08/05/22
Por Maria Priscila Martins
blogfolhadosertao.com.br
A descoberta foi realizada no município de Ibimirim, no sertão de Pernambuco
No Nordeste do Brasil, há apenas duas ocorrências de dinossauros do período Jurássico. A primeira, anteriormente vista como a ocorrência de dinossauro mais antiga da região, coletada na década de 1960, ocorreu em Petrolândia, também no Sertão de Pernambuco. Entre essa descoberta, registrada para o período Jurássico Superior (de 145 até 163 milhões de anos atrás), e a mais recente, realizada pelo paleontólogo Leonardo M. de Oliveira, há uma janela de 20 a 25 milhões de anos. O Dilophosaurus é mais “velho”, com ocorrência determinada no Jurássico Médio, que vai de 163 a 174 milhões de anos atrás.
“Estávamos fazendo um trabalho de mapeamento geológico, em que a gente só via as rochas, além de coletar fósseis diversos. Mas calhou de encontrarmos esse fóssil, que já tínhamos a expectativa de encontrar há muito tempo”, relembrou Leonardo.
A descoberta do novo dinossauro foi fruto do mestrado de Leonardo, que explicou que a idade do fóssil encontrado se deu por conta da formação rochosa onde ele foi encontrado. “O nosso é o mais antigo do Nordeste, porque o de Petrolândia foi encontrado em uma rocha acima da nossa. E, por conceito de geologia, a idade da rocha de cima é mais nova que a rocha de baixo”.
O princípio da sobreposição define que a camada mais jovem de formação rochosa é a mais alta, a “de cima”. A formação analisada pelos cientistas no momento de encontro do fóssil foi a formação aliança, já anteriormente definida como do período Jurássico.
“Essa formação ocorreu durante a separação do Brasil e da África, em que gerou uma depressão (região mais rebaixada em comparação ao seu entorno) nessa região, que vai do sul da Bahia até o sul de Pernambuco, e essa região culminou em um grande lago. Nesse lago, foram se depositando várias rochas em que se formou a aliança”, explicou.
O dinossauro encontrado provavelmente fazia parte da fauna que circundava o lago formado na depressão. “Foi nessa região mais rebaixada em que esse lago se originou. Era um lago onde viviam diversos peixes, ósseos e cartilaginosos, tubarões, além de crocodilo e diversas faunas que podiam circundar esse lago à procura de água e alimentação, o que poderia ter sido o caso desse dinossauro”, completou o pesquisador.
De acordo com Leonardo, no Brasil, existem poucos dinossauros do período Jurássico. “O que é bem conhecido são dinossauros do Cretáceo no Nordeste, mas os que não são tão conhecidos, porque faltam rochas do período Jurássico no Brasil todo, são os dinossauros do período Jurássico. Por isso, além de ser o dinossauro mais velho já encontrado no Nordeste, o nosso também é um dos mais antigos do Brasil”, comentou.
Orientador do trabalho, o professor e paleontólogo Edison V. Oliveira informou que o animal descoberto é o primeiro comparável com a Família Dilophosauridae descoberto no Brasil. “A gente notou que essa vértebra lembrava muito a de um dinossauro descrito lá no período do Jurássico Inferior da América do Norte, do Texas, chamado Dilophosaurus. Ele só tinha ocorrência lá nos Estados Unidos”, informou Edison.
Por mais que as espécies sejam comparáveis, inicialmente a pesquisa não pôde definir ainda qual a espécie encontrada.
“Essa espécie que a gente coletou aqui a gente não definiu ela, porque a gente só tem uma vértebra. Então, por enquanto, a gente não poderia definir que espécie é. Mas, das espécies descritas na literatura, a que é mais parecida com a nossa é esse Dilophosaurus lá dos Estados Unidos”, completou Edison.
De acordo com Edison, a área da formação aliança já indicava a presença de dinossauros por ser do período Jurássico, mas a descoberta ainda não tinha acontecido. “Fósseis nessa formação já são encontrados há muitos anos, pelo menos desde o século 20 já se tinha coletado resto de peixes, de tubarões de água doce, de crocodilos, e estava faltando o dinossauro”.
A pesquisa ainda contou com a participação do pesquisador Gelson L. Fambrini, da área de geologia na UFPE.
Retorno
Os próximos passos para os pesquisadores é uma outra visita à Ibimirim, onde o local de encontro da vértebra será delimitado e novos fósseis do mesmo dinossauro serão procurados.
“O que a gente precisa exatamente agora é voltar àquele local e tentar coletar outros fósseis desse animal. Coletar mais vértebras, dentes, seria ótimo se a gente coletasse crânio, o que tiver lá dele, se a gente conseguir coletar, vai ser ótimo”, explicou Edison.
Esse retorno deve ser feito ainda neste mês de maio, de acordo com paleontólogo Leonardo.