Especial de Ano Novo: O militarismo e as oligarquias Sá e Sampaio comandam a política de Salgueiro por muitas décadas

02/01/2024

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Por Machado Freire

 

O comando político-administrativo do município de Salgueiro, exercido inicialmente  por militares, passou ao longo de muitas décadas – desde sua emancipação em abril de 1864,  a ser disputado pelas famílias Sá e Sampaio, que  apoiaram o golpe militar de 1964.

 

Ex-deputado e ex-prefeito Severino Alves de Sá
Ex-deputado e ex-prefeito Romão de Sá Sampaio
Ex-prefeito Cornélio Parente Muniz (Conelito) : 3 Mandatos

 

 

 

 

 

 

Ex-prefeita Creuza Pereira do Nascimento : 3 Mandatos

 

Ex-prefeito Paulo Afonso Valença Sampaio : 2 Mandatos
Prefeito Marcones Libório de Sá : no exercício  do terceiro mandato

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Não seria  novidade (nem exagero) dizer que a Salgueiro Grande de Veremundo Soares  “ja nasceu” conservadora. Sua origem foi  marcada pela dominação coronelesca e patriarcal, quem sabe, uma herança nada  revolucionária (no bom sentido da palavra ) do período imperial.

O  correto seria  afirmar que  o poder político em Salgueiro  sempre foi  disputado   nas urnas e nos conchavos ao longo de  quase 200 anos  (desde o final do século 19) , tendo sofrido  uma profunda influência (e consequência) dos períodos da República Velha, Revolução de 1930  e durante os 20 anos da ditadura  militar  de 1964, defendida  pelas famílias   Sá e Sampaio, que ainda hoje   “brigam” pelo comando da prefeitura, o  inesquecível “objeto de desejo’  das duas oligarquias.

Não  precisa acrescentar  muita coisa para  se ter a certeza que Sá e Sampaio vivem politicamente- durante muitas décadas na sombra do poder,  como se não existisse outra  alternativa  importante  além da politica profissional. Tanto verdade que, para confundir e atrapalhar  cada vez mais a cabeça do eleitorado,  os dois grupos – que na pratica  são a mesma coisa,  criaram os apelidos  nada simpáticos de zebra e leão : os Sá são apelidados de e zebras e seus adversários são chamados de leões.

Os grupos originários do coronelismo , da Arena e do PDS   apostam, confiam e acreditam nas torcidas que “trabalham” para eles   ao longo de mais de trinta anos,  defendendo os  nomes daqueles   que sobrepujam o poder, seja como oposição ou  situação.

Os  puxa-sacos  e apaniguados das zebras e leões  recebem em troca algumas  migalhas e  empregos  temporários.  Só que todo mundo sabe  “quem é quem ” na cidade.

 

” Militarismo” marca a criação do município

Ora,  30 de abril de 1864  é  a data que a freguesia de Santo Antônio do Salgueiro foi elevada à condição de município  pela Lei Provincial nº 580, tendo como primeiro intendente o Major Raimundo de Sá (filho do Cel. Manuel de Sá, fazendeiro  e pai de Raimundo de Sá, menino que desapareceu durante mais de uma semana e foi encontrado “por milagre”,  são e salvo, debaixo de um pé de Salgueiro).

Nas informações  que seguem abaixo, destacamos a participação de coronéis, capitães e majores colocados  como chefes do poder político  local, a partir de 1892,  como se nenhum cidadão civil fosse capaz de assumir a administração do município:

  • | Coronel Romão Filgueira Sampaio (primeiro prefeito eleito) período 1892 a 1895
  • | Capitão Cornélio Gomes de Sá | período 1895 a 1898
  • | Tenente Coronel Francisco Noberto de Barros | período 1899 a 1905
  •  | Major Gomes de Sá | Período 1906 a 1910
  • | Capitão Joaquim Alves Gondim (Faleceu) |período 1918
  • | Benjamim Oto Soares | período 1919 a 1922
  • 11º | Capitão Veremundo Antonio  Joaquim Soares | período 1925 a 1928 |
  • 13º | Junta Governativa Revolucionária composta por Joaquim Araújo, Álvaro de Lima Soares e Alberto Soares dos Santos | período 1930.
  • 14º | Capitão Manoel Correia de Menezes (Nomeado pelo interventor de Pernambuco Carlos de Lima Cavalcante) | período 1930 a 1932.
  • 15º | Alberto Soares (Deposto) | período 1932 a 1933.
  • 16º | José Vitorino de Barros (Nomeado, eleito e deposto) período 1934 a 1937
  • 17º | Pelo Golpe de Estado de 1937, assumiu Francisco Correia, este passou o cargo para ao Interventor Luiz Soares Diniz | período 1937 a 1946.

Francisco Correia -que tem seu nome em uma rua da cidade, foi apenas uma figura decorativa, usada  para oficializar a intervenção de Luiz Soares Diniz, filho do coronel Veremundo Soares,  que teve  uma  duração de nove longos anos, na época em que  Agamenon Magalhaes, filho de Serra Talhada,   mandava e desmandava em Pernambuco.

