Relatório mostra que a Polícia já sabia que torcidas organizadas de Sport e Santa Cruz tinham confrontos marcados antes do clássico

03/02/24

Diario de Pernambuco

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A reportagem do Diario de Pernambuco pediu uma resposta da Secretaria de Defesa Social (SDS), mas até agora não obteve resposta

Momento da confusão entre as duas torcidas na Zona Norte do Recife (Crédito: Reprodução / Redes Sociais)
Momento da confusão entre as duas torcidas na Zona Norte do Recife (Crédito: Reprodução / Redes Sociais)
Relatório da Polícia Civil de Pernambuco mostra que os confrontos entre as torcidas organizadas de Sport e Santa Cruz, registrados no sábado (1º), dia do Clássico das Multidões, foram premeditados. As cenas de guerra, que espalharam pânico pelas ruas do Grande Recife, terminaram com ao menos 12 feridos e 20 presos.
No documento, que foi revelado pelo Diario de Pernambuco, a Delegacia de Polícia de Repressão à Intolerância Esportiva (DPRIE), responsável por reprimir a violência em jogos de futebol, antecipou que os integrantes dos bandos estavam marcando “pistas”, como são chamadas as brigas de rua, e “utilizando plataformas de redes sociais para disseminar o ódio e a rivalidade entre os envolvidos”.
“O monitoramento dessas agremiações foi realizado e vimos que os envolvidos se preparam para possíveis confrontos no dia 01/02/2025, aguardam com grande expectativa”, diz o documento. “Também conseguimos informes que os integrantes preparam bombas caseiras e barrotes com pregos para lesionar o rival com o maior dano possível, bem como danificar patrimônio privados e públicos no deslocamento até o estádio”.
O relatório foi elaborado na véspera do jogo e tinha como objetivo prevenir os episódios de violência nas ruas. Ao todo, 680 policiais militares foram destacados pela Secretaria de Defesa Social (SDS) para atuar na segurança envolvendo o Clássico das Multidões.
Para a investigação, os “pontos críticos” no Recife, onde havia maior possibilidade de confronto, eram a Avenida Norte e os bairros da Caxangá, Dois Unidos, Cordeiro, Detran, Afogados e adjacências. A orientação era reforçar o policiamento nesses locais.
Já na Região Metropolitana, o policiamento focou em Camaragibe, Olinda, Paulista e nos bairros de Prazeres e Jaboatão Velho, na saída da BR-232, em Jaboatão dos Guararapes.
O esquema priorizou, ainda, o monitoramento nos terminais integrados da Macaxeira, Prazeres, Camaragibe, Abreu e Lima, PE 15 e Pelópidas Silveira. Neste último, três pessoas foram presas em flagrante por tentar invadir o local com explosivos e soco inglês.
A reportagem do Diario de Pernambuco pediu uma resposta da SDS, mas até agora não obteve resposta. No sábado (1/2), na reunião entre Governo, Ministério Público e Judiciário, o Secretário de Defesa Social, Alessandro de Carvalho, disse que “não houve falha do policiamento”.
“São imagens fortes, mas posso dizer que não houve falha no policiamento. O que precisamos é encarar que existem torcedores e existem aqueles que querem brigar. Isso nós vamos apurar. Já estamos identificando algumas dessas pessoas para que respondam”, disse.
Violência
No Recife, houve registro de confrontos nos bairros da Iputinga, Torre e Madalena, que acabaram com 14 pessoas detidas. Já na Região Metropolitana, além do caso de Paulista, mais três prisões foram realizadas no Cabo de Santo Agostinho.
Segundo a investigação, os “bondes”, nome dado aos grupos que participam das brigas de rua, começam a se formar a partir de pequenos bairros, escolhidos com antecedência. Em seguida, integrantes de outras regiões vão se juntando ao bando até formar o maior número possível de pessoas.
Parte dos integrantes nem sequer tem ingresso para o jogo e só vão às ruas para “causar desordem”, de acordo com a polícia Para guardar armas, principalmente barrotes e artefatos explosivos, os bandos se utilizam de veículos de apoio. Carros e motocicletas são usados, ainda, em tentativas de fugir de ações policiais.
“Fica claro que essas supostas agremiações são associações criminosas, pois nos dias de jogos realizam um ajuntamento coordenado para o cometimento de diversos crimes contra o patrimônio e também contra a vida”, diz o relatório.
A violência entre os grupos não é novidade para os investigadores. Em 2023 e 2024, Pernambuco registrou homicídios cometidos durante os confrontos. Em 2020, a Justiça também chegou a decretar a extinção compulsória das três maiores torcidas organizadas, mas os bandos driblaram a medida e mudaram seus nomes de fantasia.
Após o Clássico das Multidões, a governadora Raquel Lyra (PSDB) anunciou que os próximos cinco jogos de Sport e Santa Cruz vão acontecer sem torcida. “Vimos cenas lamentáveis de selvageria e barbárie. Pessoas revestidas de torcedores estavam praticando ações criminosas, colocando sentimento de terror na cidade”, declarou.

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