Cloroquina e Hidroxicloroquina são retiradas do protocolo da Covid-19 do Recife, após OMS alertar para riscos

26/05/20

Por Anamaria Nascimento/blogfolhadosertao.com

Anúncio foi feito em coletiva de imprensa realizada virtualmente na tarde desta segunda. (Foto: YouTube/Reprodução)
Anúncio foi feito em coletiva de imprensa realizada virtualmente na tarde desta segunda pelo secretário de Saúde da Prefeitura do Recife,  Jailson Correia.. (Foto: YouTube/Reprodução)

O Recife anunciou, nesta segunda-feira (25), a retirada da cloroquina e hidroxicloroquina do protocolo de tratamento da Covid-19 após um estudo feito com 96 mil pacientes, publicado na sexta-feira (22) na revista The Lancet, apontar que o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina sozinhos ou combinados com macrolídeos – grupo de antibióticos dentre os quais se destaca a azitromicina – não tem benefícios comprovados no tratamento de pacientes infectados com o novo coronavírus.

O secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia, disse que, mesmo antes da publicação do estudo, não havia recomendação para a utilização da droga na atenção primária do município. “A Prefeitura do Recife não só não recomendará o uso da cloroquina e hidroxicloroquina na atenção primária à saúde, que já era a nossa posição, como vai retirar a medicação do protocolo de uso hospitalar. Naturalmente, casos muito específicos e devidamente justificados pela equipe médica serão considerados, mas fora do protocolo, se for o caso. Essa posição será mantida enquanto não houver novas evidências falando o contrário”, afirmou.

Segundo o secretário, a Prefeitura do Recife toma as decisões relacionadas ao assunto ouvindo um núcleo de evidências do município. “Na sexta-feira, foi publicado esse trabalho, que é um divisor de águas. Ele provoca um revés muito duro no uso da cloroquina e hidroxicloroquina no mundo tudo. Esse estudo encontrou que não só não havia impacto benéfico em pacientes com Covid-19, mas encontrou maior risco de morte de pacientes hospitalizados e maior risco de distúrbios do coração”, disse.

Na manhã desta segunda, a Organização Mundial da Saúde (OMS) enviou à direção do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc) um e-mail recomendando a suspensão do uso de cloroquina em pacientes com a Covid-19. O Huoc participa, representando Pernambuco, do estudo mundial Solidarity (Solidariedade), realizado pela OMS em mais de 100 países.

De acordo com o médico Demetrius Montenegro, chefe do setor de Infectologia do Huoc, a OMS pediu a todos os hospitais que fazem parte deste estudo para suspenderem o “braço que utiliza a cloroquina no estudo”. O infectologista afirmou que, além da cloroquina, outros medicamentos são usados nessa pesquisa, mas, atualmente, as outras drogas não chegaram ao Huoc, que trabalhava apenas com a cloroquina.

“Tínhamos dois braços (no estudo), que eram o de (1) não utilizar ou (2) utilizar a cloroquina. A recomendação foi quem está utilizando concluir o curso do tratamento, mas nenhum paciente iria mais entrar no estudo”, esclareceu Demetrius. “A cloroquina estava no protocolo do hospital por conta do estudo e não como de uso generalizado”, completou o médico.

No Brasil, o ensaio clínico Solidarity, da Organização Mundial da Saúde, é coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Lançada pela OMS no dia 20 de março, a iniciativa tem como objetivo investigar a eficácia de quatro tratamentos para a Covid-19 e foi implementada em 18 hospitais de 12 estados, com o apoio do Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit) do Ministério da Saúde.

O estudo é uma conjugação de esforços em todo o mundo, para dar uma resposta rápida sobre que medicamentos são eficazes no tratamento da Covid-19 e quais são ineficazes e não devem ser utilizados. A resposta a essas perguntas exigia que milhares de pacientes participassem dos testes das drogas.

Para alcançar o número necessário mais rapidamente, a OMS uniu o esforço de vários países. A pesquisa foi planejada para poder ser executada em um momento em que todos estão dedicados a cuidar de pacientes graves internados. O estudo inclui somente pacientes hospitalizados.

Apesar de ter quatro linhas de tratamento definidas, uma das premissas do estudo é que ele seja adaptável, ou seja, caso surjam novas evidências, as linhas podem ser adequadas, com descontinuação de drogas que se mostrem ineficazes e incorporação de medicamentos que venham a se mostrar promissores. Nesse tipo de estudo, uma comissão central tem acesso a todos os dados e faz análises durante todo o processo, evitando que os pacientes sejam expostos a drogas ineficazes ou com toxicidade elevada.

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