 

Presença da família Soares

Mesmo antes do capitão e depois  coronel da Guarda Nacional Veremundo Antonio  Joaquim Soares se tornar uma figura proeminente na economia e na política de Salgueiro, seu irmão e também  filho do padre Antonio Joaquim Soares (o padre velho),  já havia experimentado um pouco da política do município:  trata-se de  Bejamim Oto Soares, que   administrou  Salgueiro no período de 1919 e 1922.

O próprio Veremundo Soares, quando ainda era capitão,  administrou a prefeitura de Salgueiro  de 1925 a 1928.  Depois foi a vez do seu parente Alberto Soares, tornar-se  prefeito para o   curto período de 1932 a 1933 (foi deposto), enquanto   Osmundo Idalino Bezerra exerceu o mandato de prefeito de 1947 a 1951.  Finalmente, Raul Soares,  filho do velho coronel,  exerceu o mandado de prefeito de  1951 a 1955, encerrando o ciclo dos Soares no poder.

 

Disputa entre Sá e Sampaio ocorre desde os primórdios

 

No que pese  a família Soares ter assumido o comando da prefeitura de Salgueiro  durante cinco vezes – inclusive com uma intervenção que durou nove anos,  a história mostra  que na verdade os Sá e Sampaio  vêm travando uma disputa ferrenha  desde os primórdios.

Exemplo disto é que  o coronel Romão Filgueira Sampaio  foi o primeiro prefeito eleito de Salgueiro para o período de 1892 a 1895Três  anos depois,  a família Sá colocou um representante no comando da prefeitura, na pessoa do  capitão Cornélio Gomes de Sá,  no período de 1895 a 1898.

A família Sampaio teve sua primeira participação no comando do município de Salgueiro com um representante civil, através do prefeito  Gumercindo Filgueira Sampaio  que atuou no  período de  1922/1925. Desenove anos  depois, em 1944, Audisio Rocha Sampaio  assumiu a prefeitura,  por nomeação,  em substituição  ao interventor Luiz  Soares Diniz.

Em 1955, Gumercindo Filgueira Sampaio  voltou ao comando da prefeitura de Salgueiro trinta anos depois do primeiro mandato,  sendo substituído,   em  1959,  pelo ex-interventor Audisio Rocha Sampaio, eleito  para um mandato  que se encerrou  em 1963, no advento do golpe militar de 1064.

Dez anos depois da gestão de Audísio  Rocha Sampaio  (em 1973) Salgueiro elegeu o  ex-deputado estadual Romão desd Sá Sampaio (PTB) para uma gestão  que foi até 1977.  O ex-parlamentar e ex-prefeito morreu em 2008.

A família Sampaio voltou a ser representada no comando da prefeitura de Salgueiro por Paulo Afonso Valença Sampaio (filho de Romão de Sá Sampaio), em dois períodos:  de 1982/1988 e  1997/2000.

A  história reservou muitos capítulos interessantes  sobre as  famílias Sá e Sampaio na longeva disputa da prefeitura do município que teve poucos representantes na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Dos Sá e Sampaio, apenas Severino Alves de Sá e Romão de Sá Sampaio,  que eram parentes bem próximos,  tiveram apenas um mandato de deputado, e um mandato de prefeito, cada. Severino Alves de Sá foi eleito deputado estadual no pleito de 1947, pelo PSD.

No espaço sobre a   participação da família Sá  no comando da prefeitura de Salgueiro aparece  o  capitão Cornélio Gomes de Sá como o segundo gestor do município, no  período 1895 a 1898.  A partir da década de 1960 os  Sá passaram a somar  um considerável capital político, com a eleição do médico e ex-deputado estadual Severino Alves de Sá,  (1963/1969).

 

Mas a política mudou de figura a partir da eleição de Cornélio Parente Muniz (Cornelito) com o apoio de Severino Alves de Sá e com quem rompeu antes do final do primeiro mandato,  no período de 1969/1973.  Cornelito voltou ao comando da prefeitura para mais dois mandatos:  1977/1982 e 1989/1992 sem nenhum compromisso com a família Sá, ficando bastante claro que ele passou para o time dos leões.

O grupo da família Sá apostou na fidelidade da professora Creusa Pereira do Nascimento (ex-secretária de Severino Sá e também de Cornelito)  que foi prefeita do município  em três mandatos:  1993/1996, 2001/2004 e 2005/2008.

As vitórias contabilizadas  por Creuza Pereira fortaleceram  o grupo da família Sá que elegeu o médico Marcones Liibório de Sá para três mandatos :  2009/2012, 2013/2016. Marcones foi eleito para o terceiro mandato em 2020 e  aparece desejoso de disputar o quarto mandato nas eleições de outubro deste ano.

O grupo da família Sá sofreu um grande tropeço na  eleição  de 2016,  que colocou no poder o neófito Clebel Cordeiro de Souza, empresário do ramo de funerária que hoje reside  em Petrolina.

Comenta-se na cidade -e arredores,  que a sucessão do atual prefeito de Salgueiro  deve ser muito dificil, tendo em vista  a falta de unidade tanto da situação  como  por parte da oposição

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