Especial de Domingo: Sem ter conhecido ditadura pós 64, nova direita defende intervenção militar que Forças Armadas consideram história

06/11/22

Por Fernando Castilho

blogfolhadosertao.com.br

BETO DLC/TV JORNAL
Manifestantes defendendo intervenção federal sem saber o que extamente isso signfica. – FOTO: BETO DLC/TV JORNAL

Uma das coisas que mais chamaram a  atenção de quem observa o perfil dos manifestantes que fecharam estradas e defendem intervenção federal com tomada do poder desrespeitando a Constituição é a faixa etária, condição social marcadamente classe média e, essencialmente, brancos com muita mais anos de escolaridade.

A ideia de que o Brasil estará mais protegido se os militares assumirem, de novo, o poder virou uma espécie de fetiche do movimento bolsonarista radical que acredita quem essa seria a única forma de proteção contra o comunismo que a maioria de seus integrantes sequer sabem do que se trata.

Analistas de plataformas digitais inferem que esse tipo de atitude decorre da formação de uma opinião a partir de desinformação permanente que passou a exisitr ao longo de quatro anos.

Nesse período, ela foi difundida de modo que milhões de pessoas simplesmente deixaram de se informar pelo canais de comunicação referenciados para ler apenas o que circula nos seus grupos de WhatsApp e Telegram passando a viver uma realidade paralela confortável para o que elas passaram a acreditar como seu veradeiro universo.

O estudo dos impacto da convivência permanente nessa espécie de bolha na personalidade humana desses brasileiros ainda vai levar um tempo. Mas já se sabe que os efeitos podem ser permanentes e até mesmo se tornarem uma patologia que exigirá tratamento médico nos casos mais graves.

Elas se juntaram a caminhoneiros que travaram estradas na esperança de Jair Bolsonaro os convocasse a fazer uma insurreição com apoio de militares de modo a não apenas mudar o resultado das eleições proferido pelo TSE, mas de manter o atual presidente por mais quatro anos.

ANDERSON COELHO / AFP
Apoiadores de Bolsonaro em frente ao 63º Batalhão de Infantaria, em Estreito, bairro de Florianópolis (SC) – ANDERSON COELHO / AFP

O presidente, como sabemos, terminou por pedir que desobstruíssem as estradas e desde sua fala não estimulou nenhum insurreição armada. Embora para parte de seus apoiadores, o seu curto pronunciamento 45 horas depois do resultado ser proclamado, tenha sido uma mensagem cifrada de resistência.

É possivel que essa atitude tenha sido muito frustrante para os mais radicais que estavam esperando ansiosos um comando para tomar atitudes ainda mais antidemocráticas.

Mas o que parece ser uma marca desse movimento é que toda a movimento insiste numa tomada de poder à força, sem qualquer percepção de como isso seria viável e como ficaria o país com o Brasil numa eventual tomada de poder por Jair Bolsonaro. E o que, pelas teses dos apoiadores, seria o que chamam de Intervenção Federal, com o presidente permanecendo no poder pela força e com apoio desse grupo.

Ao final de uma semana, enquanto o número de bloqueios foi reduzido a próximo de zero, também ficou clara a estratégia de ir para portas de comandos militares do Exército como uma espécie de trincheira de resistência. Os comandantes militares, como sabermos, ficaram em silêncio.

SEM CONHECER A HISTÓRIA

Curiosamente, parece haver uma enorme desconhecimento do que foi o período em que os militares tomaram o poder e ali permaneceram por 18 anos. E que naquilo que a História chama de anos de chumbo, quando o Estado brasileiro conviveu com a tortura.

Primeiro porque, apesar da farta literatura e pesquisas sobre o que foi o período, elas não circulam pelos grupos como informações referenciadas sobe o assunto. Embora exista muita desinformação com interpretações falsas e fantasiosas sobre o movimento dos militares brasileiros em 1964.

Depois, por permanecer no imaginário dos propagadores a ideia de que, sob período dos militares, a economia brasileira cresceu, o país se modernizou e abriu milhares de quilômetros de estradas federais e que o nível de renda quase dobrou. Além de um período sem denúncias de corrupção.

Nesses grupos, floresceu a ideia de que se deu certo (segundo essa visão) no passado e estava dando certo com Bolsonaro, ele precisaria de um novo mandato para consolidar o novo período de desenvolvimento do Brasil.

Há exageros sobre os dois períodos. Especialmente porque, assim como durante a ditadura a questão da tortura foi escondia no meio da censura da Imprensa, no Governo Bolsonaro os números da economia foram ruins a despeito do sucesso do Brasil no agronegócio pelas exportações.

Reprodução / Twitter
Manifestantes pró-Bolsonaro em Santa Catarina fazendo o gesto nazista durante ato contra o resultado das eleições de 2022. – Reprodução / Twitter 

Além da desastrosa administração da pandemia do coronavírus pelo governo Bolsonaro, o desmanche dos organismos de controle ambiental que transformam o Brasil num pária global quando já liderou o debate com autoridade e, finalmente, a capitulação do controle do Executivo do orçamento federal através no Legislativo com a implantação do chamado Orçamento Secreto que em três anos movimentou R$ 67 bilhões na rubrica de investimentos.

Todo esse entedimento se consolidou com a disseminação pelas mídias sociais de um extraordinário volume de desinformação. Mas também produziu atitudes surpreendentes no comportamento desses grupos quando, de um lado, veio a defesa da família escondendo um agressivo comportamento homofóbico, preconceito racial e regional e étnicos. Enquanto, de outro lado, veio a negação de uma realidade brutal de empobrecimento da população onde 40 milhões de famílias perderam a condições de segurança alimentar.

E supreendendente como no debate dos apoiadores de Jair Bolsonaro essa questão simplesmente não existe. Nele perpassa a ideia de que o pagamento do auxílio de R$ 600 resolveu a questão. Como disse o presidente na campanha quando afirmou que nehuma família passa fome no Brasil.

Tem masi: Todo esse caldo de cultura que os participantes chamam de conservadorismo está a quilômetros do que, internacionalmente, a palavra quer dizer em países mais desenvolvidos. E Isso acabou por cristalizar a percepção de que não é possível aceitar a vitória de Lula levando-os a atitude radical de fechar estrada e pedir apoio a um movimento militar na portas de alguns quartéis.

NEGAÇÃO DA REALIDADE 

Eles simplesemente se negam a aceitar a precisão do processo eleitoral, o reconhecimento internacional dos resultados e o início da transição que mostram que o Brasil terá um novo governo com alternância de poder e que cabe aos derrotados o lugar da oposição.

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