Tristeza e solidariedade marcam fase final da demolição de prédio em Olinda

02/05/23

JC/  Em colaboração com Cinthia Ferreira e Michael Carvalho, da TV Jornal
blogfolhadosertao.com.br

Prédio desabou parcialmente na última quinta-feira (27), deixando seis mortos. Só agora, edifício está sendo demolido

WELINGTON LIMA/JC IMAGEM
Demolição do Edifício Leme chega à fase final nesta terça-feira (2) – FOTO: WELINGTON LIMA/JC IMAGEM

Chegou á fase final a demolição do Edifício Leme, em Olinda, cujo desabamento parcial na última quinta-feira (27) deixou 11 vítimas – das quais seis morreram. Apesar do trabalho ter previsão para ser finalizado no fim desta semana,  já restava pouco da estrutura nesta terça (2).

A operação tem sido marcada pela emoção dos antigos moradores – pessoas vulneráveis que, sem ter para onde ir, ocuparam um prédio condenado há 22 anos, que já deveria ter ido abaixo.

Isso porque a maioria dos pertences dos apartamentos não puderam ser salvos, apesar dos esforços do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco (CBMPE) em recolher o que pôde. Com risco eminente de novos desabamentos, ninguém pôde adentrar a estrutura.

“Todas as minhas coisas tão ai. Uma air fryer e microondas que comprei recentemente, o acolchoado de cama, que há 15 dias eu trabalhei, peguei 150 reais para comprar. Bastante coisa de eu trabalhar também está aí”, disse, aos prantos a ambulante Iraneide Campos da Silva.

De lá, Iraneide só conseguiu resgatar uma sacola com alguns doces de vendia na rua. Todo o resto, fruto de muito suor, foi perdido.

Há três dias, uma máquina demolidora vem derrubando toda a estrutura do Edifício Leme. Nesta terça, uma escavadeira hidráulica fez uma rampa para que o maquinário alcançasse os andares mais altos.

A dona de casa Maria Monique também não salvou nada material – mas teve a cadela Bela de volta para os seus braços no domingo (30), em um resgate cuidadoso feito pelos Bombeiros. Por enquanto, ela está na casa de amigos e reclama da falta de assistência do poder público.

“Perdi absolutamente tudo. Não deu tempo de tirar nada. Ficou celular, carteira, documentação para trás. Agora, vamos pedir força a Deus e começar tudo de novo. Os vizinhos que estão se mobilizando, porque não temos apoio de ninguém”, contou.

De fato, os sobreviventes têm contado com a solidariedade. Pessoas de várias partes da Região Metropolitana do Recife se sensibilizaram e estão fazendo doações.

Uma moradora do bairro trouxe cestas básicas e fez questão de entregar pessoalmente. Já moradores de um prédio na mesma rua onde a tragédia aconteceu transformaram o condomínio numa em uma central de arrecadação.

“Estamos solidários para arrecadação de alimentos, brinquedos, o que for possível; principalmente cesta básica e ração para os animais que foram resgatados”, disse a enfermeira e vizinha Mariana Azeredo.

O Aposentado Edvaldo Maciel veio de Rio Doce trazer roupas doadas. Ele se emocionou ao ver a situação dos moradores. “Pobre sofre muito. o órgão público só valoriza essas pessoas quando quer voto”, criticou.

TRAGÉDIA

Na última quinta-feira (27), por volta das 22h, o Edifício Leme, que fica na Rua Acapulco, no bairro Jardim Atlântico desabou parcialmente. Um incêndio começou no local em consequência do desastre. O Corpo de Bombeiros de Pernambuco foi acionado para dar início aos resgates.

Onze vítimas foram retiradas dos escombros pelas equipes de busca e salvamento do Corpo de Bombeiros da quinta até o sábado (29). Do total de pessoas atingidas, cinco foram resgatadas com vida e encaminhadas a hospitais e serviços de saúde. As outras seis foram vítimas fatais: quatro do sexo feminino e duas do sexo masculino, com idades entre 13 e 60 anos de idade.

Dois homens de 45 e 53 anos permanecem internados no Hospital da Restauração (HR), na área central do Recife.

Gabriel Ferreira/JC ImagemBombeiros conseguiram retirar um passarinho (galo de Campina)  dos escombros do Edifício Leme, em Jardim Atlântico – Gabriel Ferreira/JC Imagem
INTERDIÇÃO

De acordo com a Prefeitura de Olinda, o Edifício Leme foi interditado pela Defesa Civil em 2000, após uma vistoria conjunta entre Estado, Município e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

“Em seguida, os órgãos exigiram da seguradora do imóvel a demolição do mesmo. A mesma seguradora também é responsável pela vigilância do prédio que deveria proibir a ocupação”, afirmou.

“A Prefeitura de Olinda atua junto à Justiça, a fim de obrigar as seguradoras a executarem as demolições. Dezenas de ações foram movidas pela Procuradora do Município. Como exemplo, têm-se os casos dos edifícios Verbena e JK, onde a Caixa Seguradora, responsável pela Guarda e Conservação dos prédios, foi obrigada a demoli-los, relocando eventuais ocupantes”, continuou, na nota.

“Hoje, no entanto, existem casos em que a Justiça já determinou a demolição do imóvel, após a ação da Prefeitura, porém a seguradora se recusa a dar cumprimento à ordem judicial. E isso mesmo sendo cobrada multa diária no caso de descumprimento”, disse a gestão municipal.

OUTROS EDIFÍCIOS EM RISCO

A reportagem do JC identificou que há outros prédios nas proximidades do Edifício Leme também ocupados por famílias em déficit habitacional, que correm risco de morte por eventuais novas tragédias.

São exemplos disso o Edifício Alan Antônio, onde moram 24 famílias, e o Edifício Marquês Felipe, onde vivem outras sete – ambos no bairro de Jardim Atlântico.

Por isso, o Movimento Nacional de Luta Por Moradia (MNLM) e a Organização E Luta dos Movimentos Populares de Pernambuco (OLMP) marcaram um protesto na frente da Prefeitura de Olinda na próxima quinta-feira (4), a partir das 10h, para pedir por soluções habitacionais para essas famílias.

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