Alepe: Cadeia produtiva da cultura exige mais espaço no orçamento estadual

08/09/23
Ascom Alepe
blogfolhadosertao.com.br

Alepe - Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco

 

 

A escuta popular realizada na última terça pela Comissão de Cidadania da Assembleia Legislativa revelou o sentimento de desamparo dos trabalhadores e trabalhadoras da cultura em relação ao poder público estadual. Representando o Maracatu Fonte do Itaíba, de Paudalho, na Mata Norte, Renata Barão relatou o excesso de burocracia para acessar os recursos previstos em editais de fomento: “Como é que um cortador de cana que não foi alfabetizado, que passa o ano inteiro fazendo uma gola de caboclo para sair no Carnaval, para abrilhantar o Carnaval de Pernambuco do interior, como é que ele vai sentar em frente a um computador e fazer tudo o que é pedido no edital? É impossível, Dani”.

Mestra de maracatu, Renata acrescentou que ser mulher e negra trouxe dificuldades ainda maiores na busca por apoio do Governo. Segundo ela, a Fundarpe, Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, não enxerga as necessidades dos trabalhadores e grupos tradicionais do estado.

Na avaliação da presidente da Comissão de Cidadania, deputada Dani Portela, do PSOL, existe uma contradição em Pernambuco em relação ao incentivo dado aos atores da cadeia produtiva da cultura, tendo em vista que o estado é conhecido nacionalmente pela “efervescência” cultural: “A partir das falas a gente vê uma certa inquietação, né, Pernambuco é conhecido justamente por sua cultura, por ser esse estado multicultural, mas não tem pensado prioritariamente nas pessoas que vivem, produzem e sobrevivem da cultura”. 

Oseás Borba Neto, do Grupo de Teatro João Teimoso, apontou a falta de investimentos nos equipamentos culturais. O ator e diretor defendeu a reabertura do teatro do Quartel da Polícia Militar no bairro do Derby, no Recife, espaço que se encontra fechado há 40 anos. E também comentou a situação do Valdemar de Oliveira, no Centro do Recife, que foi invadido e totalmente depredado no começo do ano. “É privado, mas eles queriam ceder ao Estado e, por conta da burocracia que foi falado aqui, que eles não tinham certidões, não foi possível fazer o comodato de 19 anos que eles iam doar ao Estado”. 

O ator e dramaturgo Giordano Castro, do grupo Magiluth, também participou da escuta pública desta terça. No último sábado, o coletivo teatral teve objetos e equipamentos furtados do Museu de Arte Moderna do Recife, o Mamam. Castro lamentou a situação de vários espaços culturais da capital pernambucana: “Como muitos espaços na cidade estão à míngua, estão sucateados, o Mamam também foi vítima dessa situação, assim como o Barreto Júnior, como o Teatro Apolo, que teve que cancelar espetáculo essa semana por falta de…por causa de uma pane elétrica, o teatro Hermilo está fechado, e toda vez que fecha algum espaço, uma sala, a gente tem quase um infarto”. 

Compondo a mesa dos trabalhosJanaína Santos representou o setor de dança no Conselho Estadual de Política Cultural. Ela cobrou a valorização dos grupos ligados a essa linguagem artística: “Quando a gente fala de rever os cachês dos grupos culturais é porque o valor cultural que a gente desenvolve dentro de uma comunidade, dentro dos grupos, é muito grande. E esse valor cultural é a estrutura que nós carregamos, é a estrutura que a gente desenvolve. A gente está onde o governo não está, a gente faz o que o governo não faz. Eles deveriam enxergar isso, a partir dessa ótica de que eles não estão presentes nas comunidades periféricas”. 

A ex-codeputada estadual do mandato coletivo Juntas, Carol Vergolinotambém esteve presente no evento.  Ela destacou que os mais de sete milhões de trabalhadores e trabalhadoras da cultura no Brasil produzem 3,11% da riqueza do país, representada pelo Produto Interno Bruto. Mas sem um orçamento adequado ao porte econômico da cadeia produtiva: “A gente não representa 1% do orçamento nem do estado, nem do município, nem do país. A gente sabe que o dinheiro chega na cultura, que chega no trabalhador da cultura, no outro dia tá na rua, tá no mercadinho, tá gerando riqueza, tá gerando imposto. Então, é preciso que o gestor entenda que a cultura, inclusive, e a população também, é irmã da saúde, é irmã da educação, é irmã gêmea da segurança pública”.

Comissão de Cidadania já realizou seis seminários regionais e cinco encontros temáticos sobre o Plano Plurianual 2024-2027. Com a participação da sociedade civil organizada, especialistas e gestores públicos, os eventos reuniram mais de 700 pessoas, e resultaram na apresentação de mais de mil e quinhentas propostas escritas ou encaminhadas pelo site da Alepe.

Ainda este mês, em data a ser definida, a Comissão pretende entregar um documento contendo as sugestões populares à governadora Raquel Lyra. Quem não puder participar da escuta presencialmente pode enviar as propostas em formulário específico disponível no site da Alepe. www.alepe.pe.gov.br

Deixe um comentário