Atleta diz que chegou a ouvir barulhos de bomba, além de um míssil abatido próximo à residência; brasileiro tenta retorno ao País
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Já são 12 dias de tensão. Desde o início da invasão russa à Ucrânia, no final de fevereiro, o ala Ewerton, natural de Caruaru, convive com esse sentimento. O jogador de 32 anos, do Prodexim Kherson/UCR, é um dos brasileiros que vive em solo ucraniano e que não conseguiu deixar o país durante o período de conflito. Em entrevista ao programa “Que Golaço”, da Folha de Pernambuco, o pernambucano relatou o temor diário do cenário de guerra, com bombas, explosões e protestos na região. Confira abaixo alguns trechos.
Início dos conflitos
Vim em janeiro para cá e sabia que existiam algumas tensões, desde 2014, com a invasão da Rússia à Crimeia, com muita tensão na região de Donetsk e Luhansk também. Mas o pessoal da cidade falava que não haveria guerra. A gente foi aceitando, mas via as embaixadas pedindo para pegarmos voos particulares para deixar o país. Antes da invasão, jogamos pela Copa da Ucrânia, mas na madrugada começou o conflito. No primeiro dia, eu queria falar com alguém do clube para levar para uma cidade mais calma, perto da Polônia, para sair dos conflitos. Fomos informados que a cidade já estava fechada e os militares estavam roubando os carros de quem queria sair.
Abrigo em casa de treinador
Fomos ao mercado para deixar comida no estoque. Achávamos que poderia ser algo rápido, então ficamos em casa. Pela noite, houve muito bombardeio, tiro, os aviões passando perto. Ficamos assustados. Na manhã seguinte, a mesma coisa. A gente foi para a casa do nosso treinador, que tem um porão, no estilo bunker, com outros jogadores. Ficamos por lá na quinta e na sexta. No sábado, por ter muita gente lá, decidimos ficar no apartamento de Daniel (jogador com quem divide casa na Ucrânia). Moro com ele Cláudio (outro atleta) e nossa tradutora (Cátia).
Contato com a família
A gente tenta tranquilizar. Imagino minha mãe, esposa, meus avós, todos preocupados. A gente mostra que está bem, que tem alimento, mas por dentro a tensão é grande. Estou há 12 dias aqui e já ficamos cansados. Era até meu planejamento, quando aceitei vir para cá, trazer meus familiares em fevereiro, mas graças a Deus não vieram. Se estivessem aqui, minha preocupação triplicaria.
Cenário nas ruas
Nos últimos dias, não está rolando mais bombas e tiros, mas os militares russos estão por toda a cidade, controlando os prédios da prefeitura e do Governo. Estamos há três dias com protestos aqui. Estávamos com dificuldade de encontrar alimentos também. A situação está tensa. Hoje, a gente estava assistindo ao jornal quando escutamos um barulho grande. Ficamos assustados, achando que era uma bomba. Depois, nossos amigos que tinham ido ao mercado disseram que um míssil foi abatido perto do nosso apartamento. Os militares não chegam a pedir documento. Só algumas vezes, quando passam de carro, eles param e perguntam para onde a gente vai. No primeiro protesto que teve aqui, a população tentou passar por uma barreira, mas eles atiraram para cima, para fazer com que as pessoas voltassem. Mas o povo aqui é corajoso e tem lutado para a região não ser anexada à Rússia.
Itamaraty e previsão de retorno ao Brasil
Eles estão tentando arrumar uma solução, negociando a saída. Já pegaram nosso passaporte, nosso endereço. Mas já estamos aqui há 12 dias e não sei informar o verdadeiro motivo (da situação não ter evoluído). Além disso, tenho contrato até junho com o clube aqui, mas não conversamos diretamente como vai ficar a situação. Não sei se o campeonato vai voltar. Pretendo ficar no Brasil nos próximos meses e, quando for na próxima temporada, arrumar outro clube da Europa.