06/02/24
*Com informações da AFP
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Proposta de Trump para Gaza é rejeitada por países do Oriente Médio, ONU e palestinos. Ideia de transferir habitantes gera críticas internacionais
![Trump e Netanyahu em encontro na Casa Branca](https://imagens.ne10.uol.com.br/veiculos/_midias/jpg/2025/02/04/597x330/1_000_36x64v7-33687221.jpg)
A proposta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de “assumir o controle” da Faixa de Gaza e realocar seus mais de dois milhões de habitantes foi duramente rejeitada por países do Oriente Médio, pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pelos próprios palestinos.
A ideia, anunciada por Trump durante uma coletiva de imprensa em Washington ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foi considerada inaceitável por diversas nações e organizações.
Durante o encontro com Netanyahu, Trump sugeriu que os Estados Unidos poderiam “assumir o controle” da Faixa de Gaza e transformar o território em uma “Riviera do Oriente Médio”.
Ele afirmou que o plano incluiria a eliminação de bombas não detonadas e escombros, mas não forneceu detalhes sobre como isso seria feito ou prazos para a execução.
“Os Estados Unidos assumirão o controle da Faixa de Gaza e também faremos um bom trabalho nela”, declarou Trump, alegando ter o apoio de países do Oriente Médio.
No entanto, essa afirmação foi rapidamente desmentida. Egito e Jordânia, dois dos principais aliados dos EUA na região, rejeitaram a proposta. O Hamas, grupo que governa Gaza desde 2007, também se manifestou contra a ideia, classificando-a como “racista”.
Em um comunicado, o porta-voz do Hamas, Abdel Latif al Qanu, afirmou: “A posição racista americana está alinhada com a da extrema direita israelense e consiste em deslocar o nosso povo e erradicar a nossa causa”.
A ONU também se posicionou contra a proposta de Trump. Volker Türk, Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, lembrou que qualquer transferência forçada ou deportação de um território ocupado é “estritamente proibida” pelo direito internacional.
A China, por meio de seu porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian, também criticou a ideia, afirmando que “o governo palestino para os palestinos é o princípio básico do governo de Gaza no pós-guerra”.
A França, por sua vez, defendeu que o futuro de Gaza deve estar ligado à criação de um Estado palestino, e não ao controle de um “terceiro país”.
O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, também se opôs à proposta, afirmando que deslocar os palestinos é algo que “nem nós, nem a região podemos aceitar”.
O trauma da Nakba e a resistência palestina
Para os palestinos, a ideia de transferir habitantes de Gaza evoca memórias dolorosas da Nakba (“catástrofe” em árabe), evento ocorrido em 1948, quando centenas de milhares de palestinos foram deslocados de suas casas durante a criação do Estado de Israel.
Hatem Azzam, um morador de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, expressou sua indignação: “Trump pensa que Gaza é um monte de lixo e não é, de jeito nenhum”.
O presidente palestino, Mahmud Abbas, que se reuniu com o rei Abdullah II da Jordânia nesta quarta-feira, também rejeitou a proposta.
Em um comunicado oficial, Abbas e outros líderes palestinos afirmaram que “expressaram sua forte rejeição aos apelos para tomar a Faixa de Gaza e deslocar os palestinos para fora de sua terra natal”.
Conflito recente e cessar-fogo
A Faixa de Gaza enfrenta uma crise humanitária após uma guerra de 15 meses, desencadeada pelo ataque do Hamas a Israel em outubro de 2023, que resultou na morte de 1.210 israelenses, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.
A resposta militar de Israel, por sua vez, causou a morte de pelo menos 47.518 palestinos, a maioria civis, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.
Um cessar-fogo, em vigor desde o mês passado, permitiu a troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos. No entanto, a região continua devastada, e a proposta de Trump foi vista como uma ameaça à estabilidade já frágil.
O Hamas afirmou que a ideia é “agressiva para o nosso povo e a nossa causa, não servirá para a estabilidade na região e apenas jogará mais lenha na fogueira”.