Trump desmonta ilusões sobre a política externa dos EUA, diz The New York Times

02/03/25

Por 247

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Jornal norte-americano destaca como Trump e Vance desafiam narrativas sobre hegemonia dos EUA e alianças internacionais
Volodymyr Zelensky, Donald Trump e JD Vance
Volodymyr Zelensky, Donald Trump e JD Vance (Foto: Reuters/Brian Snyder )

 Uma análise publicada pelo The New York Times neste sábado (2) destaca como Donald Trump e seu vice-presidente, J.D. Vance, estão desafiando as ilusões da política externa dos Estados Unidos. Segundo o artigo, reproduzido pelo portal Observer Network, os dois líderes estão rompendo com a retórica tradicional da hegemonia norte-americana e expondo a fragilidade das alianças ocidentais. O texto cita um embate recente entre Trump e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ocorrido no Salão Oval, como um exemplo da nova abordagem direta e sem filtros da Casa Branca.

O artigo inicia citando o ex-secretário de Estado Henry Kissinger, que, em 2018, afirmou que Trump poderia ser um desses líderes históricos que aparecem para “marcar o fim de uma era e forçar o sistema a abandonar suas ilusões”. Para o The New York Times, essa previsão se concretiza agora, com Trump adotando uma postura que contraria décadas de consenso bipartidário sobre o papel dos EUA no mundo.

O colapso das ilusões ocidentais

A publicação critica a crença de que os EUA ainda podem manter a posição de “líder supremo do Ocidente”, sustentando um sistema global de alianças sem custos significativos. Segundo o jornal, a realidade é que a sobrecarga geopolítica levou Washington a uma crise estratégica, exigindo concessões e uma redistribuição de responsabilidades entre os aliados.

“Os Estados Unidos precisam reconhecer que vivem um mundo multipolar e não podem mais se dar ao luxo de agir como se estivessem nos anos 1990”, diz o artigo. Além disso, o The New York Times questiona a visão de que a Europa ainda pode ser uma parceira estratégica em pé de igualdade com os EUA. Com economias estagnadas, declínio populacional e capacidade militar reduzida, os países europeus teriam perdido a relevância necessária para manter essa posição.

O artigo também desafia o discurso predominante sobre a guerra na Ucrânia. De acordo com a publicação, a crença de que Kiev pode derrotar a Rússia com apoio ocidental irrestrito ignora a dura realidade militar e política. Sem uma intervenção direta dos EUA, a vitória ucraniana seria altamente improvável, tornando inevitável algum tipo de negociação com Moscou.

Trump e Vance: realismo sem sutileza

Ao longo do texto, o The New York Times reconhece que tanto democratas quanto republicanos já entendem as limitações da política externa dos EUA, mas aponta Trump como o primeiro presidente a “remover completamente as ilusões” sobre o tema. O problema, segundo a análise, é que a abordagem do republicano é excessivamente direta, sem a finesse necessária para suavizar as implicações diplomáticas dessas mudanças.

Isso ficou evidente no recente encontro de Trump com Zelensky. Após ouvir o ucraniano argumentar contra negociações com Vladimir Putin, o vice-presidente J.D. Vance respondeu duramente: “O mundo é assim, agora negociar com adversários pouco confiáveis é uma necessidade, não uma escolha”.

O artigo observa que, enquanto presidentes como Dwight Eisenhower e Richard Nixon praticavam o realismo na política externa, eles mantinham um discurso idealista para preservar alianças e evitar crises diplomáticas desnecessárias. Trump, no entanto, dispensa essa camada de diplomacia, o que pode gerar tensões dentro do próprio governo.

O desafio da diplomacia sem filtros

O The New York Times conclui que, embora Trump e Vance estejam certos ao expor as falhas da política externa tradicional dos EUA, falta à administração uma figura capaz de equilibrar a abordagem agressiva com um tom conciliador. O risco, segundo o jornal, é que a franqueza excessiva da dupla acabe gerando uma crise maior ao expor publicamente a fragilidade da posição americana no mundo.

Para os aliados europeus e para a Ucrânia, o recado é claro: os Estados Unidos não estão mais dispostos a manter compromissos incondicionais. A política externa norte-americana entrou em uma nova fase — e, gostem ou não, Trump está determinado a forçar todos a reconhecerem isso.

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