O Blog Folha do Sertão teve, agora, com surpresa, acesso ao conteúdo da “carta de despedida” do saudoso pároco de Salgueiro, Padre Domingos França Dourado, que atuou por mais de vinte anos no Sertão Central, à época sob a jusrisdição da Diocese de Petrolina, onde religioso nascido na Bahia teve sua ordenação sacerdotal.
A carta deixada por Padre Domingos, com a lacônica frase “Minha despedida”, os termos colocados no seu conteúdo, onde o sacerdote não “toca” no nome de nenhuma pessoa, a não ser às associações localizadas em distritos e povoados, além da frase irônica “desculpem o que fiz mal pelo bem que fiz e … …”depois de longo e tenebroso inverno”, volto à minha terra natal, à velha Bahia, Bahia de todos os Santos e de mil encantos”…
Segue, abaixo, na integra o documento histórico, cujo rico conteúdo merece ser bem estudado e avaliado por leigos e militantes da política e da Igreja Católica:
MINHA DESPEDIDA
E assim “depois de longo e tenebroso inverno”, volto à minha terra natal, à velha Bahia, Bahia de todos os Santos e de mil encantos
Em uma madrugada que já vem bem perto, à proporção que a luz benfazeja da manhã for iluminando o meu caminho, sozinho, como tenho vivido, irei deixando o Salgueiro em definitivo.
Por carta, ainda no começo do ano, como era o meu dever, comuniquei ao Sr. Bispo essa decisão irreversível, tomada há cerca de dois anos, e só concretizada agora, porque, de minha parte, era ponto de honra deixar a Paróquia como vou deixando na realidade, isto é: como nunca esteve, tanto sob o ponto de vista material como religioso.
O Sr. Bispo não quiz me responder por outra carta, preferindo tratar do assunto pessoalmente, quando me pediu para não sair, tendo feito o mesmo, o Vigário Geral, mas como, já me referi pouco acima, minha resolução era mesmo irreversível.
E assim “depois de longo e tenebroso inverno”, volto à minha terra natal, à velha Bahia, Bahia de todos os Santos e de mil encantos.
Durante mais de duas décadas, o povo do Salgueiro contou com um timoneiro que sustentou com firmeza o leme do barco
Procurei tratar a todos com igualdade incondicional, ricos e pobres, gente do campo e da cidade, chegando mesmo a imprimir, nesse particular, um novo “Modus Vivendi” à paróquia.
Como Paulo de Tarso, “omnia meqa mercum porto” _ tudo que é meu levo comigo, que não é grande cousa, a saber: dentro do Volks verde, meu cachorrinho negro, o televisor e alguns volumes sobre assuntos diferentes.
Trabalhei com denodo, como nunca tinha trabalhado antes de chegar aqui e como não trabalharei, saindo daqui; durante 14 anos trabalhei de dia e de noite.
No meu paroquiato verificou-se o maior acontecimento Sócio – Religioso do interior de toda a Diocese: o Congresso Eucarístico Paroquial, como também, o maior acontecimento Sócio – Cultural de Salgueiro: a inauguração do colégio “Dom Malan”, em três dias de festividades.
Reformei a Casa Paroquial, a Igreja Matriz e construí a segunda escola da cidade, em tamanho, autêntico patrimônio que rendeu, em 74, Cr$ 18.000,00e neste ano de 75 vai render uns Cr$ 20.000,00. Dei, portanto, liberdade econômica a Paróquia.
Foram mais de duas décadas de dedicação, de doação.
Afora os dias de férias, o restante do tempo estava, não apenas à disposição, mas, de plantão para o que desse e viesse, no setor paroquial.
Levo uma grata recordação dos camponeses que sempre me receberam em suas residências modestas, com tanto carinho e calor humano, como se fosse eu um parente amigo que voltasse de longas terras.
Minha despedida naturalmente se estende também as capelas de Salgueiro: Verdejante e Grossos, Malhada – de – Areia e Lagoa, Vasque e Conceição; igualmente à Serrita, que sempre teve comigo uma atenção especial, sem me esquecer de suas capelas; Cedro e Santa Rosa, Mameluco e Oré, Espírito Santo e Ipueiras.
Devo incluir minha despedida Petrolina, onde comecei a estudar, onde me ordenei e onde comecei a trabalhar.
Deixo uma palavra, não apenas de despedida, mas também de agradecimento, às associações religiosas, que tanto me ajudaram no trabalho da evangelização e conscientização do povo.
Finalmente, desculpem o que fiz mal pelo bem que fiz e …. Adeus e adeus em definitivo.
Pe. Domingos França Dourado
(ex – vigário de Salgueiro)
Em tempo: o conteúdo da carta foi publicado, dia 19, pelo Blog Alvinho Patriota.
Foi com muita saudade e orgulho que senti ao ler essa matéria na “Folha do Sertão “. Sou sobrinha e afilhada de batismo do referido Pé. Domingos .
Temos muitas fotografias que guardam a memória das construções, inauguração e festas religiosas dessa época. Se alguém de Salgueiro se interessar , poderá entrar em contato comigo pelo e-mail abaixo. Inclusive poderemos até doar algumas dessas fotos.
Caríssima Margarida Maria Pimenta Dourado.
Ficamos muito honrados em receber o seu comentário, que lembra uma pessoa muito querida deste editor da Folha do Sertão. Vamos entrar em contato para conversarmos mais sobre a memória do meu querido amigo Padre Domingos Fraça Dourado.