04/12/24
Por Raphael Guerra
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Polícia Civil pontuou que não conseguiu identificar autor dos tiros. Provas indicaram que Polícia Militar mentiu sobre troca de tiros em perseguição
Darik Sampaio da Silva, de 13 anos, era atleta da equipe de futsal sub-14 do Sport Club do Recife – ACERVO PESSOAL
A investigação sobre a morte do adolescente Darik Sampaio da Silva, de 13 anos, vítima de bala perdida, apontou que os tiros que o atingiram saíram de uma arma de fogo usada pela Polícia Militar de Pernambuco. Apesar disso, segundo o inquérito, não foi possível identificar o autor dos disparos. O caso deve ficar impune, já que o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) solicitou o arquivamento à Justiça.
Darik, que era atleta da equipe de futsal sub-14 do Sport Club do Recife, estava conversando com duas amigas, na calçada da casa de uma delas, quando houve uma perseguição policial na Rua Professora Arcelina Câmara, bairro do Jordão, Zona Sul do Recife, na noite de 16 de março deste ano. As garotas conseguiram entrar na residência, mas ele foi baleado na perna e no quadril.
A 3ª Delegacia de Homicídios da Polícia Civil concluiu o inquérito em outubro – demorou mais de sete meses. Mas, como é de praxe, a Polícia Civil não quis revelar à imprensa que a investigação descobriu que os tiros que tiraram a vida do adolescente partiram da Polícia Militar.
O MPPE analisou o resultado e, na semana passada, apresentou parecer à Justiça opinando pelo arquivamento – por entender que não havia provas suficientes para denunciar um dos policiais militares pelo crime.
A coluna Segurança teve acesso com exclusividade ao documento. Nele, o promotor Ademilton Carvalho Leitão destacou que os policiais militares envolvidos na perseguição se negaram a participar da reprodução simulada, importante exame para tentar identificar o autor do tiro que matou Darik.
“Cabe registrar que não foi possível realizar a reprodução simulada dos fatos, diante da recusa dos investigados em participar, sendo que os demais elementos colhidos no inquérito não eram suficientes para a realização de tal perícia”, pontuou a promotor.
AS PROVAS CONTRADIZEM VERSÃO DA POLÍCIA MILITAR
No parecer à Justiça, o promotor apontou que cinco policiais militares, em duas viaturas, participaram da perseguição a suspeitos de roubar um carro.
Leonardo de Lima Magalhães e Paulo Roberto da Silva Luiz Júnior, que estavam em um veículo Tracker, acabaram presos. O primeiro, inclusive, foi atingido por dois tiros e sobreviveu. Outros suspeitos que estavam num Tiggo não foram localizados.
No interior do Tracker, foram encontradas uma espingarda calibre 12 e um revólver calibre 38, municiado com cinco munições intactas e duas deflagradas.
Foi durante a abordagem aos suspeitos que Darik foi baleado e morreu após ser socorrido por outra viatura policial e encaminhado a uma policlínica.
Em depoimento, quatro policiais militares assumiram que dispararam tiros durante a abordagem. Um deles afirmou que usou uma submetralhadora Taurus, enquanto os demais disseram ter usado as pistolas .40.
Já os dois suspeitos presos contaram à Polícia Civil que não dispararam tiros durante a abordagem – mesma versão informada por testemunhas desde o dia da morte de Darik.
Na época, porém, a assessoria de comunicação da Polícia Militar de Pernambuco divulgou à imprensa uma nota oficial afirmando que “o acompanhamento (perseguição) culminou em uma rua sem saída no bairro do Jordão, no Recife, onde os suspeitos colidiram os veículos, desembarcaram e começaram a disparar contra os policiais, que reagiram”.
No parecer à Justiça, o MPPE reforçou que, no local do crime, foram encontrados nove projéteis compatíveis com calibre .40, “utilizados pelas armas dos policiais militares”.
“Registre-se que as armas encontradas no interior do veículo dos indivíduos que estavam sendo perseguidos foram uma espingarda calibre 12 e um revólver calibre 38, não sendo encontrado nenhum projétil desses calibres no local”, destacou o promotor.
“A análise da perícia complementar e os depoimentos não apontam a existência de um confronto direto entre policiais e suspeitos no momento em que ocorreram os disparos fatais”, completou.
POLICIAL RESPONSÁVEL PELO TIROS EM DARIK NÃO FOI IDENTIFICADO
O promotor pontuou que os laudos de eficiência e comparação balística indicaram a compatibilidade dos projéteis encontrados com armas de calibre .40.
“No entanto, as análises não conseguiram identificar com precisão qual arma foi a responsável pelos disparos que atingiram Darik. Esses laudos, embora forneçam informações relevantes, não são suficientes para uma conclusão clara sobre os fatos ou a autoria dos disparos”, disse.
Segundo o promotor, a análise se estendeu também aos disparos de passageiros dos veículos perseguidos, “onde não foram encontrados indícios suficientes que comprovassem a origem dos disparos a partir destes”.
ARQUIVAMENTO E IMPUNIDADE
No parecer opinando pelo arquivamento, o promotor Ademilton Carvalho Leitão pontuou que, ao concluir o inquérito, a autoridade policial remeteu os autos sem indiciamento, “ante a impossibilidade de afirmar, com precisão, quem disparou contra Darik”.
“Entende o Ministério Público, que todos os esforços e diligências possíveis foram envidados pela Polícia Civil para elucidar a autoria do crime, não vislumbrando outras medidas a serem tomadas”, argumentou o promotor, em parecer pedindo o arquivamento do caso.
Por fim, reforçou no documento, que, havendo novas provas, a investigação pode ser desarquivada.