Retorno de Bolsonaro ao Brasil reúne poucos manifestantes e ex-presidente se dá conta que regalias são reduzidas

31/03/23

Por Romoaldo de Souza/JC

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Aliados entoam refrão dizendo que o capitão voltou – FOTO: PL/Divulgação

Imagine você morando em um condomínio de luxo, muito verde por perto, próximo de tudo, segurança e conforto. Só que o seu vizinho é chegado a umas extravagâncias e é um bolsonarista daqueles que faz de tudo por sua paixão. Uma delas, ele abre o baú do Corolla sedan, 2020 – tipo “tiozão” – às 7h00 de uma quinta-feira de céu claro e toca uma vinheta: “Oh, capitão voltou!” em mais de 100 dB (decibéis) de altura. Só para se ter uma ideia, uma conversa normal se passa em torno de 20 dB. Foi assim que os moradores do condomínio Solar de Brasília foram despertados.

Momentos antes, um avião tinha aterrissado no aeroporto internacional Juscelino Kubistchek, trazendo à bordo o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), vindo de Orlando, nos Estados Unidos. Era a primeira vez que colocava os pés no Brasil após 89 dias no exterior. “Chega tremi de raiva”, disse uma vizinha na quadra em frente. “Eu pensei, meu Deus, será que vai ser esse inferno todo dia? Ninguém merece um barulho desse.” De acordo com as regras aprovadas na assembleia do Solar de Brasília, “o respeito ao silêncio é nossa maior referência para convivermos em harmonia”. O artigo 19º trata das penalidades e diz que quem desrespeitar normas de convivência como silêncio, jogar lixo nas ruas, passear com cachorro sem coleira “poderá sofrer de uma advertência até multa pecuniária que pode chegar a um salário mínimo [R$ 1.212]”.

Ao lado da guarita de entrada do condomínio, está localizada a paróquia Sagrados Corações de Jesus e Maria, onde um grupo de orações se reúne toda quinta-feira. Contritos, os fieis pedem proteção a São João Clímaco, o santo do dia. Em uma de suas obras, “A Escada do Paraíso”, o abade escreve sobre as paixões e o paraíso “As paixões, se forem purificadas, revelam ao homem o caminho para Deus, com energias unificadas por meio da ascese e da graça”. Essa é a esperança que move moradores do Solar de Brasília. Eles só querem que o apaixonado bolsonarista não repita as traquinagens da manhã.

O imóvel onde o ex-presidente vai morar com a família: a mulher, Michelle; a filha do casal, Laura; e, Letícia Firmo, filha da ex-primeira-dama com o engenheiro Marcos Santos, é uma casa rosada com dois pavimentos. Está distante 12 quilômetros do Palácio do Planalto, onde Bolsonaro despachou por quatro anos. São 400 metros quadrados de área construída e outros 800 metros quadrados de área verde. A aluguel mensal será de R$ 12 mil. A taxa de condomínio é de R$ 600, “mas sempre tem uma taxa extra” disse um vizinho dos Bolsonaros. Tudo à custa do Partido Liberal.

O refrão “Oh, capitão voltou!” também foi ouvido na sede do PL, no início da manhã. De Michelle Bolsonaro, o ex-presidente recebeu uma adocicada saudação: “meu lindinho!” e uma foto nas redes sociais sapecando um beijo no rosto do marido.

Antes do embarque, Bolsonaro disse à CNN que vai trabalhar “duro” para fazer oposição do governo do PT. “Eu fiquei quase três meses aqui, quase em silêncio, mas infelizmente o Brasil não vai bem. Os números mesmo dizem isso”, afirmou. Quando o relógio marcava 6h38, o trem de pouso baixou e a aeronave 737 MAX 8 da Gol, tocou a pista molhada pela garoa típica dessa época do ano na região do Planalto Central. Bastaram aparecer as primeiras fotos e a internet foi tomada por comentários irônicos: “chegou Lord Voldemort”, vilão da saga “Harry Potter” personagens das histórias da escritora britânica J. K. Rowling. É que o avião ironicamente era temático das histórias do menino mago. Voldemort tenta, sem sucesso, matar Herry Potter. Do outro lado do cordão de isolamento, certa de 300 bolsonaristas cantavam o Hino Nacional e gritavam “mito!” “mito!”

Ao chegar à sede do partido, Bolsonaro encontrou-se com parlamentares como o deputado federal Coronel Meira (PL-PE), o ex-ministro e candidato a vice-presidente, general Walter Braga Netto, e o senador Magno Malta (PL-ES) entre outros. “O Parlamento está nos orgulhando pela forma de se comportar, de agir, fazendo realmente o que tem que ser feito e mostrando para esse pessoal que por ora e por pouco tempo está no poder que eles não vão fazer o que bem quer com o futuro da nossa nação”, disse Bolsonaro. Foi aplaudido!

O ex-presidente falou do futuro político, alfinetou o presidente Lula e reclamou da falta de segurança. Ele tinha feito consulta à Casa Civil da Presidência da República e foi informado de que não havia previsão de que recebesse veículos blindados fornecidos pelo governo federal. “A gente fica preocupado. Eu não tenho peito de aço. Vou tentar buscar um carro blindado pra mim. Agora, não é atitude racional por parte desse governo que está aí”, reclamou. Ex-presidentes da República têm direito a utilizar os servidores de quatro servidores que poderão ser assessores e segurança e dois motoristas. Nenhum do ex-presidentes usa veículo blindado. Bolsonaro já delegou a assessores que providenciem carros blindados para transportá-lo, “nem que eu tenha que pagar”, disse o ex-presidente.

No final da tarde, Bolsonaro foi conhecer a casa nova, levou quase uma hora para fazer um percurso de menos de 20km. Um acidente grave, nas imediações do condomínio Solar de Brasília deixou o trânsito na DF 001 travado. Ontem Bolsonaro se deu conta que já não tem mais batedores da Polícia do Exército e da Polícia Rodoviária Federal que saiam abrindo o trânsito para comboio passar.

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