Pernambuco imuniza menos de 20% das crianças com a primeira dose em quase um mês de vacinação infantil

15/02/22

Por Cintya Leite

blogfolhadosertao.com.br

 

O Estado só aplicou 36,5% das doses contra covid-19 recebidas para crianças de 5 a 11 anos

DANIEL TAVARES/PCR
VACINA NO BRAÇO As crianças podem receber a CoronaVac (somente aquelas a partir dos 6 anos) ou a da Pfizer – Foto: Daniel Tavares/PCR

Pernambuco chegou , dia 13 , ao percentual de 19,8% das crianças de 5 a 11 anos de idade vacinadas com pelo menos uma dose da vacina contra covid-19. Na próxima terça-feira (15), o Estado completa um mês do início da imunização desse público, enfrentando ainda muitos obstáculos para vacinar essa faixa etária. A lentidão para aplicar as doses nas crianças ocorre devido a vários fatores, como dificuldade de acesso aos locais onde é feita a imunização, poucos locais para a aplicação das doses para esse público, receios de pais vacinarem seus filhos e disseminação de notícias falsas (fake news), o que contribui para a hesitação vacinal infantil.

Segundo o Painel de Acompanhamento Vacinal, do governo de Pernambuco, são 1.182.44 crianças de 5 a 11 anos residentes no Estado. Desse total, 234.293 iniciaram o esquema vacinal, o que corresponde a 19,81% desse grupo etário. Até o último dia 10, o Programa Estadual de Imunização (PEI-PE), do Ministério da Saúde, recebeu 640.380 doses de vacinas (Pfizer pediátrica e CoronaVac) para os pequenos de 5 a 11 anos. Dessa maneira, Pernambuco só aplicou 36,5% das doses recebidas para essa faixa etária.

Em reunião com prefeitos na última quinta-feira (10), durante assembleia extraordinária da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), o secretário Estadual de Saúde, André Longo, destacou a necessidade de os municípios intensificarem a vacinação, principalmente quanto ao público infantil. “Precisamos adiantar o processo de vacinação nas crianças a partir dos 5 anos de idade. Sabemos que há resistência por parte dos pais e responsáveis, mas não podemos retroceder neste aspecto. É muito importante que o estímulo à vacinação seja trabalhado pelos municípios e pelas secretarias municipais de saúde junto às famílias e, sobretudo, no ambiente das escolas públicas, sendo utilizadas como espaços para a imunização de crianças e adolescentes”, disse Longo.

No Recife, até o momento, foi vacinado contra a covid-19 um total de 37.274 crianças entre cinco e 11 anos, o que representa menos de um quarto (23,3%) de cobertura vacinal. Segundo estimativa do Ministério da Saúde, baseada no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a capital pernambucana tem 159.558 crianças nesta faixa etária.

Para acelerar a imunização desse público, a Prefeitura do Recife lançou, na sexta-feira (11), o Parquinho da Vacina, ação itinerante voltada às crianças de 5 a 11 anos e que conta com um miniparque de diversões para atrair os pequenos. No sábado (12), o Parquinho da Vacina esteve na Creche Municipal Esperança, nos Torrões, Zona Norte da cidade; no domingo (13), na Escola de Referência em Ensino Fundamental Caic Creusa Barreto Dornelas Câmara, em Santa Luzia, na Torre, Zona Oeste.

No Parquinho da Vacina, a expectativa da Secretaria de Saúde municipal é imunizar, pelo menos, 500 crianças em cada dia de ação, que acontece sempre das 8h às 16h. No primeiro dia (11) da iniciativa, contudo, a vacinação superou as expectativas e chegou a 642 crianças que receberam a primeira dose contra covid-19. A ação segue o mesmo mote de outras já lançadas pela Prefeitura do Recife, voltadas para o público adulto, como o Caldinho da Vacina e Carro da Vacina. Todas as localidades que receberão as ações serão escolhidas a partir de critérios de ocupação, vulnerabilidade e dificuldade de acesso. Durante as atividades, as equipes da Secretaria de Saúde do município realizarão o cadastro das crianças no Conecta Recife e farão a aplicação da dose na mesma hora, sem necessidade de agendamento.

