02/01/23
Por Agência O Globo
blogfolhadosertao.com.br
Primeiro dia do terceiro mandato de Lula teve inovações no protocolo de transmissão do cargo, mas também similaridades com sua
A cerimônia de posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Presidência da República, neste domingo, alternou discursos conciliatórios do novo presidente com críticas a seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL).
Houve inovações no protocolo de transmissão do cargo, mas em meio a similaridades com a chegada do petista ao Palácio do Planalto em 2003, no seu primeiro mandato. Lula também foi às lágrimas durante seu discurso no parlatório, após receber a faixa presidencial, diante de dezenas de milhares de apoiadores na Esplanada dos Ministérios em Brasília.
Veja a seguir, em sete pontos, alguns dos principais momentos da posse de Lula:
1 – Representantes do povo na rampa do Planalto
Devido à ausência de Bolsonaro, que deixou o país rumo aos Estados Unidos na antevéspera da posse, a transmissão da faixa presidencial não contou com o antecessor, praxe em posses anteriores. Em lugar disto, Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto acompanhando por oito representantes da sociedade civil, grupo que incluiu uma catadora, um metalúrgico, uma pessoa com deficiência e uma criança negra.
O grupo foi responsável pela passagem da faixa e acompanhou toda a cerimônia ao lado do presidente, que também levou a cadela Resistência, acolhida pela vigília realizada no entorno da sede da Polícia Federal em Curitiba durante a prisão de Lula.
2 – “Sem revanche” e “sem anistia”
Em seu discurso de posse no Congresso Nacional, Lula afirmou não carregar “nenhum ânimo de revanche contra os que tentaram subjugar a nação a seus desígnios pessoais e ideológicos”, numa crítica velada a Bolsonaro, mas frisou que espera uma resposta através da “lei e suas mais duras consequências” a quem “errou”.
Momentos depois, durante o discurso do presidente no parlatório do Palácio do Planalto, o público reagiu com gritos de “sem anistia” após Lula citar erros do governo Bolsonaro em temas como a gestão da pandemia da Covid-19 e o combate ao desmatamento na Amazônia.
3 – Apelo à “reconstrução” do país
Também no discurso de posse no Congresso, Lula pregou uma reconstrução do país e da democracia. Ele lembrou do que disse há 20 anos, quando assumiu em seu primeiro mandato como presidente da República, e disse que naquele momento a palavra era “mudança”. Mais uma vez sem citar nominalmente seu antecessor, Jair Bolsonaro, Lula disse que o momento é de fortalecer a democracia.
“Depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer: “Democracia para sempre”. Para confirmar essas palavras, teremos de reconstruir em bases sólidas a democracia em nosso país”, afirmou o petista.
O tom foi o mesmo ao fim de seu segundo discurso do dia, agora no parlatório. Lula pregou união para formar “uma frente ampla contra a desigualdade, que envolva a sociedade como um todo, artistas, governadores, prefeitos, sindicatos, movimentos sociais, associações de classe, servidores públicos, profissionais liberais, líderes religiosos, cidadãos e cidadãs comuns”.
4 – Lágrimas
Em discurso em tom emocional no Planalto, após receber a faixa presidencial de representantes da população, Lula elencou como uma de suas prioridades o combate à desigualdade e à extrema pobreza. Durante o pronunciamento, ele chorou ao elencar exemplos de retrocesso do país na área social. O petista defendeu ser “urgente e necessária a formação de uma frente ampla contra a desigualdade”.
A primeira vez em que o choro interrompeu o discurso de Lula foi ao citar “trabalhadoras e trabalhadores desempregados exibindo, nos semáforos, cartazes de papelão com a frase que nos envergonha a todos: ‘Por favor, me ajuda’”.
O petista listou episódios que retratam a extrema pobreza, acentuada com a pandemia de Covid-19, como filas nos açougues em busca de ossos. E lembrou o compromisso assumido há 20 anos, quando iniciou seu primeiro mandato, de acabar com a fome e a miséria.
5 – Revogaço
Os primeiros atos de Lula como presidente neste terceiro mandato foram realizados já neste domingo. Entre decretos, medidas provisórias (MP) e despachos, as decisões tratam de temas como armas, Amazônia, sigilo de informações públicas, Bolsa Família e desoneração de combustíveis, entre outros.
Parte do que foi assinado, durante a cerimônia da posse no Planalto, revoga atos do ex-presidente Jair Bolsonaro. As medidas tratam de temas sensíveis da gestão de seu antecessor, o que foi alvo de críticas de Lula durante a campanha eleitoral, como a política de flexibilização de posse e porte de armas e a decretação de sigilos de 100 anos em determinados documentos.
No caso das armas, por exemplo, o decreto suspende o registro de novas armas de uso restrito do grupo conhecido como caçadores, atiradores e colecionadores (CACs) e também as autorizações de novos clubes de tiro. O texto ainda condiciona a autorização de porte de arma à efetiva comprovação de necessidade.
6 – Parceria com Alckmin
O vice-presidente Geraldo Alckmin, citado de forma recorrente na campanha como um exemplo do conceito de “frente ampla” na candidatura de Lula – já que ambos chegaram a ser adversários pela Presidência em 2006 -, teve papel central na cerimônia de posse. Lula dividiu o Rolls Royce no trajeto pela Esplanada dos Ministérios com Alckmin e com as mulheres de ambos – Rosângela Silva, a Janja, e Lu Alckmin, respectivamente -, numa espécie de releitura da posse do petista em 2003, quando ficou ao lado do então vice José Alencar no veículo.
Em um gesto simbólico, Alckmin usou uma gravata vermelha, cor normalmente associada ao PT e a Lula, enquanto o presidente usou uma gravata azul — tonalidade que costumava ser adotada pelo PSDB, antigo partido de Alckmin, em disputas eleitorais contra candidatos petistas.
Numa outra cena da dobradinha entre Lula e Alckmin, o vice foi flagrado pelas câmeras sussurrando para o presidente que “o povo está feliz”, quando ambos subiram ao parlatório.
7 – Defesa da “democracia sempre”
“Democracia” foi uma das palavras mais usadas por Lula em seu discurso perante o Congresso Nacional, e apareceu até em um novo lema cunhado pelo presidente eleito em sua posse.
“Sob os ventos da redemocratização, dizíamos: “ditadura nunca mais”. Hoje, depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer “democracia para sempre”.
—