13/01/24

Os governos estaduais enfrentam desafios significativos na gestão de pessoas, com discrepâncias salariais e excesso de tabelas remuneratórias, segundo o Anuário de Gestão de Pessoas no Serviço Público, lançado em 2024 pelo Instituto República.org. O estudo revela que carreiras de elite, como auditores fiscais e procuradores, frequentemente recebem salários acima do teto constitucional, enquanto profissionais de menor nível contam com poucos incentivos financeiros.
Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, um auditor fiscal pode ganhar até R$ 49 mil, superando o teto de R$ 44.008,52. Bruno Carazza, professor da Fundação Dom Cabral, questiona os critérios de valorização: “Qual é o critério para se dizer que uma carreira é mais importante do que a outra? Por exemplo, a preservação da natureza no momento em que vivemos deveria ser valorizada pelo Estado, mas um gestor ambiental ganha metade do salário de um auditor fiscal”.
A falta de transparência e mecanismos de controle agrava a situação. Vanessa Campagnac, do Instituto República.org, afirma: “O Estado brasileiro é um enorme produtor de dados, com muita coisa sistematizada, mas ainda existem lacunas importantes em relação a salários. Nem todos os portais de transparência dos estados trazem informações de todas as carreiras”.
Essas desigualdades podem impactar negativamente a motivação dos servidores e o interesse em atuar no setor público. Campagnac ressalta: “A motivação extrínseca é [fazer o servidor se sentir] valorizado, reconhecido e dar ânimo para ele continuar se desenvolvendo. O profissional, por mais que seja vocacionado, vai ter problemas em receber remuneração aquém do desafio que está na mão dele”.
O cenário nos estados é mais grave do que na União. Apesar de os salários elevados de servidores do Executivo federal, é raro ter profissionais recebendo acima do teto, de acordo com especialistas. A maior remuneração é do delegado da Polícia Federal, que ganha R$ 36 mil. (Folha)