Em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, a adesão à vacinação infantil contra covid-19 também está baixa. “Estamos com cerca de 15.000 crianças imunizadas, o que corresponde a uma cobertura de 18,5%. A estimativa é de 81.178 crianças de 5 a 11 anos moradores na cidade”, informa a secretária de Saúde de Jaboatão dos Guararapes, Zelma Pessôa. Ela acrescenta que o município tem vacinando nas escolas, onde há cerca de 37 mil alunos de 5 a 11 anos. “Fizemos uma parceria com a Educação, e as equipes ajudam no cadastro das crianças da escola e do bairro. Além disso, estamos com vacinação em duas policlínicas, e há três pontos estratégicos específicos pra a vacinação infantil contra a covid-19.”

Maioria quer filhos vacinados contra a covid-19

Mais de 80% dos pais querem vacinar os filhos contra a covid-19. Foi o que mostrou o resultado do estudo VacinaKids, promovido em novembro e dezembro de 2021 pelo Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). O levantamento teve como objetivo avaliar a intenção de pais ou responsáveis por crianças e adolescentes em vaciná-los para a prevenção da infecção pelo coronavírus, a fim de compreender o posicionamento e motivações que permeiam essa tomada de decisão. A pesquisa contou com 15.297 participantes de todo o Brasil: foram cerca de 70,55% da região Sudeste, 11,13% da região Sul, 8,27% da região Nordeste, 7,6% da região Centro-Oeste e 2,4% da região Norte.

Os dados apontam hesitação de 16,4% de pais de crianças entre 0 e 4 anos, de 14,9% de pais de adolescentes e de 12,8% de pais de crianças entre 5 e 11 anos. “Trazer a vacinação desse grupo contra a covid-19 é uma oportunidade para conter o vírus, fortalecer a imunidade de rebanho, aumentar a segurança do retorno escolar presencial e, o mais importante, proteger as crianças e adolescentes”, destaca a coordenadora do estudo, Daniella Moore, que é a pediatra e pesquisadora clínica do IFF/Fiocruz.

Embora os pais hesitantes sejam minoria, a pesquisadora esclarece que algumas crenças e pensamentos foram vistos associados com alto percentual de hesitação entre aqueles que:

  • Afirmam terem muito medo de reações adversas à vacina
  • Subestimam a gravidade da pandemia
  • Acreditam que quem teve covid-19 não precisa vacinar
  • Discordam que a vacina tornaria o retorno escolar mais seguro
  • Acreditam que a imunidade natural é uma opção melhor de proteção do que a vacina
  • Acreditam que a vacina precisa de mais tempo para ser considerada segura
  • Acreditam que as crianças/adolescentes não têm nenhuma chance de ficar grave se tiver covid-19
  • Preferem usar produtos naturais para aumentar a imunidade do que vacinar
  • Acreditam que a vacina possa ter efeitos adversos a longo prazo
  • Acreditam que a vacina para prevenção da covid-19 é mais segura para adultos do que para crianças

Diante das crenças e dos pensamentos associados à hesitação identificados no Estudo VacinaKids, a pesquisadora esclarece alguns pontos. “O relatório (do Centro de Controle de Doenças, dos Estados Unidos) mostra que aproximadamente 8,7 milhões de doses da vacina Pfizer-BioNTech Covid-19 foi administrada em crianças nessa faixa etária, durante o período de 3 de novembro a 19 de dezembro de 2021. Entre essas 8,7 milhões de doses, foram notificados 4.249 eventos adversos, o que representa apenas 0,049% das doses aplicadas. A grande maioria (97,6%) dos efeitos notificados foi leve a moderado, como dor no local da injeção, fadiga ou dor de cabeça. Ou seja, a vacina é, de fato, segura e os dados comprovam a sua segurança, mostrando, na sua maioria, efeitos adversos que mães e pais já têm experiência em lidar com outras vacinas do calendário vacinal”, conta Daniella.

A disseminação de notícias falsas também tem contribuído para a hesitação vacinal infantil. Por isso, as questões precisam ser analisadas e devidamente esclarecidas. “Compreender esses dados é fundamental para a elaboração de estratégias que aumentem a adesão e contribuam para que possamos atingir a imunidade coletiva e, dessa forma, superar a pandemia”, ressalta a pesquisadora.

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