elétricos

Na verdade, ela até tem um programa de fabricar no país modelos elétricos, mas ainda sem uma data de apresentação. Talvez porque com mais de três milhões de carros vendidos ao longo cinco décadas ela não poderia deixar esse mercado e cuidar apenas de elétricos. Esse ainda é um grande ativo que vai durar.

Não é isso que está acontecendo. Um estudo de Performance Veículos Usados (PVU), divulgada pela Megadealer, uma empresa focada em levantamentos para o setor automotivo mostra que a Jeep é a marca que ocupa o topo da lista na perda de clientes com veículos seminovos para as chinesas BYD e GWM.

Novo padrão

O problemas das montadoras nas operações no Brasil veículos a combustão é que os chineses com ajuda do seu governo são muito mais rápidos nas ações.

Segundo a Anfavea, em junho os chineses venderam 12,6 mil carros, mas fizeram a importação de 56,2 mil e tinham um estoque de 111,0 mil unidades em dezenas de pátios.

Muito agressivos

A entidade é critica a forma como o chineses estão chegando e como o governo está tratando os chineses e diz que o modelo d e montagem CKD / SKD gera aproximadamente 2 a 3 empregos indiretos devido a seu baixo índice de localização enquanto as plantas automotivas nacionais com processos de produção complexos geram em torno de 10 empregos indiretos para cada 1 posto de trabalho direto.

Velhos parceiros

Eles têm razão. Mas é que diferentemente de outros tempos, o presidente Lula que veio do setor metalúrgico está apaixonado pela China em função do embate com Donald Trump.Num discurso inflamado, Lula disse aos empregados da GWM que eles vieram para “o país certo, que tem um povo trabalhador, muito trabalhador. É um povo que aprende as coisas com muita facilidade. É por isso que nós temos uma relação muito forte com a China. É por isso que a China é o nosso principal parceiro comercial”.

Paixão do momento

Paixões arrebatadoras nem sempre terminam bem. E certamente o governo Lula não vai ajudar as montadoras como no passado. Ele está encantado com o novo maior parceiro.
Sentido que não é mais amada, a Anfavea tem orientado suas associadas a se desfiliar da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). E tem obtido sucesso até agora, ao menos Stellantis (dona de Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën), Toyota, Renault e Audi, se desligaram da ABVE. A indiferença dói.

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