11/08/20
blogfolhadoseertao.com
* Liziê Franco
A pandemia do novo coronavirus impacta diretamente na saúde das mulheres sendo um dos grupos mais vulneráveis visto que constituem um arcabouço injusto de desigualdades sociais, culturais, econômicas, e políticas. No decorrer de décadas as mulheres sempre encontraram barreiras da assistência no sistema público de saúde seja preventiva, reprodutiva, curativa ou hospitalar principalmente aquelas em condições de extrema pobreza.
Apesar de nos últimos anos as políticas públicas de saúde da mulher sofrer avanços através de implantações significativas no seu contexto histórico como a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde da Mulher , o Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal , a Política Nacional de Direitos Sexuais e Reprodutivos, a Política Nacional de Atenção Integral a Reprodução Humana Assistida , a Política Nacional de Planejamento familiar e Plano Integrado de Enfrentamento da Feminização da Epidemia de Aids, a Política Nacional pelo Parto Natural e Contra Cesáreas Desnecessárias não garantiu o direito ao acesso diante a pandemia da Covid-19
A interrupção de serviços preventivos e curativos foi evidenciada no decorrer da pandemia comprometendo em diversos aspectos a saúde da mulher. Manter o acesso a serviços essenciais como testagens, tratamentos, vacinações, exames de prevenção para câncer cervical e mamário, planejamento familiar é de extrema importância e terá reflexo nos próximos meses que sucedem a pandemia. Não devemos esquecer que os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres permanecem vigentes durante e após pandemia do novo coronavirus.
Estudos comprovam a associação do aumento de gestação indesejada com a diminuição do acesso a contraceptivos o que pode implicar em abortamentos induzidos e clandestinos submetendo a risco de morte principalmente nas mulheres jovens, pobres, sem companheiros e ausência de apoio familiar. Segundo a Organização Mundial de Saúde cerca de 74 milhões de mulheres no mundo que vivem em países de rendas médias e baixas engravidam desintencionalmente dessas 25 milhões realizaram abortos em condições inseguras ocasionando 47 mil mortes maternas.
No Brasil cerca de 500 mil abortos inseguros são realizados anualmente. Estatísticas como essa comprovam a gravidade e a complexidade da gravidez indesejada tornando um importante problema de saúde pública. Reafirmar e colocar em prática políticas públicas estruturadas e efetivas de atenção à saúde da mulher pautada no cenário pandêmico e pós-pandêmico do novocoronavirus assegurando protocolos de segurança sanitária bem como o acesso a todos os procedimentos, tratamentos, educação sexual, planejamento familiar inerente à saúde feminina conduz a consolidação da garantia dos direitos a saúde e humanos.
*Sanitarista e trabalha no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco