05/05/
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O jornalista e blogueiro Magno Martins comenta hoje (05) em sua coluna as mexidas que Jair Bolsonaro está fazendo nos comandos regionais da Polícia Federal, inclusive em Pernambuco
Delegada Carla Patrícia Cintra deve perder chefia da PF em Pernambuco
As revelações do ex-ministro Sérgio Moro ao se despedir da pasta de Justiça começam a se confirmar com a primeira troca de comando da Polícia Federal: o do Rio de Janeiro. Depois, rola a cabeça da superintendente de Pernambuco, Carla Patrícia Cintra. A troca no comando da Polícia Federal no Rio tem a ver com interesses familiares do presidente da República. O senador Flávio Bolsonaro, filho do capitão, é investigado num processo sobre esquema conhecido como “rachadinha”.
Trata-se de acerto fraudulento de contratação de assessores em seu gabinete como deputado estadual carioca, sob condição de abrirem mão de parte do salário em favor de quem o contratou. Em depoimento que prestou sábado passado à PFL em Curitiba, Moro lembrou que a pressão de Bolsonaro para mudar o comando da Superintendência da PF no Rio ocorria desde agosto e foi objeto de declarações públicas do próprio presidente. Dois inquéritos tramitam na PF fluminense e interessam à família Bolsonaro, porque estão perto de um desfecho.
O inquérito eleitoral que investigava se o senador Flávio Bolsonaro cometeu lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral ao declarar seus bens nas eleições de 2014, 2016 e 2018 foi encerrado com pedido de arquivamento e enviado para o Judiciário em março. Já o procedimento que apura eventual falso testemunho no depoimento do porteiro nas investigações sobre a morte da vereadora Marielle Franco está sendo relatado e deve ser concluído nos próximos dias.
No caso da Superintendência de Pernambuco, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-bolsonarista, garante que o motivo da insistência do presidente em substituir a superintendente Carla Patrícia Cintra é movido ao ódio nutrido por Bolsonaro contra o presidente do PSL, Luciano Bivar. Segundo ela, Bolsonaro quer usar a PF para perseguir inimigos, como Bivar, que teria se recusado a repassar R$ 10 milhões para o diretório do PSL de São Paulo, que era presidido por Eduardo Bolsonaro, qualificado por Hasselmann como o filho mais perigoso de Bolsonaro.
Bivar é alvo de inquérito aberto a pedido do Ministério Público Eleitoral pelo chamado “laranjal do PSL”, que também teria favorecido a campanha de Jair Bolsonaro em Estados como Pernambuco, Minas Gerais e Ceará. A mudança seria ainda motivada para acelerar os processos da Lava Jato contra a cúpula do PSB no Estado, liderada pelo governador Paulo Câmara e o prefeito do Recife, Geraldo Júlio, citados em processos em tramitação no Supremo Tribunal Federal.
Quem é ela – A delegada Carla Patrícia Cintra responde pela Superintendência da PF em Pernambuco desde dezembro de 2019. É bacharel em direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Desde 2017, esteve à frente da Corregedoria Geral da Secretária de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE). Com uma carreira de 20 anos, ela iniciou no cargo de escrivã, se tornando chefe substituta das Delegacias de Polícia Federal em Caruaru, de Combate a Crimes Previdenciários e do Núcleo de Disciplina da PF. Carla ainda chefiou o Núcleo de Inteligência Policial, em 2013, foi corregedora regional PF, em 2015, e ficou à frente da Delegacia Regional Executiva e da Regional de Combate ao Crime Organizado da PF.
Promessa de posse – Em 75 anos da Polícia Federal de Pernambuco, Carla é a primeira mulher na Superintendência. Um dos nomes por trás da criação do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (Draco), Cintra prometeu, na posse, integrar os trabalhos das polícias no combate à corrupção e ao tráfico de drogas em todo o Estado. “Todo o planejamento estratégico da Polícia Federal, que é justamente voltado ao combate à corrupção, desvio de recursos públicos e tráfico de drogas, será mantido. Temos o desafio de integrar essa atuação com os demais órgãos públicos do estado. Estarei sempre aberta ao diálogo, apreciando o lado humano de cada policial”, disse, à época, em seu discurso de posse.